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  • A perigosa idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida
    quinta-feira, maio 25, 2006

    Daniel C. Dennett
    Rio de Janeiro: Rocco, 1998
    609 páginas
    Por Solange Henriques
    É quase impossível ficar indiferente à "perigosa idéia" de Charles Darwin. A teoria da evolução pela seleção natural já despertou intensos debates, críticas ferozes e adesões fervorosas, e ainda hoje há quem a conteste. Mas para o filósofo Daniel Dennett, o caminho é inevitável: "no devido tempo, a revolução darwiniana acabará ocupando um lugar (...) tranqüilo nas mentes - e corações - de todas as pessoas cultas do globo".
    Em seu livro A perigosa idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida, Dennett fala sobre o incômodo que o evolucionismo causou desde a publicação de A origem das espécies, em 1859. E mostra que foram os preconceitos filosóficos, mais que a falta de comprovação científica, que impediram os cientistas de perceberem que a hipótese levantada pelo naturalista inglês poderia estar certa.
    Dennett não esconde seu desprezo pelo criacionismo. Segundo ele, "o Deus bondoso que amorosamente moldou cada um de nós (todas as criaturas grandes e pequenas) e salpicou o céu com estrelas brilhantes para nosso encanto - esse Deus é, como Papai Noel, um mito da infância, nada em que um adulto de mente sã e sem ilusões possa acreditar literalmente", desafia o autor, nas primeiras linhas de sua obra.
    No início do livro, Dennett fala sobre o contexto filosófico no qual a teoria darwiniana surgiu e do potencial revolucionário do evolucionsimo para o fim do século XIX. Para tanto, toma como base o pensamento de John Locke e David Hume. O autor mostra que os preconceitos estavam bastante arraigados no pensamento da época, o que acabou retardando a aceitação da idéia de Darwin. Somente depois de muitos comprovações científicas é que sua hipótese ganhou o devido respeito.
    "Charles Darwin não pretendia preparar um antídoto para a paralisia conceitual de John Locke, ou explicar a grande alternativa cosmológica que quase frustrou Hume. Uma vez tendo lhe ocorrido a grande idéia, Darwin percebeu que sem dúvida ela teria essas conseqüências realmente revolucionárias, mas no início ele não estava tentando explicar o significado da vida, ou mesmo sua origem. Seu objetivo era um pouco mais modesto: ele queria explicar a origem das espécies.", comenta Dennett.
    Dennett prossegue com a explicação da teoria de Darwin, com uma linguagem clara e contemporânea. Ele relaciona, por exemplo, a evolução a um processo algorítmico, que envolve hereditariedade, variação e seleção. Com esses três elementos, a evolução seria um resultado inevitável.
    Na segunda parte da obra, o filósofo aponta os questionamentos feitos à obra de Darwin. Com uma argumentação estruturada, demonstra que a teoria da evolução não só sobrevive como sai revigorada de todos os desafios.
    A última parte do livro mostra como o pensamento darwiniano aplica-se ao homem. Darwin sabia que a inclusão do homem na teoria evolucionista seria um choque para a sociedade da época, por isso não tocou muito no assunto quando publicou sua obra. "Ele quase não menciona nossa espécie em A origem das espécies (...). Mas, é claro, isso não enganou ninguém. Era óbvio o rumo que a teoria estava tomando, e por isso Darwin trabalhou muito para produzir a sua própria e cuidadosamente elaborada versão antes que críticos e céticos enterrassem o assunto em meio a deturpações e avisos de alerta", observa Dennett.
    Sem ignorar os protestos, Dennett deixa claro que a idéia de Darwin aplica-se ao homem em muitos aspectos, inclusive na questão da linguagem, do conhecimento e da ética. Afinal, a teoria da evolução seria como um "ácido universal", que corrói quase todos os conceitos tradicionais e deixa uma visão de mundo revolucionada.
    posted by iSygrun Woelundr @ 7:00 da tarde   0 comments
    (new age) A Conspiração Profética da Nova Era
    sexta-feira, maio 12, 2006
    Foi com o livro do americano David Spangler, "Revelation: The Birth of a New Age", em 1976, que o tema da Nova Era se colocou de forma moderna ás gerações contestárias e ás subculturas alternativas dos países ricos de língua anglo-saxonica. A Revelação de uma nova era surgia num contexto muito específico dos anos setenta do século vinte: o da guerra fria e da ameaça do nuclear. Spangel desde muito jovem havia tido experiências espirituais de comunicação com o mundo invisível e os seus estudos antroposóficos e teosóficos, na linha de Alice Bailey, forneceram-lhe o contexto filosófico e esotérico para interpretar essas visões e transformá-las num ideário de luta espiritual e renovação ecosocial.

    Foi com a sua chegada a Inglaterra em 1970 e a sua canalização de uma entidade chamada "Amor e Verdade Sem Limites", pouco depois em 31 de Julho desse mesmo ano, e a sua participação na criação da Findhorn Foundation na Escócia, que o seu ideário filosófico e espiritual ganhou raízes numa prática espiritual comunitária de cooperação com os Devas, os seres etéricos criadores do mundo material, e se estendeu ao resto do mundo. David Spangler, como Aleister Crowley, cria a premissa da chegada de um mundo novo a partir de uma revelação espiritual que lhe foi comunicada espiritualmente, mas a sua obra entrosa-se dentro da tradição gnóstica e esotérica cristã.

    Partindo das leituras de Steiner e Bailey, Spangler aceita a ideia de que a Energia de Cristo tem estado a impregnar a Terra desde há duzentos anos e que o seu processo de materialização estava então acabado, tornando essa força de transfiguração acessível a todos os humanos, sem qualquer necessidade de intermediários eclesiásticos. É isto que ele chama a Segunda Chegada de Cristo nas suas eloquentes palavras: "ele caminha entre nós, embora vestido de energia etérica, e a sua presença acelera a vida etérica e espiritual de todos aqueles que se possam abrir numa atitude de paz e amor e, em resposta, erguer-se ao seu nível". Esta chegada da Força Crística acontece no plano etérico, o plano das Forças de Vida, que na Hierarquia Angelica dos universos corresponde àquela que se sucede ao do próprio mundo material e é responsável por todos os fenómenos de fertilidade terrestre.

    Desta maneira a força Crística tornava-se também o motor de uma ecologia sagrada e de uma nova maneira de viver. Num mundo em pleno terror quanto á escassez dos recursos do planeta, em plena poluição ecológica e sob o desafio da guerra nuclear, surge uma nova geração que acredita que está eminente uma transformação da Terra. Contudo essa transformaçao só se tornará possível através da cooperação humana consciente com as forças Dévicas. A comunidade de Findhorn torna-se um sucesso, mas também o motivo de polémicas: construída numa zona de areias, onde era impossível a prática da agricultura, Spangler e os seus ecologistas místicos conseguem através de processo meditativos de cooperação dévica criar um jardim de abundância, com os seus pomares e os seus jardins que fascinaram os agrónomos mais incrédulos.

    A data de 1967 é considerada desde então como a data da emergência da Era de Aquário, baseada em premissas meramente convencionais da astrologia. No entanto, muitos destes místicos e ecologistas centrados na antroposofia pensam que esta data é apenas o impulso gestativo que preparou a verdadeira emersão do Aguadeiro na Convergência Harmónica de 16 e 17 de Agosto de 1987, data aliás curiosa porque celebratória da Deusa Diana no antigo calendário romano. Muitos new-agers não acreditam na chegada do Aguadeiro nesta data, como Jean Houston e muitos dos wiccans, como Vivianne Crowley ou Szuanna Budapeste, são unanimes em declarar que a chegada da Era do Aquário ainda está para muito tarde. Isso não impediu que muitos destes wiccans, também escritores, usassem o paliativo new age nos títulos dos seus livros para entrosar o movimento wiccan num novo espirito de religiosidade ressuscitadora do paganismo, tal como a própria Vivianne Crowley e Marian Green fizeram.

    Em todos os casos, seja o esoterismo novo-pagão ou novo-cristão, a Nova Era é considerada um novo despertar da Terra e da Consciência Clarividente, de tal forma que o velho mundo ocidental, racionalista e materialista, se desmoronaria gradualmente sob o "efeito dominó", que se torna famoso então, entre os cientistas e místicos new age, pela designação de "efeito de massa critica". Spangler regressa poucos anos depois em 1973 aos Estados Unidos, mas será o seu livro que fará emigrar a suas ideias para os campus universitários e as comunidades alternativas, muito mais do que o seu regresso à terra natal americana.
    posted by iSygrun Woelundr @ 12:26 da tarde   0 comments
    AS CONFISSÕES, DE SANTO AGOSTINHO.
    quinta-feira, maio 04, 2006

    AS "CONFISSÕES" DE SANTO AGOSTINHO. UMA LEITURA A PARTIR DA PSICOLOGIA E SUA VISÃO DE PSICOLOGIA E RELIGIÃO.


    "Noli foras ire, redi ad te ipsum
    in interiore homine habitat veritas".
    Santo Agostinho(i)
    "Vocatus atque non vocatus, Deus aderit".
    Escrito por Jung na porta de entrada de sua casa(ii)
    1 - PSICOLOGIA E RELIGIÃO
    - O fenômeno religioso
    Para se fazer um estudo da relação existente entre psicologia e religião é preciso antes de mais nada aproximar-se do fenômeno religioso que se apresenta na atualidade marcado por tal complexidade que só pode ser compreendida a partir de uma visão interdisciplinar.
    O fenômeno religioso apresenta-se hoje, no limiar do Terceiro Milênio, como uma explosão de religiosidades e espiritualidades provocando um novo interesse pela religião. Dada a complexidade do fenômeno do sagrado e das religiões é preciso estudá-lo segundo pontos de vista diversos a fim de se ter uma imagem mais clara, diferenciada e realista do que está acontecendo.1,2(1,2iii)
    Hoje, o termo religião não se refere somente à "relação do ser humano com a divindade e a virtude pela qual tributa a Deus o culto e a adoração que lhe são devidos" mas o fato religioso, enquanto fenômeno humano que tem acompanhado o homem ao longo de sua história e que constitui o objeto da história das religiões e outras ciências atuais.
    Assim, a religião sofre na modernidade e pós-modernidade uma crítica em várias níveis:(iv)
    1 - A crítica ilustrada - a partir da Iluminismo e a predominância da razão.
    2 - A crítica social - que tem em K.Marx o seu expoente mais forte - a religião como ópio do povo
    3 - A crítica antropológica - a religião como obstáculo fundamental para que os homens alcancem o seu ideal - I.Kant, L. Feurbach, F.Nietzsche na filosofia e S.Freud na psicologia. Jung, mesmo com a visão distinta de Freud, fará sua crítica à religião neste nível.
    O fato religioso precisa ser estudado ainda sob outros ângulos como por exemplo: o diálogo inter e intra religioso, a fenomenologia da religião, a sociologia da religião e a filosofia da religião.
    1.2 - Psicologia e religião
    1.2.1 - Indicações históricas(v)
    Coloca-se como data do surgimento da psicologia da religião como ciência o ano de 1882 quando G. Stanley Hall (1844-1924) publicou um estudo sobre educação moral e religiosa para crianças. No entanto é preciso remontar às fontes desta ciência nas relações entre psicologia e religião encontradas nas tradições religiosas como é o caso das Confissões de Agostinho (354-430); nos escritos dos filósofos como Jonathan Edwards (1703-1758). F. Schleiermacher (1768-1834), S. Kierkegaard ( 1813-1855), A.Ritschl (1822-1889), sendo que se pode chegar aos escritos socráticos e platônicos. Merece ainda destaque D.Hume ( 1711-1776) com a História natural da religião; L.Feuerbach (1804-1872) e A essência do cristianismo (1841).
    Temos várias tradições (escolas):
    1 - Tradição Anglo-americana - Francis Galton, G.Albert Coe, G.Stanley Hall, William James (1842-1910) e o seu conhecido As variedades da experiência religiosa. Estudos predominantes numa linha filosófica.
    2 - Tradição Alemã - F.Schleiermacher com o conhecido Sobre a religião (1799);W.Wundt (1832-1920) com o Mito e Religião (1905-1909); S.Freud (1856-1939) com Ações obsessivas e práticas religiosas (1907) e Totem e tabu, Moisés e monoteísmo, O.Pfister (1873-1956); A.Adler, E.Fromm, Viktor Frankl. Jung tem amplos conhecimentos nesta tradição. Predomina a crítica psicanalítica da religião.
    3 - Tradição francesa - J.M.Charcot (1825-1893), P.Janet (1859-1847), T.Ribot (1830-1916), H.Delacroix (1873-1937), T.Flournoy (1854-1920) com Psicologia religiosa (1910). Predomina a crítica da religião como psicopatologia.
    4 - Tradição italiana - Sante De Sanctis (1862-1935), Agostino Gemelli (1878-1959). Predomina a visão psicopedagógica da religião.
    1.2.2 - Finalidade e influências da Psicologia da religião
    A finalidade da Psicologia da religião é dentre as várias definições " a investigação das experiências, atitudes e expressões religiosas, observando-as e analisando-as com a ajuda das diversas técnicas às quais a toda a psicologia deve recorrer ( análise codificada de documentos pessoais, questionários e escalas de atitudes, testes projetivos, observações sistemáticas de comportamento, entrevistas, escalas de análise semântica e inclusive análise profunda mediante a aplicação de métodos clínicos."(vi)
    Encontramos vários ramos neste estudo: a psicologia religiosa evolutiva, a psicologia pastoral, a psicologia da experiência religiosa que não são somente nomes distintos da mesma ciência mas apresentam finalidades diversificadas.
    Vemos uma grande influências destes estudos nas mais variadas áreas das ciências que estudam o fato religioso, particularmente a teologia. No que toca à teologia há influências na área da dogmática, da teologia bíblica, da teologia espiritual, da teologia sacramental, da história da Igreja, da teologia da vida religiosa.
    2 - PSICOLOGIA ANALÍTICA E RELIGIÃO
    2.1 - O problema religioso em C.G.Jung (1875-1961)
    Desde sua mais tenra infância, Jung sente-se marcado pelo problema religioso proveniente de sua família já que seu pai era pastor, bem como alguns de seus tios. Para ele este problema apresenta-se polarizado, de um lado, na dimensão objetiva da religião( dogmas, ritos, etc.) e de outro, na sua dimensão subjetiva (experiência religiosa - mistério, fascínio, etc.).(vii)
    Esta dimensão religiosa vai acompanhá-lo por toda a sua vida e marcará de forma definitiva sua obra: para ele a problemática existencial formulou-se em imagens religiosas ( simbolismo).
    É neste contexto simbólico-religioso que podemos entender a sua visão da psique: os arquétipos, o processo de individuação enquanto coniunctium oppositorum ( re-ligação), etc.
    Toda esta visão de Jung assume grande significado no contexto cultural em que vive seja do ponto de vista da psicoterapia seja do ponto de vista da teologia acentuadamente racionalista em sua interpretação da revelação. Jung vai buscar nos humanistas do renascimento e, por conseqüência em Platão e neoplatônicos uma alternativa para o problema humano (religioso) do Ocidente.
    Neste sentido, o seu caminho pode ser visto em três etapas:(viii)
    1 - Primeiro momento - Jung está ligado à concepção freudiana de religião ( sublimação da sexualidade infantil)
    2 - Segundo momento - marcado pela obra Símbolos da Transformação (1911-12) - a distinção entre instintos e arquétipos, sendo a religião colocação no mundo dos arquétipos.
    3 - Terceiro momento - marcado pela obra Psicologia e religião ( 1938) - a partir da análise de séries de sonhos de seus pacientes descobre neles uma característica comum - o fascínio, o terror, o mistério diante do numinoso (linguagem de R. Otto - O sagrado), que para Jung é imagem arquetípica da divindade, do deus interior ( o Self). A religião entendida como experiência religiosa pessoal ( contato com o Self) possui um autêntico valor psicológico no processo de individuação.
    2.2 - Influências posteriores
    A influência da visão junguiana da religião não se restringe à história das religiões ou à mitologia mas chega até a teologia e a hermenêutica bíblica - é uma renovação da teologia no seu todo.
    Assim vemos sua influência em numerosos teólogos protestantes como Hans Schaer, Paul Tillich; católicos como Victor White, Teilhard de Chardin e ortodoxos como Paul Evdokimov.
    Hoje percebe-se tal influxo a partir de uma farta bibliografia envolvendo a teologia onde se destacam as obras de John Dourley e de E.Edinger; a cristologia onde se destaca a obra de Hanna Wolff, a Sagrada Escritura onde se destaca Eugen Drewermann; e outras áreas como a mariologia, espiritualidade, teologia moral, liturgia e teologia sacramentária.
    3 - AS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO
    Tendo considerado o fenômeno religioso e sua relação com a psicologia, a visão de Jung sobre psicologia e religião que possuem íntima relação no processo de individuação passamos à leitura das Confissões de Santo Agostinho.
    Lembramos ainda que a escolha dos tópicos da psicologia analítica parte da importância que eles possuem dentro das Confissões, sendo que existem outros aspectos que poderiam ser mencionados mas que aparecem menos no texto, e esta divisão dos temas é meramente didática já que eles se interpenetram como veremos a seguir.
    3.1 - Santo Agostinho - dados biográficos
    Nasceu em 13 de novembro de 354 em Tagaste, Numídia, filho de Patrício e Mônica, de quem recebeu a educação cristã ainda que ele receberia o batismo somente na Páscoa de 387.
    Sua formação acadêmica deu-se em Tagaste, depois Madaura, e Cartago onde em 371 passa a viver com uma mulher e em 372 nasce o seu filho Adeodato. Em 373 depois de ler Hortensio de Cícero desperta para a filosofia e se torna maniqueu.
    Desenvolve o seu trabalho como professor em Tagaste e depois em Cartago onde abre uma escola de retórica. Em 383 vai para Roma em busca de fortuna, mas ali fica pouco tempo sendo que em 384 vai para Milão como professor de retórica. Em 385 sua mãe vai a Milão para encontrá-lo e ficar com ele. Em Milão ele descobre a Sagrada Escritura a partir de São Paulo, da pregação do bispo Ambrósio e estuda os neoplatônicos a partir de Plotino.
    Sua conversão se dá em 386 e ele renuncia à segunda amante, à noiva e à escola e refugia-se em Cassicíaco com sua mãe, seu filho e amigos. Na Páscoa de 387 é batizado por Ambrósio junto com seu filho e seu amigo Alípio. Logo após, estando em Óstia, esperando a partida para a África, sua mãe morre e ele fica em Roma, partindo para Cartago em 388. Em Cartago, vendo todos os seus bens e passa, com alguns amigos a viver vida monástica e a combater o maniqueísmo.
    Em 396 torna-se bispo coadjutor de Hipona e depois bispo de Hipona com a morte do bispo Valério. Escreve as Confissões em 397 e de 399 a 419 exerce intensa atividade como pastor e escritor - escreve A Trindade neste período. Continua com o seu ataque aos maniqueus, aos donatistas e pelagianistas. Entre 413-425 escreve A cidade de Deus.
    Morreu em Hipona no dia 28 de agosto de 430, deixando mais de 75 obras.
    3.2 - O que são as "Confissões"
    Confissões é a obra-prima e a mais conhecida de Agostinho. Escrita dez anos depois de sua conversão, ela compõe-se de 13 livros. Inicialmente estava composta somente dos nove primeiros livros que são a sua autobiografia, depois foram acrescentados mais alguns livros: o livro X no qual Agostinho faz uma análise psicológica de seu estado de espírito no momento em que escrevia e uma análise e comentário dos primeiro versículos do livro do Gênesis ( livros XI-XIII).(ix)
    3.3 - Análise a partir da psicologia analítica
    3.3.1 - Imagem de Deus
    O tema da imagem tem uma grande importância na psicologia junguiana sendo que é vista como imago termo usado para diferenciar a realidade objetiva de uma pessoa ou coisa, da percepção subjetiva de sua importância, sendo neste caso conseqüência da experiência pessoal, combinada com as imagens arquetípicas do inconsciente coletivo. E como tudo o que é inconsciente, são experimentadas como uma projeção.
    Jung considera ainda as imagens arquetípicas ou primordiais( com relação a uma representação de um arquétipo na consciência) e as imagens anímicas que são representações em sonhos ou outra manifestação do inconsciente , da personalidade interior muitas vezes do animus ou da anima. Ainda com sentido às imagens tem grande importância no trabalho de conhecimento do inconsciente a imaginação ativa.
    Nas Confissões são muito freqüentes as imagens que Agostinho faz de Deus todas as vezes que o invoca mostrando uma relação com o que vimos acima. Deus para ele é conhecido à medida que o homem se autoconhece e neste processo tem grande importância estas imagens que aparecem no texto das Confissões, caracterizadas segundo o momento em que ele estava vivendo.
    3.3.2 - Tipologia junguiana
    Falar da tipologia é falar de um sistema de categorias que explicam as diferenças entre as pessoas a partir de atitudes individuais e de padrões de comportamento.
    A tipologia junguiana apresenta-se como algo original em relação aos modelos tipológicos anteriores e tem servido de modelo para outras aplicações tipológicas posteriores. Isto se deve ao fato de Jung considerar em sua tipologia o movimento da energia e o modo pelo qual habitualmente nos orientamos em nossa vida cotidiana. Esta sua visão distingue-se dos modelos que ele encontrou na literatura, na mitologia, na filosofia e na psicopatologia e que se baseavam nas observações de comportamento temperamental ou fisiológico.
    Partindo de métodos empíricos Jung chegou a classificar os tipos em oito grupos diferentes: duas atitudes da personalidade que são a introversão e extroversão e quatro funções que são pensamento, sensação, intuição e sentimento, as quais podem agir, cada uma delas, de modo introvertido ou extrovertido.
    Agostinho como tipo era pensamento introvertido e o sua conversão só foi possível com uma transformação psíquica, isto é, com conjunção dos opostos, neste caso a função inferior que é o sentimento e sua manifestação ao mundo pela extroversão.(x)
    Ainda que Agostinho tivesse se aproximado da doutrina cristã de modo intelectual existia uma barreira inconsciente que lhe impedia de tornar-se cristão. Jung afirma que para aqueles poucos homens superiores que verdadeiramente se esforçam para seguir a Cristo, a conversão ao cristianismo consistia em sacrificar sua função superior, neste caso de Agostinho, o pensamento.(xi)
    Neste sentido de sacrificar a função inferior, Jung dá como exemplo Tertuliano e Orígenes. (xii)
    Agostinho sacrifica, na sua conversão, o seu intelecto, isto é, o seu orgulho e soberba e se descobre a si mesmo e a Deus pelo caminho do sentimento, descobre que Deus a quem buscava fora sempre estivera dentro dele. A subjetividade é o lugar por excelência para conhecer a Deus, interior a minha própria interioridade e superior ao máximo que existe em mim.
    Assim, a concepção de Deus para Agostinho é de um Deus arquétipo, princípio e fundamento da subjetividade humana, reconhecível, por isto mesmo, a partir da própria interioridade do homem. Trata-se de um princípio que conjuga a suma transcendência e imanência antropológica radical.
    Poderíamos resumir esta sua transformação ou conjunção dos opostos como diz Jung falando de sua renúncia ao magistério, sua vida monástica de um lado, mas de outro lado, sua inúmeras obras marcadas por esta visão psicológica da pessoa humana que hoje é considerada por muitos autores como uma visão das profundas para o seu tempo, pelo fato de ter sido chamado o pai da teologia ocidental e pelo princípio teológico que sintetiza a o encontro do homem com Deus, a transcendência e a imanência : intelligo ut credam , credo ut intelligam ( entendo para crer e creio para entender) - o mistério de Deus está no centro de seu pensamento e de seu sentimento.
    3.3.3 - Complexos materno e paterno
    O conceito de complexo ocupa um lugar central na psicologia junguiana. Para Jung o complexo é um grupo de idéias ou imagens carregadas emocionalmente:(xiii)
    Estes complexos se acumulam ao redor de determinados arquétipos como "mãe", "pai" e por isto é que se pode falar em complexo materno, complexo paterno, complexo de poder, complexo parental ( quando envolve os pais), etc.
    Os complexos em si mesmo, segundo a visão de Jung não são negativos, podendo ser muitas vezes os seus efeitos. O seu efeito negativo aparece normalmente como uma distorção de uma ou outra das funções psicológicas ( sentimento, pensamento, intuição e sensação). Neste sentido é que Jung fala que os complexos é que nos possuem e que se o indivíduo não tem consciência deles, age segundo eles e pode até identificar-se com eles, o que é uma fonte de neuroses.
    Quanto à presença do pai, Agostinho fala pouca coisa, acentuando-se mais a sua ausência, mesmo quando presente fisicamente - ele não se preocupava com o filho e tinha para com Agostinho somente preocupações vãs. Agostinho fala ainda de seu caráter violento e de suas infidelidades conjugais.
    No que se refere à presença da mãe, Agostinho dedica muito mais tempo, sobretudo porque ela aparece como aquela que lhe dá a educação cristã, que se preocupa com sua conversão e com seu batismo até o extremo. Ela vai a Milão para cuidar dele e lá arruma um casamento que lhe fosse digno convencendo-o a despedir sua concubina. Mostra o seu tipo centralizador em outros momentos como em sua casa, na viagem a Milão, na sua vida cristã em Milão, etc.
    Pode-se notar que Agostinho sofreu as influências positivas de seu pai que o queria num lugar de destaque e de sua mãe com sua fé cristã inabalável. No entanto, sofreu também as influências negativas de seu pai de quem herdou sua natureza passional e a falta de uma presença paterna mais atuante. No que diz respeito à sua mãe, nota-se que ela com relação a ele uma atitude centralizadora de tal modo que ele teve seus sentimentos bloqueados e não pode estabelecer uma relação profunda com uma mulher. Mesmo vivendo vários anos com uma concubina, por estar preso á sua mãe não se decidiu a casar com ela. Foi sua mãe que lhe escolheu uma noiva de sua classe social e despediu a mãe de seu filho, se bem que, enquanto esperava pela idade de sua noiva, ele arrumou outra mulher. Sua mãe tinha um animus negativo e por isto se mostrava impositiva ao colocar sua opinião a seu filho ao qual se apegou já que não se saíra bem em seu casamento. Tão forte era sua imposição que o bispo precisou adverti-la a respeito.
    Após sua conversão que acontece depois de uma ruptura com sua mãe de quem ele foge, o seu sentimento, antes a ela ligado, volta-se para Cristo e para a Igreja.
    3.3.4 - Sonhos
    Os sonhos ocupam um lugar de destaque na visão e na prática da psicologia analítica. Jung, inicialmente partindo de Freud, mas depois dele distanciando-se vê nos sonhos uma função do Si-mesmo. Eles refletem sua influência e servem para compensar o estado consciente da pessoa, o que significa que ele questiona a nossa auto-imagem consciente. Isto ocorre quando o sonho traz para a consciência informações, ênfases ignoradas ou abrandadas pelas atitudes conscientes.(xiv)
    Também para Agostinho o estudo dos sonhos é um instrumento importante para a compreensão da psique humana na relação com Deus e o mundo espiritual. Isto se deve ao fato de Agostinho possuir uma visão psicológica e epistemológica baseada num sofisticado dualismo psicofísico em que são considerados dois tipos de realidades essencialmente diversas: uma puramente corpórea ou física e outra não-corpórea ou mental cuja natureza provém do plano do espírito.
    Por isto que sua visão psicológica da percepção é considerada das mais profundas do mundo antigo e podemos ver exemplos disto em Confissões. Para ele o homem é dotado de olhos externos que recebem e intermediam as impressões sensoriais, e de um olhar interior, que observa e lida com as realidades mentais recolhidas e armazenadas que formam a memória. Assim, por meio de visões, transes e sonhos entra-se em contato com um acervo de lembranças inconscientes e conteúdos autônomos, tendo-se acesso a um mundo chamado na época de domínio do espírito e que Jung chamou de psique objetiva. Nenhum ser humano tem poder ou controle sobre esse mundo, os conteúdos dos sonhos e visões são tão objetivos e colocados diante do olhar interno quanto o é a experiência sensorial em relação aos olhos exteriores.
    Importante é o sonho de Mônica quando Agostinho rejeitava os seus insistentes pedidos de conversão:
    "Nesse sonho, viu-se de pé sobre uma régua de madeira, e um jovem luminoso e alegre lhe foi sorridente ao encontro, enquanto ela estava triste e amargurada. Perguntou-se os motivos da tristeza e das lágrimas cotidianas, não por curiosidade, mas para instruí-la, como acontece muitas vezes. E respondendo ela que chorava a minha perdição, ela a confortou, aconselhando-lhe que prestasse atenção e visse que onde ela se encontrava aí estava também eu. Ela olhou e me viu diante de si, de pé, na mesma régua.
    Quando ela me contou o sonho, tentei dizer-lhe que ela não devia perder a esperança de um dia vir a ser como eu. Mas ela me respondeu imediatamente, sem hesitação: "Não, não me foi dito: ' onde ele está, aí estarás tu'. Mas sim: ' onde estás, aí estará também ele".
    Confesso-te, Senhor, tanto quanto posso me lembrar, e nunca o escondi: mais do que o próprio sonho, abalou-me aquela tua resposta, dada por intermédio da solicitude de minha mãe. Ela não se perturbou diante de uma interpretação sutil, porém falsa, e logo percebeu o que devia ser visto e o que eu na verdade não tinha visto antes de ela contar. Por esse sonho, foi anunciada com antecedência, a essa piedosa mulher, para sua consolação na aflição presente, uma alegria que só teria muito tempo depois."(xv)
    3.3.5 - Processo de individuação
    O processo de individuação ocupa um lugar central dentro da psicologia junguiana como o processo de diferenciação psicológica que tem como finalidade o desenvolvimento da personalidade individual.
    A individuação é um processo que se dá a partir do ideal arquetípico da totalidade e depende da relação vital existente entre o ego e o inconsciente ,quando se dá o que Jung chama a função transcendente e que tem papel decisivo no processo de individuação.(xvi) Seu objetivo não é impor-se acima da psicologia pessoal, chegar à perfeição, mas sim, levar à uma consciência da unidade da realidade psicológica, o que apresenta de um lado as forças e limitações pessoais e por outro uma visão mais ampla da humanidade e do mundo.
    O processo de individuação quando acontece de forma consciente leva à realização do self como uma realidade psíquica maior que o ego, mas este processo não se conclui de modo a se poder dizer que alguém está completamente individuado, o seu valor encontra-se exatamente naquilo que vai acontecendo durante o mesmo processo.
    Como pudemos perceber pela análise já realizada acima das Confissões de Agostinho o que vai acontecendo em sua vida é este processo de individuação até chegar à consciência mais profunda que podia alcançar de si mesmo.
    Textos que falam do despertar e da busca de realização:
    "Desejando amar, procurava um objeto para esse amor, e detestava a segurança, as situações isentas de risco. Tinha dentro de mim uma fome de alimento interior - fome de ti, ó meu Deus".(xvii)
    "Como se distribuem na mesma alma a força tão diferente de amores tão variados? Como se pode amar nos outros aquilo que se detesta e não se quer para si, sendo embora igualmente homens?".(xvii)
    "Voltei-me então para a natureza da alma, mas a falsa opinião que tinha sobre as coisas espirituais impedia-me de ver a verdade.[...] Não conseguindo percebê-las na alma, julgava impossível ver o meu espírito".(xix)
    "Depois de ter lido os livros dos platônicos, que me estimularam a procurar a verdade incorpórea, aprendi a descobrir teus atributos invisíveis através das coisas criadas, e compreendi, à custa de derrotas, qual a verdade que eu, imerso nas trevas, não tinha conseguido contemplar".(xx)
    Um dos textos que conta o momento que antecede à sua conversão:
    "Então, em meio à grande luta interior que eu violentamente travava no íntimo do coração contra mim mesmo, e transtornado na alma e na fisionomia, corro para Alípio...[...] ...eu não falava como de costume, e minha fronte, minha face, meus olhos, minha cor, o tom da voz, mais do que as palavras, me denunciavam o estado de espírito.[...]. Para aí fui ( para um jardim) levado pelo tumulto do coração, onde ninguém podia interferir na luta violenta que travava comigo mesmo, e cujo resultado nem eu mesmo conhecia, somente tu. Eu enlouquecia para recuperar a razão, morria para viver, e estava consciente do meu mal, sem saber do bem que viria pouco depois.[...].Eu fremia de violenta indignação contra mim mesmo, por não ceder à tua vontade e à aliança contigo, meu Deus, pela qual todos os meus ossos clamavam, elevando louvores aos céu".(xxi)
    Um texto a respeito do seu estado no momento em que escreve as Confissões:
    "Mas tu, médico de minha vida interior, mostra-me os frutos deste meu trabalho. A confissão de minhas faltas passadas - que perdoaste e esqueceste para me fazer feliz, transformando-me a alma pela fé e pelo teu sacramento - leva, a quem lê e ouve, a não se entregar ao desespero dizendo: não posso. Que esta confissão desperte nele o amor pela tua misericórdia e pela doçura da tua graça, que fortalece todos os fracos e lhe permite tomar consciência da própria fraqueza. Os bons têm prazer em ouvir as faltas passadas de que agora estão livres, não pelo fato de serem faltas, mas porque, tendo existido, já não existem. Senhor, meu Deus, a quem todos os dias a minha consciência se confessa, mais confiante na tua misericórdia do que na sua inocência, mostra-me qual o fruto desta confissão, feita também aos homens na tua presença, não do que fui, mas do que sou agora. Compreendi e já recordei o fruto da confissão do passado. Mas muitos, que me conheçam quer não, desejariam saber o que sou agora, no próprio momento em que escrevo minhas confissões. Já ouviram falar de mim, mas seus ouvidos não me auscultam o coração, onde, de fato sou verdadeiramente eu mesmo. Desejariam, pois, ouvir-me confessar quem sou no meu íntimo, que o olhar, os ouvidos, a intuição não podem atingir."(xxii)
    "Portanto, quando confessamos nossas misérias e reconhecemos tua misericórdia para conosco, manifestamos o nosso amor por ti, a fim de que leves a termo a nossa libertação que iniciaste, e deixando de ser infelizes em nós, sejamos felizes em ti...".(xxiii)
    "...fizeste-nos para ti,
    e inquieto está o nosso coração,
    enquanto não repousar em ti."
    Confissões I,1
    (i)Agostinho, Liber de vera religione, XXIX, 72 - Não vá para fora, volte-se para si mesmo, no interior do homem habita a verdade.
    (ii)Chamado ou não chamado, Deus se fará presente
    (iii)Como exemplo destas abordagens interdisciplinares podemos citar algumas publicações resultantes de Congressos, Semanas de estudos, Seminários, etc.: Cleto. Caliman, (Org.). A sedução do sagrado. O fenômeno religioso na virada do milênio. Petrópolis, RJ. Vozes.1998. que apresenta os estudos da Semana de Estudos promovida entre os dias 27 3 31 de outubro de 1997,pelo Instituto Santo Tomás de Aquino-ISTA- Centro de Estudos Filosóficos e Teológicos dos Religiosos de Belo Horizonte, MG.; Ênio José da Costa Brito; Gilberto da Silva Gorgulho, (Org.). Religião Ano 2000. São Paulo. CRE-PUC-SP. Edições Loyola, 1998.que apresenta estudos dos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
    (iv)Cf. José Antonio Gimbernat,. Religion ( Critica de la) in Cassiano Floristan; Juan-Jose Tamayo, (ed.) Conceptos Fundamentales del cristianismo, Coleccion estructuras e procesos, Serie Religion, Madrid, Editorial Trotta, 1993, .p.1137-1144
    Cf. Eugenio Fizzotti, Verso una psicologia della religione.1.Problemi e protagonisti.Collana Studi e ricerche di catechetica, Leumann (Torino), Editrice Elle Di Ci, 1992. capítulo 4 - "Gli inizi della psicologia della religione" p. 69-116. Ainda para esta visão histórica ver também Benkö Antal, Psicologia da religião, São Paulo, Edições Loyola, 1981. p.9-21; Hans-Jürgen Fraas, A religiosidade humana Compêndio de psicologia da religião,São Leopoldo, Sinodal, 1997. p.13-24
    (vi)Cf. Antoine Vergote, Psicologia religiosa, Ensayistas 58, Madrid, Taurus, 1969, p.14
    (vii)C.G.Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões. Reunidas e editadas por Aniela Jaffé, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1995
    (viiviii)Esta é a visão de Giuseppe de Rosa, in Jung, la religione e il cristianesimo. II - La visione religiosa de Jung in La Civiltà Cattolica 1994, II, p.129-142
    (ix)Para nosso estudo nos servimos da seguinte edição: Santo Agostinho, Confissões, Coleção Patrística 10, São Paulo, Paulus, 1997, 450 p.
    (x)Cf. Marie-Louise von Franz, Sguardo dal sogno. Collana di Psicologia, Milano, Raffaelo Cortina Editore, 1989,p.90-97
    (xi)Importante este texto de Agostinho, Confissões VI,6 - "Desejava ter, em relação a fatos não demonstráveis, a mesma certeza com que dizia que sete mais três são dez. Não era eu tão insensato a ponto de julgar que mesmo essa verdade fosse incompreensível; queria ter, a respeito de todo o resto, a mesma compreensão que tinha sobre isso, tanto em relação às coisas corpóreas não atingidas pelos sentidos, quanto em relação às espirituais, que eu só podia conceber em termos materiais. Só a fé podia curar-me: desse modo, os olhos da minha inteligência já purificada, se dirigiriam à tua verdade imutável e perfeita". É uma antecipação de seu princípio: intelligo ut credam, credo ut intelligam ( entendo para crer, creio para entender).
    (xii)Cf. Jung, Tipos psicológicos, Obras completas VI, par.11-24
    (xiii)Um estudo atual e aprofundado sobre este tema pode ser visto em Verena Kast, Pais e filhas, mães e filhos. Caminhos para auto-identidade a partir dos complexos materno e paterno, São Paulo, Edições Loyola, 1997
    (xiv)Existe uma vasta literatura sobre os sonhos e seu significado dentro da psicologia analítica, particularmente as várias obras de Marie-Louise von Franz sobre o assunto. Nos serviremos somente daquelas que tocam diretamente o tema da psicologia e da religião: Marie-Louise von Franz, Sguardo dal sogno, op.cit.; Antonio Gentili, Anna Maria Vacca, Te i nostri cuori sognino. Per un´arte cristiana del sognare, Collana Dentro il mistero 3, Milano, Editrice Àncora, 160 p.; Morton T. Kelsey, Deus, sonhos e revelação, Interpretação cristã dos sonhos, Coleção Amor e Psique, São Paulo, Paulus, 1996, 466 p.; James A. Hall, Sonhos, símbolos religiosos do inconsciente, São Paulo, Edições Loyola, 1994, 105 p.
    (xv)Agostinho, Confissões, III,20
    (xvi)Cf. Jung,Tipos psicológicos, Obras completas,VI, par.853ss
    (xvii)Agostinho, Confissões, III,1
    (xviii)Agostinho, Confissões, IV,22
    (xix)Agostinho, Confissões, IV,24
    (xx)Agostinho, Confissões, VII,26
    (xxi)Agostinho, Confissões, VIII,19
    (xxii)Agostinho, Confissões, X,4
    (xxiii)Agostinho, Confissões, IV,22
    Vitor Santos
    posted by iSygrun Woelundr @ 4:19 da tarde   0 comments
    UNIVERSO HOLOGRÁFICO, UMA REALIDADE OU FANTASIA, MATRIX...

    Autor: Desconhecido

    Existe uma Realidade Objetiva ou o Universo é um Fantasma?
    Em 1982 ocorreu um fato muito importante. Na Universidade de Paris uma equipe de pesquisa liderada pelo físico Alain Aspect realizou o que pode se tornar o mais importante experimento do século 20. Você não ouviu falar sobre isto nas notícias da noite. De fato, a menos que você tenha o hábito de ler jornais e revistas científicos, você provavelmente nunca ouviu falar no nome de Aspect.
    E há muitos que pensam que o que ele descobriu pode mudar a face da ciência.
    Aspect e sua equipe descobriram que sob certas circunstâncias partículas subatômicas como os elétrons são capazes de instantaneamente se comunicar umas com as outras a despeito da distância que as separe. Não importa se esta distância é de 10 pés ou de 10 bilhões de milhas. De alguma forma uma partícula sempre sabe o que a outra está fazendo. O problema com esta descoberta é que isto viola a por muito tempo sustentada afirmação de Einstein que nenhuma comunicação pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz. E como viajar mais rápido que a velocidade da luz é o objetivo máximo para quebrar a barreira do tempo, este fato estonteante tem feito com que muitos físicos tentem vir com maneiras elaboradas para descartar os achados de Aspect.
    Mas também tem proporcionado que outros busquem explicações mais radicais.
    O físico da Universidade de Londres, David Bohm, por exemplo, acredita que as descobertas de Aspect implicam em que a realidade objetiva não existe, que a despeito da aparente solidez o universo está no coração de um holograma fantástico, gigantesco e extremamente detalhado. Para entender porque Bohm faz esta afirmativa surpreendente, temos primeiro que saber um pouco sobre hologramas. Um holograma é uma fotografia tridimensional feita com a ajuda de um laser.
    Para fazer um holograma, o objeto a ser fotografado é primeiro banhado com a luz de um raio laser. Então um segundo raio laser é colocado fora da luz refletida do primeiro e o padrão resultante de interferência (a área aonde se combinam estes dois raios laser) é capturada no filme. Quando o filme é revelado, parece um rodamoinho de luzes e linhas escuras. Mas logo que este filme é iluminado por um terceiro raio laser, aparece a imagem tridimensional do objeto original.

    Um elétron está conectado com todos os outros em um universo holográfico
    A tridimensionalidade destas imagens não é a única característica importante dos hologramas. Se o holograma de uma rosa é cortado na metade e então iluminado por um laser, em cada metade ainda será encontrada uma imagem da rosa inteira. E mesmo que seja novamente dividida cada parte do filme sempre apresentará uma menor, mas ainda intacta versão da imagem original. Diferente das fotografias normais, cada parte de um holograma contém toda a informação possuída pelo todo.
    A natureza de "todo em cada parte " de um holograma nos proporciona uma maneira inteiramente nova de entender organização e ordem. Durante a maior parte de sua história, a ciência ocidental tem trabalhado dentro de um conceito que a melhor maneira para entender um fenômeno físico, seja ele um sapo ou um átomo, é dissecá-lo e estudar suas partes respectivas. Um holograma nos ensina que muitas coisas no universo não podem ser conduzidas por esta abordagem. Se tentamos tomar alguma coisa à parte, alguma coisa construída holograficamente, não obteremos as peças da qual esta coisa é feita, obteremos apenas inteiros menores.
    Este "insight" é o sugerido por Bohm como outra forma de compreender os aspectos da descoberta de Aspect. Bohm acredita que a razão que habilita as subpartículas a permanecerem em contacto umas com as outras a despeito da distância que as separa não é porque elas estejam enviando algum tipo de sinal misterioso, mas porque esta separação é uma ilusão. Ele argúe que em um nível mais profundo de realidade estas partículas não são entidades individuais, mas são extensões da mesma coisa fundamental.
    Para capacitar as pessoas a melhor visualizarem o que ele quer dizer, Bohm oferece a seguinte ilustração: Imagine um aquário que contém um peixe. Imagine também que você não é capaz de ver este aquário diretamente e seu conhecimento deste aquário se dá por meio de duas câmaras de televisão, uma dirigida ao lado da frente e outra a parte lateral.

    Holograma
    Quando você fica observando atentamente os dois monitores, você acaba presumindo que o peixe de cada uma das telas é uma entidade individual. Isto porque como as câmeras foram colocadas em ângulos diferentes, cada uma das imagens será também ligeiramente diferente. Mas se você continua a olhar para os dois peixes, você acaba adquirindo a consciência de que há uma relação entre eles.
    Quando um se vira, o outro faz uma volta correspondente apenas ligeiramente diferente; quando um se coloca de frente para a frente, o outro se coloca de frente para o lado. Se você não sabe das angulações das câmeras você pode ser levado a concluir que os peixes estão se intercomunicando, apesar de claramente este não ser o caso.
    Isto, diz Bohm, é precisamente o que acontece com as partículas subatômicas na experiência de Aspect. Segundo Bohm, a aparente ligação mais-rápido-do-que-a-luz entre as partículas subatômicas está nos dizendo realmente que existe um nível de realidade mais profundo da qual não estamos privados, uma dimensão mais complexa além da nossa própria que é análoga ao aquário. E ele acrescenta, vemos objetos como estas partículas subatômicas como se estivessem separadas umas das outras porque estamos vendo apenas uma porção da realidade delas.
    Estas partículas não são partes separadas mas sim facetas de uma unidade mais profunda e mais subliminar que é holográfica e indivisível como a rosa previamente mencionada. E como tudo na realidade física está compreendido dentro destes "eidolons", o próprio universo é uma projeção, um holograma.
    Em adição a esta natureza fantástica, este universo possuiria outras características surpreendentes. Se a aparente separação das partículas subatômicas é uma ilusão, isto significa que em nível mais profundo de realidade todas as coisas do universo estão infinitamente interconectadas.
    Os elétrons num átomo de carbono no cérebro humano estão interconectados com as partículas subatômicas que compreendem cada salmão que nada, cada coração que bate, e cada estrela que brilha no céu.
    Tudo interprenetra tudo e embora a natureza humana possa buscar categorizar como um pombal e subdividir os vários fenômenos do universo, todos os aportes toda esta necessidade é de fato artificial e todas de natureza que é finalmente uma rede sem sentido.
    Em um universo holográfico, mesmo o tempo e o espaço não podem mais serem vistos como fundamentais. Porque conceitos como localização se quebram diante de um universo em que nada está verdadeiramente separado de nada, tempo e espaço tridimensional, como as imagens dos peixes nos monitores, também podem ser vistos como projeções de ordem mais profunda.
    Este tipo de realidade a nível mais profundo é um tipo de super holograma no qual o passado, o presente, o futuro existem simultaneamente. Sugere que tendo as ferramentas apropriadas pode ser algum dia possível entrar dentro deste nível de realidade super holográfica e trazer cenas do passado há muito esquecido. Seja o que for que o super holograma contenha, é ainda uma questão em aberto. Pode-se até admitir, por amor a argumentação, que o super holograma é a matriz que deu nascimento a tudo em nosso universo e no mínimo contém cada partícula subatômica que existe ou existirá - cada configuração da matéria e energia que é possível, de flocos de neve a quasars, de baleias azuis aos raios gamma. Deve ser visto como um tipo de "depósito" de "Tudo que é".
    Embora Bohm admita que não há maneira de saber o que mais pode estar oculto no super holograma, ele se arrisca em dizer que não temos qualquer razão para admitir que ele não contenha mais. Ou, como ele coloca, talvez o nível super holográfico da realidade é um simples estágio além do que repousa "uma infinidade de desenvolvimento posterior".

    Segundo David Bohm e agora outros cientístas, o universo é na verdade um super-holograma
    Karl Pribram
    Bohm não é o único pesquisador que encontrou evidências de que o universo é um holograma. Trabalhando independentemente no campo da pesquisa cerebral, o neurofisiologista Karl Pribram, de Standford também se persuadiu da natureza holográfica da realidade. Pribram desenhou o modelo holográfico para o quebra-cabeças de como e onde as memórias são guardadas no cérebro.
    Por décadas, inúmeros estudos tem mostrado que muito mais que confinadas a uma localização específica, as memórias estão dispersas pelo cérebro.
    Em uma série de experiências com marcadores na década de 20, o cientista cerebral Karl Lashley concluiu que não importava que porção do cérebro do rato era removida; ele era incapaz de erradicar a memória de como eram realizadas as atividades complexas que tinham sido aprendidas antes da cirurgia. O único problema foi que ninguém foi capaz de poder explicar a natureza de "inteiro em cada parte" da estocagem da memória.
    Então, na década de 60, Pribram encontrou o conceito de holografia e entendeu que ele tinha achado a explicação que os cientistas cerebrais estavam buscando. Pribram acredita que as memórias são codificadas não nos neurônios, ou pequenos grupos de neurônios, mas em padrões de impulsos nervosos de tipo cruzado em todo o cérebro da mesma forma que a interferência da luz laser atravessa toda a área de um pedaço de filme contendo uma imagem holográfica. Em outras palavras, Pribram acredita que o próprio cérebro é um holograma.
    A teoria de Pribram também explica como o cérebro humano pode guardar tantas memórias em um espaço tão pequeno.
    Tem sido calculado que o cérebro humano tem a capacidade de memorizar algo na ordem de 10 bilhões de bits de informação durante a média da vida humana ( ou rudemente comparando, a mesma quantidade de informação contida em cinco volumes da Encyclopaedia Britannica).
    Similarmente, foi descoberto que em adição a suas outras capacidades, o holograma possui uma capacidade de estocagem de informação simplesmente mudando o ângulo no qual os dois lasers atingem um pedaço de filme fotográfico, e é possível gravar muitos registros diferentes na mesma superfície. Tem sido demonstrado que um centímetro cúbico pode estocar mais que 10 bilhões de bits de informação.
    Nossa habilidade de rapidamente recuperar qualquer informação que precisamos do enorme estoque de nossas memórias se torna mais compreensível se o cérebro funciona segundo princípios holográficos. Se um amigo pede a você que diga o que lhe vem a mente quando ele diz a palavra "zebra", você não tem que percorrer uma gigantesca lista alfabética para encontrar a resposta. Ao contrário, associações como "listrada", parecida com um cavalo e "animal nativo da África" logo lhe vem à mente.
    Uma das coisas mais surpreendentes sobre o processo de pensamento humano é que cada peça de informação parece imediatamente correlacionada com muitas outras - uma outra característica intrínseca do holograma. Por que cada porção de um holograma é infinitamente interligada com todas as outras porções, talvez seja a natureza o supremo exemplo de um sistema interligado.
    A estocagem da memória não é o único quebra-cabeças neurofisiológico que se torna abordável à luz do modelo holográfico de cérebro de Pribram.
    Um outro é como o cérebro é capaz de traduzir a avalanche de freqüências que recebe via sentidos (freqüências de sons, freqüências de luz e assim por diante ) dentro do mundo concreto de nossas percepções. Codificando e decodificando freqüências é precisamente o que o holograma faz melhor.
    Exatamente como um holograma funciona como um tipo de lente, um aparelho tradutor capaz de converter um borrão de freqüências aparentemente sem sentido em uma imagem coerente, Pribram acredita que o cérebro também parece uma lente e usa os princípios holográficos para converter matematicamente as freqüências que recebe através dos sentidos dentro do mundo interior de nossas percepções. Um impressionante corpo de evidência sugere que o cérebro usa os princípios holográficos para realizar as suas operações. A teoria de Pribram de fato tem ganho suporte crescente entre os neurofisiologistas.
    O pesquisador ítalo-argentino Hugo Zucarelli recentemente estendeu o modelo holográfico ao mundo dos fenômenos acústicos. Confuso pelo fato de que os humanos podem localizar a fonte dos sons sem moverem as cabeças, mesmo se eles só possuem audição em um ouvido, Zucarelli descobriu que os princípios holográficos podem explicar estas habilidades.


    Zucarelli também desenvolveu uma técnica de som holográfico, uma técnica de gravação capaz de reproduzir sons acústicos com um realismo quase inconcebível.
    A crença de Pribram que nossos cérebros constroem matematicamente a "dura" realidade pela liberação de um input de uma freqüência dominante também tem recebido grande quantidade de suporte experimental. Foi descoberto que cada um de nossos sentidos é sensível a uma extensão muito mais ampla de freqüências do que se suspeitava anteriormente.
    Os pesquisadores tem descoberto, por exemplo, que nosso sistema visual é sensível às freqüências de som, nosso sentido de olfato é em parte dependente do que agora chamamos de freqüências ósmicas e que mesmo cada célula de nosso corpo é sensível a uma ampla extensão de freqüências. Estas descobertas sugerem que está apenas sob o domínio holográfico da consciência e que estas freqüências são selecionadas e divididas dentro das percepções convencionais.
    Mas o mais envolvente aspecto do modelo holográfico cerebral de Pribram é o que acontece quando ele é conjugado à teoria de Bohm. Se a "concretividade" do mundo nada mais é do que uma realidade secundária e o que está "lá" é um borrão de freqüências holográfico, e se o cérebro é também um holograma e apenas seleciona algumas das freqüências deste borrão e matematicamente transforma-as em percepções sensoriais, o que vem a ser a realidade objetiva? Colocando de forma simples, ela deixa de existir.
    Como as religiões orientais há muito tem afirmado, o mundo material é Maya, uma ilusão, e embora pensemos que somos seres físicos que se movem em um mundo físico, isto também é uma ilusão. Somos realmente "receptores" boiando num mar caleidoscópico de freqüência, e que extraímos deste mar e transformamos em realidade física não é mais que um canal entre muitos do super holograma.

    O oriente já compreendem que o mundo é uma ilusão, ao contrário do ocidente, que se sustenta no mundo físico
    "Paradigma Holográfico" e o Paranormal
    Esta intrigante figura da realidade, a síntese das abordagens de Bohm e Pribram tem sido chamada de "paradigma holográfico", e embora muitos cientistas tenham recebido isto com ceticismo, este paradigma tem galvanizado outros. Um pequeno mas crescente grupo de pesquisadores acredita que este pode ser o modelo mais acurado da realidade científica que foi mais longe. Mais do que isto, muitos acreditam que ele pode solucionar muitos mistérios que nunca foram antes explicados pela ciência e mesmo estabelecer o paranormal como parte da natureza.
    Numerosos pesquisadores como Bohm e Pribram tem notado que muitos fenômenos parapsicológicos se tornam muito mais compreensíveis em termos do paradigma holográfico.
    Em um universo em que cérebros individuais são atualmente porções indivisíveis de um holograma muito maior e tudo está infinitamente interligado, a telepatia pode ser simplesmente o acessamento do nível holográfico. E é obviamente muito mais fácil entender como a informação pode viajar da mente do indivíduo A para a do indivíduo B ao ponto mais distante e auxilia a entender um grande número de quebra-cabeças em psicologia.

    O "paradigma holográfico" propõem que o paranormal faz parte da natureza
    Em particular, Grof sente que o paradigma holográfico oferece um modelo de compreensão para muitos estonteantes fenômenos vivenciados por indivíduos durante estados alterados de consciência. Nos anos 50, conduzindo uma pesquisa em que se acreditava que o LSD seria um instrumento psicoterapêutico, Grof teve uma paciente que de repente ficou convencida que tinha assumido a identidade de uma femea de uma espécie pré-histórica de répteis.
    Durante o curso da alucinação dela, ela não somente deu riquissimos detalhes do que ela sentia ao ser encapsulada naquela forma, mas notou que uma porção do macho daquela espécie tinha anatomia que era um caminho para as escamas coloridas ao lado de sua cabeça. O que foi surpreendente para Grof é que a mulher não tinha conhecimento prévio sobre estas coisas, e uma conversação posterior com um zoologista confirmou que em certas espécies de repteis as áreas coloridas na cabeça tem um importante papel como estimulantes do desenvolvimento sexual.
    A experiência desta mulher não foi única. Durante o curso da pesquisa, Grof encontrou exemplos de pacientes regredindo e se identificando com virtualmente todas as espécies na árvore evolucionária (descobertas da pesquisa ajudaram a influenciar a cena do homem-vindo-do-macaco no filme Altered States). E mais ainda, ele descobriu que estas experiências freqüentemente continham detalhes obscuros que mais tarde vieram a ser confirmados como acurados.
    Regressões dentro do reino animal não são os únicos quebra cabeças entre os fenômenos psicológicos que Grof encontrou.
    Ele também teve pacientes que pareciam entrar em algum tipo de consciência racial ou coletiva. Indivíduos com pouca ou nenhuma educação repentinamente davam detalhadas descrições das práticas funerárias do Zoroastrismo e cenas da mitologia hindu. Em outro tipo de experiências os indivíduos forneciam relatos persuasivos de jornadas fora do corpo, relâmpagos pré cognitivos do futuro, de regressões dentro de aparentemente encarnações de vidas passadas.
    Em pesquisa posterior, Grof encontrou a mesma extensão de fenômenos manifestados em seções de terapia que não envolviam o uso de drogas. Em virtude dos elementos em comum nestas experiências parecerem transcender a consciência individual, além dos usuais limites do ego e/ou as limitações de tempo ou espaço, Grof chamou estas manifestações de experiências transpessoais e no fim dos anos 60 ele auxilou na fundação de um ramo de psicologia chamada "psicologia transpessoal" e se devotou inteiramente ao seu estudo.
    Embora a recém-fundada Association of Transpersonal Psychology conquistasse um rápido crescimento entre o grupo de profissionais de mente similar, e se tornasse um ramo respeitado da psicologia, durante anos nem Grof nem seus colegas foram capazes de fornecer um mecanismo para explicar os bizarros fenômenos psicológicos que eles estavam testemunhando. Mas isto mudou com o advento do paradigma holográfico. Como Grof recentemente notou, se a mente é parte de um continuum, um labirinto que é conectado não somente as outras mentes que existem ou existiram, mas a cada átomo, cada organismo e região na vastidão do espaço e tempo, o fato de que seja capaz de ocasionalmente fazer entradas no labirinto e Ter experiências transpessoais não pode mais parecer estranho.
    "Paradigma Holográfico" e a biologia
    O paradigma holográfico tem também implicações nas chamadas ciências "concretas" como a biologia. Keith Floyd, um psicólogo do Virginia Intermont College, tem pontificado que a concretividade da realidade é apenas uma ilusão holográfica, e não está muito longe da verdade dizer que o cérebro produz a consciência. Mais ainda, é a consciência que cria a aparência do cérebro - bem como do corpo e de tudo mais que nós interpretamos como físico.
    Esta virada na maneira de se ver as estruturas biológicas fez com que pesquisadores apontassem que a medicina e o nosso entendimento do processo de cura poderia também ser transformado em um paradigma holográfico. Se a aparente estrutura física do corpo nada mais é do que a projeção holográfica da consciência, torna-se claro que cada um de nós é mais responsável por sua saúde do que admite a atual sabedoria médica. Que nós agora vejamos as remissões miraculosas de doenças podem ser próprias de mudanças na consciência que por sua vez efetua alterações no holograma do corpo.
    Similarmente, novas técnicas controversas de cura como a visualização podem funcionar muito bem porque no domínio holográfico de imagens pensadas que são muito "reais" se tornam "realidade". Mesmo visões e experiências que envolvem realidades "não ordinárias" se tornam explicáveis sob o paradigma holográfico. Em seu livro, "Gifts of Unknown Things," o biologista Lyall Watson descreve seu encontro com uma mulher xamã indonésia que, realizando uma dança ritual , foi capaz de fazer um ramo inteiro de uma árvore desaparecer no ar. Watson relata que ele e outro atônito expectador continuaram a olhar para a mulher, e ela fez o ramo reaparecer, desaparecer novamente e assim por várias vezes.
    Embora o atual entendimento científico seja incapaz de explicar estes eventos, experiências como esta vem a ser mais plausíveis se a "dura" realidade é apenas uma projeção holográfica. Talvez concordemos sobre o que está "lá" ou "não está lá " porque o que chamamos consenso realidade é formulada e ratificada a nível de inconsciência humana a qual todas as mentes estão interligadas.
    Se isto é verdade, a mais profunda implicação do paradigma holográfico é que as experiências do tipo da de Watson não são lugares comum somente porque nós não temos programado nossas mentes com as crenças que fazem com que sejam.
    Num universo holográfico não há limites para a extensão do quanto podemos alterar o tecido da realidade. O que percebemos como realidade é apenas uma forma esperando que desenhemos sobre ela qualquer imagem que queiramos.
    Tudo é possível, de colheres entortadas com o poder da mente aos eventos fantasmagóricos vivenciados por Castaneda durante seus encontros com o bruxo Yaqui Don Juan, mágico de nascença, não mais nem menos miraculoso que a nossa habilidade para computar a realidade que nós queremos quando sonhamos.
    E assim, mesmo as nossas noções fundamentais sobre a realidade se tornam suspeitas, dentro de um universo holográfico, como Pribram postulou, e mesmo eventos ao acaso podem ser vistos dentro dos princípios básicos holográficos e portanto determinados.
    Sincronicidades ou coincidências significativas de repente fazem sentido, e tudo na realidade terá que ser visto como uma metáfora, e mesmo eventos ao acaso expressariam alguma simetria subjacente.
    Seja o paradigma holográfico de Bohm e Pribram aceito na ciência ou morra de morte ignóbil, é seguro dizer que ele já tem influenciado a mente de muitos cientistas. E mesmo se descoberto que o modelo holográfico não oferece a melhor explicação para as comunicações instantâneas que vimos ocorrer entre as partículas subatômicas, no mínimo, como observou notou Basil Hiley, um físico do Birbeck College de Londres, os achados de Aspect "indicam que devemos estar preparados para considerar radicalmente novos pontos de vista da realidade".
    Tradução do original:
    Reality - the Holographic Universe - 03/16/97.
    Arquivo postado como REALITY.ASC na lista KeelyNet BBS em 24 de fevereiro de 1991.
    Para saber mais sobre Hologramas:
    http://www.herbario.com.br/dataherbfotografia06/holografia.htm
    http://omnis.if.ufrj.br/~coelho/DI/intro.html
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    CONTOS DE FADAS, A EVOLUÇÃO DAS LENDAS.

    PRIMEIRA PARTE
    EVOLUÇÃO DAS LENDAS
    CAPÍTULO I
    GENERALIDADES

    I. — Definições
    A palavra lenda provém do baixo latim legenda, que significa “o que deve ser lido”. No princípio, as lendas constituíam uma compilação da vida dos santos, dos mártires (Voragine); eram lidas nos refeitórios dos conventos. Com o tempo ingressaram na vida profana; essas narrações populares, baseadas em fatos históricos precisos, não tardaram a evoluir e embelezar-se. Atualmente, a lenda, transformada pela tradição, é o produto inconsciente da imaginação popular Desta forma o herói sujeito a dados históricos, reflete os anseios de um grupo ou de um povo; sua conduta depõe a favor de uma ação ou de uma idéia cujo objetivo é arrastar outros indivíduos para o mesmo caminho.
    A fábula é uma narração em verso, cujos personagens são animais dotados de qualidades humanas. As mais célebres fábulas são as de Esopo, La Fontaine e Florian.
    Os contos de animais são fábulas redigidas em prosa.
    O conto é uma narração maravilhosa baseada numa trama romanesca; os lugares não são determinados e os personagens não têm nenhuma precisão histórica; a narração distrai. A lenda é um conto no qual a ação maravilhosa se localiza com exatidão; os personagens são precisos e definidos. As ações se fundamentam em fatos históricos conhecidos e tudo parece se desenrolar de maneira positiva. Freqüentemente a história é deformada pela imaginação popular.
    O mito é uma forma de lenda; mas os personagens humanos tomam-se divinos; a ação é então sobrenatural e irracional. O tempo nada mais é do que uma ficção. Na realidade, essas categorias se embaraçam e os mitos são de uma infinita variedade; relacionam--se às religiões, são cosmogônicos, divinos — ou heróicos. As lendas, com personagens mais modestos, fazem evoluir mágicos, fadas, bruxas, que, de uma maneira quase divina, influem nos destinos humanos.
    2. — Origem
    A lenda, mais verdadeira do que a história, devido à quantidade de ensinamentos humanos, contraria freqüentemente a verdade psicológica; uma abóbora transforma-se em carruagem; um rato, em cocheiro. Entretanto, essas ficções não são nem pueris nem grotescas; elas nos interessam, nos repousam e nos deslumbram. Esse mundo fluido que põe em xeque o nosso mundo real, foi definido pelo bondoso Jean de la Fontaine:
    e até mesmo eu.
    Se me contassem a Pele de burro
    sentiria um extremo prazer(1)
    Este divertimento do povo é sua aspiração secreta, sua busca espiritual de um mundo maravilhoso onde impere o valor do homem, onde as leis, tão detestadas, sejam abolidas. E o encantamento, a volta ao Paraíso Terrestre.
    A lenda existe desde a formação do clã, da sociedade e os temas se desenvolvem com preocupações semelhantes em todas as culturas.
    Essa literatura coletiva pode ser proveniente de um único mito propalado de país em país A Índia foi primeira a nos fornecer o índice escrito desse folclore mundial, o que não implica que a Índia seja o seu berço. Divulgados oralmente, esses contos -foram talvez escritos e conservados em outros países, mas sua mensagem não chegou até nós: por muito tempo ignorou-se as riquezas contidas nas pirâmides cujos segredos ainda não foram completamente desvendados, o que não permitiria aos nossos filhos dizerem que as pirâmides não contêm nenhum segredo.
    Esses contos, transformados, decantados, modificados, foram portanto transcritos nos Vedas, aproximadamente 4.500 anos a. C. base de nossa mais antiga civilização teriam os Arias e o original da compilação é o Pantchatantra (os “cinco livros”). Considerando os animais que falam e as leis da metempsicose, parece ser a fábula um produto espontâneo da Índia. É curioso, contudo, que uma passagem do romance de Merlin esteja reproduzida num conto Indiano (Gulcasapati) e numa compilação de Somadeva. Sinais do budismo aparecem em vários outros lugares e principalmente na grande caridade demonstrada pelos heróis para com os animais.
    Nestes últimos anos, a escola folclorista compilou contos semelhantes aos da Índia, em todos os países. Portanto, os mitos se divulgaram através do tempo e do espaço. A religião grega toma emprestado à religião fenícia, o mito de Adônis e Cibele. Reinhold Kohler e Theodor Benfey ficaram estupefatos ao encontrar os mesmos temas iniciais em todos os países. É verdade que durante sua peregrinação, os contos se transformaram; há a influência do meio, a alteração de certos fatos, lacunas que foram preenchidas e novos motivos surgiram, mas a base da criação continua a mesma; as particularidades locais, muitas vezes morais, fornecem preciosos ensinamentos sobre o povo e sua maneira de pensar.
    A divulgação dos contos talvez nos surpreenda em função da época mas, na realidade, os países se comunicavam entre si muito antes das viagens de Cristóvão Colombo, Magellan ou Marco Polo. Teria havido navegadores, verdadeiros aventureiros, que transportavam ensinamento de uma a outra civilização e o ritmo da vida era assim o mesmo em cada país. A América possuía suas fundições no mesmo período que a Ásia ou a Europa.
    Concluindo, não se pode afirmar que houve uma única invenção, mas apenas a Índia possui os documentos antigos onde nossos mitos estão registrados.
    3. — Os temas
    Transcrição do pensamento do povo, os temas simbolizam suas aspirações. Transposição de sentimentos e desejos humanos a lenda abole o real.
    O homem — infeliz torna-se poderoso. A pastora bela e incompreendida, desposa um príncipe encantado; o sapatinho perdido, emblema de sua beleza, é cultuado na Índia. As mulheres, prisioneiras dos hábitos, vivem sob a dependência do homem: as princesas terão liberdade e o rei será passivo. O subconsciente criou uma “supercompensação” para os nossos sentimentos de inferioridade
    Os mistérios naturais preocupam a imaginação: tudo é maravilhoso, incompreensível, surpreendente e fascinante. Desde o desabrochar da flor até as ondas sorrateiras que dirigimos sem conhecer — a eletricidade — essas manifestações são de uma amplitude desconcertante. O sol e, conseqüentemente, a lua, favorecem com seu culto, a criação de malefícios, de palavras mágicas e de palavras-chave.
    Entretanto, esses conhecimentos só podem ser adquiridos com uma certa iniciação; para comandar os espíritos é preciso instrução e o adepto, depois das provas e dos três estágios (purificação, conhecimento e poder), conhecerá, finalmente, todas as virtudes da câmara secreta. O conto será uma lição mas o mito não poderia se enunciar claramente; elementos conscientes, só instruiriam os iniciados enquanto que o povo veria nisso apenas um divertimento. Naturalmente a bruxaria liga-se a essa magia feiticeira. É a estranha personalidade do diabo. A lenda religiosa deveria se utilizar do antagonismo entre a dualidade da alma humana.
    De acordo com Freud, a sexualidade desempenha um papel primordial no comportamento da sociedade; é representada sob o símbolo do algarismo 3 — a Trindade mística — e o lírio heráldico representaria o órgão macho. A psicanálise interpretará os contos da mesma forma que os sonhos.
    A lenda histórica fundamenta-se em fatos reais, mas o narrador altera a verdade a fim de provar. A lenda do Cid, criada quarenta anos depois da morte do herói, é de composição diferente da de Rolando, escrita duzentos e setenta anos depois de Roncesvales. As suas falhas são flagrantes, bem como nas duas célebres lendas épicas, a Ilíada e a Odisséia.
    Outras lendas estão em formação. Eis a de Cartouche, Mandrin, Jack, o Estripador, Mayerling, o mito de Hitler vivendo num rancho americano é análogo ao de Napoleão. A irmãzinha de Lisieux deu origem, segundo o padre de Ars ou São Vicente de Paula, a uma imensa literatura que não pode desaparecer imediatamente.
    Todavia, nesses ciclos temáticos, raramente um tema se representa no estado isolado; ele se imbrica com vários outros, também mais ou menos modificados. Sendo esses assuntos primordiais inumeráveis, estudaremos apenas alguns mitos principais.
    4. — A pesquisa folclórica
    A palavra folklore foi criada por W. J. Thomas, em 1846. Folk significa povo e lore; saber ou conhecimento. Antigamente os franceses empregavam a expressão: “Tradições Populares”.
    Perrault, quando publicou, na editora Barbin (Paris), em 1697, suas Histoires ou Contes du temps passé, abriu caminho aos irmãos Grimm que compilavam os contos ouvidos da boca dos camponeses de Hesse, em 1810. Walter Scott fez o mesmo na Inglaterra, em 1820, aproximadamente.
    Quando se descobriu, em diferentes países, o mesmo repertório de contos, com pequenas variações de costumes, a atividade dos folcloristas tornou-se intensa. Essa atividade permitiu a interpretação das lendas e principalmente sua classificação; foram unidos entre si e compiladas. Miss Roalfe Cox publicou análises notáveis sobre Cendrillon (Gata Borralheira) e Peau d’Ane (Pele de burro) (Folklore Society, Londres, 1893).
    Com o estudo dessas narrações maravilhosas, a análise das crenças e dos costumes permitiu evocar períodos pouco ricos em comentários. Contudo, o folclore não se interessa unicamente pelo passado; dedica-se também ao presente, tanto em economia política como em instituições, ofícios ou atividades populares. Saintyves assim o definiu: “É a ciência da vida popular no seio de sociedades civilizadas.”
    Embora a explicação dos contos seja mais ou menos fantasista, este método de observação permitiu ligar os fatos uns aos outros de forma que parecessem, de início, disparatados. O folclore permitiu preencher essas lacunas e acompanhar a evolução da psicologia coletiva mesmo fora das grandes civilizações que nunca foram homogêneas. Essa cultura tradicional, devida à massa popular à margem do ensino oficial, tem uma base permanente que, apesar de incompleta, assegurou definitivamente a estabilidade das sociedades sucessivas. Essa camada inferior, verdadeira corrente cultural, transmite-se de geração em geração e é graças a ela que os contos foram conservados.


    CAPÍTULO II
    DIVULGAÇÃO DOS CONTOS

    1 — Teoria das Migrações
    Gaston Paris estudou, depois de Benfey, a migração do contos orientais na literatura da Idade Média. — Cosquin, o inglês Clouston, o alemão Landeau, estabeleceram paralelos entre as novelas de Bocácio e as fontes orientais.
    Buscaram, para cada conto, a estrada percorrida: foi a teoria dos motivos errantes ou a teoria das migrações. Max Müller aponta sempre a Índia como fonte comum e o russo Stassov (1868) diz a mesma coisa e foi por isso criticado pela sua falta de patriotismo.
    É preciso analisar com atenção as semelhanças, as condições históricas, a fim de reconhecer o tema pois se o conto toma de empréstimo o seu motivo ele adquire, de formo mais ou menos rápida, um caráter nacional. Os russos Vesselovski e Vsevolod Miller determinaram as trajetórias dos motivos emprestados e reconheceram uma influência turco-mongólica.
    Joseph Bedier (Fabliaux), conforme a escola antropológica, manifestou dúvidas sobre o método de Benfey; julgou-se que as aproximações fossem vãs e a busca limitou-se ao que ligava essa obra à poesia nacional. O russo Oldenburg, zombando das dificuldades, provou serem os fabliaux oriundos da antiga Índia. O tcheco Polivka e o alemão Bolte forneceram também uma relação dos possíveis paralelos existentes entre cem contos de Grimm (Remarques sur les contes enfantins et familiaux de Grimm - Observações sobre os contos infantis e familiares de Grimm).
    Com efeito, é curioso notar que as aventuras de Ulisses se assemelham às de Sindbad, o marujo e que o prólogo de Mil e uma noites relata a história de uma jovem chinesa, conto budista, traduzido para o chinês no século III (tradução Chavannes, conto n.o 109). Miss R. Coxe, numa monografia, conta quatrocentos variantes de Pele de burro e Gata Borralheira. Além das dos autores já citados, notemos as variantes erguidas por René Basset, Dähnhardt, Adolphe Pictet, Buslaiev e Afanassiev.
    2. — A influência da Índia
    Quando o conto primitivo, ou assim suposto, se libertou de todos os elementos transitórios e permanentes, sua variante foi discernida na literatura hindu, que penetrou na China antes do budismo. A maioria dos contos são encontrados no Extremo Oriente, dois séculos antes da nossa era. A influência budista, as invasões mongólicas contribuíram para a divulgação dos contos hindus que formam a base das coleções folclóricas.
    3. — Migração dos Contos e dos povos
    A migração dos contos nos é desconhecida e podemos quanto muito construir teorias mais ou menos plausíveis conforme nossa imaginação.
    Além da influência budista e das invasões mongólicas, em conseqüência das conquistas árabes, toda a costa barbaresca e a Pérsia sofreram a influência asiática. Eis porque Mil e uma noites têm influência pérsica cuja cultura provinha da Índia. E preciso pesquisar a marcha do conto em relação à marcha do indivíduo.
    A migração dos povos foi estudada por Elliot Smith, Maximo Soto Hall; os antigos egípcios seriam descendentes dos Maias que haviam emigrado para a África. A Atlântida, esse antigo continente, teria formado uma ligação natural entre a Europa e a América. Entretanto, conforme a notável teoria de Wegener sobre a separação dos continentes, a América seria um bloco que se desprendeu da Europa e da África. Realmente essa cisão parece que se produziu antes da aparição do homem. Contudo, se nos referimos ao sábio americano Libbey, que estudou as propriedades radioativas do carbono contido nos vestígios orgânicos (o “C 14”), nossas civilizações datariam de trinta mil anos (época pleistocena). Ora, há trinta mil anos, a Ásia e a América se juntavam: O Alasca e a Sibéria ainda não haviam sido separados pelo estreito de Behring. Canals Frau (Préhistoire de l’Amérique, 1953), é de opinião que grupos de emigrantes asiáticos aventuraram-se nas planícies norte-americanas, numa época imediatamente anterior ao último máximo da glaciação Wisconsiniana. Conforme os geólogos e Antevs, essa última glaciação, denominada Mankato, ter-se-ia produzido aproximadamente em 25.000 a. C.
    Canals Frau supõe que nova onda emigratória asiática tenha-se produzido na época mesolítica; essa civilização esquimó teria, há três ou quatro mil anos, dominado a Sibéria e se teria fixado no litoral ártico da América. Esses homens teriam atravessado a América de norte a sul a fim de atingirem a Terra do Fogo.
    É indiscutível que nossos antepassados viajavam e só a falta de documentos deu origem ao julgamento de que esses povos se ignoravam uns aos outros, Serviam-se das correntes naturais e a expedição Kon Tiki provou ser possível a travessia do oceano, de jangada, desde a América até os Mares do Sul. As monções favoreciam as viagens entre o Oriente e o Ocidente. Os malaios invadiram as ilhas polinésias com a ajuda de grandes vapores providos de balanceiros.
    Os monumentos deixados pelos habitantes da antiga América testemunham uma civilização adiantada injustamente podada em todo o vigor da sua seiva, quando da invasão espanhola, no século XVI. Eis porque, nas margens do Mississipi, os rochedos estão eivados de caracteres que parecem ser fenícios; rochedos trêmulos que evocam monumentos druídicos; no hemisfério austral, imensas ruínas de outeiros assemelham-se às sepulturas do norte da Ásia. A admirável pirâmide de Paplanta, a fortaleza européia de Xochialco, o emprego do cimento no templo situado nas imediações de Santa Fé, fazem supor que a América era conhecida pelas civilizações hindus e européias antes da viagem de Cristóvão Colombo; a tradição deve ter-se apagado um pouco e a mensagem das antigas civilizações nem sempre foi transmitida.
    Eis porque, nas imediações de Montevidéu, uma pedra tumular registra, em caracteres gregos, que um capitão heleno aportou nessa terra americana no tempo de Alexandre. Um contemporâneo de Aristóteles também pisou o solo brasileiro. Nas crônicas, Madoc, filho do príncipe de Gales, abriu velas em 1170, dirigindo-se para o oeste e descobriu terras férteis; porém, já em 942, os normandos haviam aportado na Groenlândia passando pela Islândia. Isto justificaria terem tribos do Missouri também falado a língua céltica. Humboldt admite que os tártaros e os mongóis tenham passado do norte da Ásia às regiões setentrionais da América antes do século VI; os chineses comerciaram com os americanos bem como o cartaginês Himilcon. Salomão e Hiram enviaram os fenícios para as regiões americanas conhecidas, sem dúvida, pelo nome de Ofir e Társis.
    É um erro julgar que os povos antigos eram selvagens e bárbaros; nossa falta de conhecimentos a esse respeito não prova essa asserção. Cristóvão Colombo deve ter ficado surpreendido quando encontrou entre esses “selvagens” a nossa cruz latina que figurava ainda nas esculturas colossais da cidade de Palenque, no México.
    Depois da sensacional descoberta do Vixenu, por René joffroy (1952), compreende-se que o prestígio das artes gregas e italianas estendia-se à Gália céltica. O oppidum do monte Lassois (perto de Châtillon-sur-Seine) seria uma base dessa rota do estanho; e os móveis funerários, as jóias ítalo-gregas do século VI antes da nossa era, a bacia de bronze de fabricação etrusca, encontradas nessa parte setentrional da Borgonha, então somente céltica, colocam um enigma que provoca dúvidas sobre as influências da Etrúria ou das regiões greco-cíticas de passagem pela Grécia.
    Os egípcios conheciam os movimentos planetários e as dimensões do nosso globo terrestre quando Galileu quase foi queimado vivo por ter adotado o sistema de Copérnico. Nossas descobertas modernas já haviam sido precedidas pela Escritura, nossas verdades físicas foram por muito tempo desconhecidas e ignoradas, enquanto que os Livros Sagrados ficam no limite da verdade e na harmonia de nossas mais recentes observações, cuja exatidão são apenas confirmadas por nossas pesquisas científicas; em compensação não havia na Antigüidade a mesma concepção do tempo e do seu emprego de hoje; conhecimentos provinham de uma reflexão amadurecida no recolhimento e no silêncio, alheio a qualquer agitação.
    Além dos mercadores, as guerras muito contribuíram para a divulgação dos contos. Essa divulgação deve-se às conquistas de Alexandre da Macedônia e ao período helênico (do fim do IV ao II séculos antes da nossa era); depois as conquistas árabes (1.o milênio da era cristã) e finalmente à época das cruzadas (do X ao XII séculos).
    A transmissão oral foi muito importante. Foi dessa forma que Pitágoras tomou conhecimento das religiões da Índia, quando já convivia com os magos da Caldéia. Esse sábio grego, contemporâneo de Buda — que talvez tenha encontrado — e de Confúcio, participava das idéias do hindu e do chinês e esses três homens pregavam o mesmo evangelho. As descobertas e os pensamentos existem, pois, no tempo e se transmite de forma desconhecida.
    Walter Scott observa que a impressão era inexistente, os vedas e os edas noruegueses, a Bíblia só foram escritos depois de haverem sido transmitidos oralmente. Deve-se à inspiração popular a criação da Odisséia e dos Niebelungen.
    posted by iSygrun Woelundr @ 3:59 da tarde   1 comments
    A PALAVRA E SEUS MÚLTIPLOS PODERES


    Platão, filósofo que viveu na Grécia entre os anos de
    427 e 347 a.C, disse que a linguagem é um pharmakon.
    O termo grego pharmakon, que originou a palavra
    pharmáco, daí a nossa palavra pharmácia, possui três
    sentidos principais. São eles: remédio, veneno e
    cosmético.
    Platão considerava que a linguagem poderia ser um
    remédio para o conhecimento. Isto por que? Porque é
    pelo diálogo que trocamos idéias, ouvimos opiniões,
    descobrimos e aprendemos coisas novas com os outros. É
    através da comunicação entre semelhantes que podemos
    ver o quanto ignoramos coisas e assim, ampliar nossos
    conhecimentos. A linguagem possibilita a comunicação e
    o diálogo, logo, remedia nossa ignorância. Talvez
    tenha sido por isto que este filósofo, cujos
    pensamentos influenciam até hoje diversas áreas do
    conhecimento, escreveu sua obra em diálogos.
    Disse também ser a linguagem um veneno. Por que
    veneno? Lembremos agora do discípulo de Platão,
    Aristóteles, que viveu na Grécia entre o ano de 384 e
    322 a.C. Aristóteles disse que os animais possuem voz
    (phone) e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem
    possui a palavra (logos) e, com ela, expressa o bem e
    o mal, o justo e o injusto.
    Vemos que ao utilizar-se da palavra, o homem pode
    tanto expressar o bem quanto o mal, o justo e o
    injusto, e principalmente, criar verdades. As palavras
    seduzem quando ditas de forma segura à quem ignora o
    assunto que está sendo tratado. Aqui voltamos a Platão
    e vemos porque a linguagem, a expressão da palavra,
    pode ser um veneno. Um veneno que seduz e nos faz
    aceitar fascinados, o que vimos ou lemos, sem mesmo
    indagar se tais palavras são verdadeiras ou falsas.
    Aqui está uma forma inadequada de utilização da
    palavra.
    Hoje em dia, vemos em vários setores da sociedade, a
    palavra sendo utilizada como uma linguagem venenosa,
    pois envolve a quem a ouve, fazendo-o acreditar e
    seguir, ceder, aceitar, se colocar a disposição de
    quem as expressa. A classe dos eleitores que o
    digam...
    Seguindo nesta mesma linha de raciocínio, podemos
    também nos defender deste veneno, quando indagamos,
    pedimos provas, duvidamos do que ouvimos. Neste caso,
    aquele que utiliza da palavra como forma de linguagem
    sedutora, inicia então um novo discurso, utilizando a
    palavra no outro sentido dado por Platão; o sentido de
    cosmético, maquiagem, máscara... Espertamente se
    esquivando, tentando manter uma mentira maquiada, uma
    ilusão mascarada de verdade.
    A palavra como vimos, tem o poder de esclarecer assim
    como de enganar. De revelar assim como esconder.
    Palavra com sentimento
    Vejamos o que disse o filósofo francês, Jean Jacques
    Rosseau (1712-1778), em seu Ensaio sobre a origem das
    línguas.

    Não é a fome ou a sede, mas o amor ou o ódio, a
    piedade, a cólera, que aos primeiros homens lhe
    arrancaram as primeiras vozes... Eis por que as
    primeiras línguas foram cantantes e apaixonadas antes
    de serem simples e metódicas.

    Vemos aí a relação das palavras com os sentimentos.
    Esta relação fica bem marcada quando utilizada com o
    sentido sagrado. Nas orações, nos rituais, quanto mais
    apaixonadas são pronunciadas as palavras, mas
    profundamente promovem o encantamento do mundo,
    levando a quem as expressa ao encontro com o Divino.
    As palavras sagradas nos levam a mergulhar na
    sacralidade, arrastando-nos para seu interior pela
    força de seu sentido, de sua beleza, de seu apelo
    afetivo. É uma palavra que encanta a nós e ao mundo
    que nos cerca, transformando a ambos.
    A palavra como instrumento do poder sagrado, pode ser
    encontrada nas mais diversas religiões. Aqui no
    ocidente, por exemplo, temos a Bíblia, onde na
    abertura encontramos a força criadora da palavra na
    frase: E Deus disse: faça-se!, e assim o mundo foi
    feito.
    Por ele ter dito, foi feito. A palavra aí demonstrada
    como força divina e criadora.

    O poder da palavra no dia a dia

    No nosso dia a dia, podemos perceber que as palavras
    ditas pelo outro nos atingem seja de forma agradável
    ou não.
    O efeito que ela produzirá em nós, dependerá de nossa
    capacidade de absorve-la, compreende-la e manter ou
    não aquela sintonia.
    Um exemplo: o chefe do seu setor reclama com você. As
    palavras ditas vêm com uma carga de energia muito
    negativa. Se você responder no mesmo tom, completará
    este circuito, se sintonizando com esta carga de
    energia negativa. Mantendo-se em equilíbrio e calado,
    este circuito não será completado, sendo assim, a
    carga negativa se manterá em sua origem, produzindo
    assim posteriormente, uma espécie de curto circuito.
    Podemos perceber que sempre quando nos mantemos
    serenos diante destas situações, a pessoa que disse as
    palavras ofensivas, se sente mal, geralmente logo após
    o gesto, pede desculpas ou por conta de motivos dos
    mais diversos, prefere guardar consigo o mal estar (o
    curto circuito) que é produzido.
    Temos de ter sempre em mente que a palavra tem o poder
    tanto de construir como de destruir, de revelar e
    esconder, de expressar o bem e o mal. Todos nós temos
    a capacidade da fala, utiliza-la da melhor maneira
    para benefício de si mesmo e do outro, cabe a cada um
    optar.
    Lembrando de Caetano: a palavra também tem o poder de
    construir e destruir coisas belas.
    Fernando Martins
    Organizador Local RJ da Pagan Federation International
    http://www.paganfederation.org
    http://www.sam.paganfederation.org
    posted by iSygrun Woelundr @ 3:55 da tarde   0 comments
    MECANICA QUANTICA E ESPIRITUALIDADE.

    De: *Cavaleiro_da_Estrela*
    Entrevista com o físico Amit Goswami
    Transcrição completa da entrevista
    concedida pelo físico Amit Goswami
    ao programa "Roda Viva" da TV Cultura.
    O Roda Viva entrevista o físico nuclear indiano AMIT GOSWAMI.
    Considerado um importante cientista da atualidade ele tem instigado os meios acadêmicos com sua busca de uma ponte entre a ciência e a espiritualidade.
    Amit Goswami vive nos Estados Unidos. É PHD em física quântica e
    professor titular de física da Universidade de Oregon. Há mais de quinze
    anos está envolvido em estudos que buscam construir o ponto de união entre a física quântica e a espiritualidade. Já foi rotulado de místico, pela
    comunidade científica, e acabou acalmando os críticos através de várias
    publicações técnicas a respeito de suas idéias. Em seu livro O UNIVERSO
    AUTOCONSCIENTE - publicado no Brasil - ele procura demonstrar que o
    Universo é matematicamente inconsistente sem a existência de um conjunto
    superior - no caso, DEUS. E diz que, se esses estudos se desenvolverem,
    logo no início do terceiro milênio Deus será objeto de ciência e não
    mais de religião.
    A bancada de entrevistadores será formada por Mário Sérgio Cortella,
    filósofo e dir.em educação, prof. do Depto. Teologia e ciências religião
    da Puc SP; Cláudio Renato Weber Abramo, jornalista e mestre em
    filosofia da ciência; Pierre Weil, educador e reitor da Universidade
    Holísitica Internacional de Brasília; Rose Marie Muraro, escritora e editora;
    Leonor Lia Beatriz Diskin Pawlowicz, jornalista e Pres.da Assoc. Palas
    Athena; Joel Sales Giglio, psiquiatra, ex chefe do Depto.de Psic. Médica e
    psquiatria da Unicamp, analista junguiano da Assoc. Junguiana do Brasil
    e membro da International Assossiation for Analitical Psychology;
    Carlos Ziller Camenietzki, físico, dr. em filosofia e pesquisador do Museu
    de Astronomia do Min. da Ciência e Tecnologia.
    Heródoto Barbeiro: Dr. Amit Goswami, Boa Noite. Inicialmente eu
    gostaria que o senhor dissesse aos telespectadores da TV Cultura, que ao
    longo do século XX os cientistas estiveram ligados muito mais ao materialismo do que à religiosidade. A impressão que eu tenho é que nessa virada para o século XXI, essas coisas estão mudando. O senhor poderia nos explicar o porque dessa aproximação entre a ciência e a espiritualidade?
    Amit Goswami: Com prazer. Esta mudança da ciência, de uma visão
    materialista para uma visão espiritualista, foi quase totalmente devida ao
    advento da Física Quântica. Ao mesmo tempo, houve algumas mudanças em Psicologia transpessoal, em Biologia evolucionista, e em medicina. Mas acho que é correto dizer que a revolução que a Física Quântica causou na
    Física, na virada do século, seria baseada nessas transições contínuas,
    não apenas movimento contínuo, mas também descontínuo. Não localidade.
    Não apenas transferência local de informações, mas transferência
    não-local de informações. E, finalmente, o conceito de causalidade
    descendente.
    É um conceito interessante, pois os físicos sempre acreditaram que a
    causalidade subia a partir da base: partículas elementares, átomos, para
    moléculas, para células, para cérebro. E o cérebro é tudo. O cérebro
    nos dá consciência, inteligência, todas essas coisas. Mas descobrimos, na
    Física Quântica que a consciência é necessária, o observador é
    necessário. É o observador que converte as ondas de possibilidades, os
    objetos quânticos, em eventos e objetos reais. Essa idéia de que a consciência é um produto do cérebro nos cria paradoxos. Em vez disso, cresceu a idéia de que é a consciência que também é causal. Assim, cresceu a idéia da causalidade descendente. Eu diria que a revolução que a Física
    Quântica trouxe, com três conceitos revolucionários, movimento descontínuo, interconectividade não-localizada e, finalmente, somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana normal, o conceito de causalidade descendente, a consciência escolhendo entre as
    possibilidades, o evento real. Esses são os três conceitos revolucionários.
    Então, se houver causalidade descendente, se pudermos identificar essa
    causalidade descendente como algo que está acima da visão materialista do
    mundo, então Deus tem um ponto de entrada. Agora sabemos como Deus, se quiser, a consciência, interage com o mundo: através da escolha das
    possibilidades quânticas.



    Rose Marie Muraro: O que mais me espanta na Física é o problema da
    medição quântica de Heisemberg, que voce, realmente, acha que deve ter um observador olhando e que modifica a realidade, por exemplo, transforma a onda em partícula. Eu gostaria de saber... isso aí houve uma grande briga de Einstein com Niels Bohr. Eu gostaria de saber, em escala cósmica, onde não há observadores, se há um observador supremo, na sua opinião, e se ele cria matéria ou como se faz esse fenômeno?
    Amit Goswami: Essa é a questão fundamental, Rose Marie, porque.. qual é
    o papel do observador? É a pergunta que abre a integração entre Física
    e espiritualidade. Na Física Quântica, por sete décadas, tentou-se
    negar o observador. De alguma forma, achava-se que a Física deveria ser
    objetiva. Se dessem um papel ao observador, a Física não seria mais
    objetiva. A famosa disputa entre Böhr e Einstein, a que se refere essa
    disputa, basicamente, sempre terminava com Bohr ganhando a discussão,
    mostrando que não há fenômeno no mundo a menos que ele seja registrado. Bohr não usou a consciência.. mas atualmente, vem crescendo o consenso, muito lentamente, de que a Física Quântica não está completa, a menos que
    concordemos que nenhum fenômeno é um fenômeno, a menos que seja registrado por um observador, na consciência de um observador. E isso se tornou a base da nova ciência. É a ciência que, aos poucos, mas com certeza, vem integrando os conceitos científicos e espirituais.
    Cláudio Abramo: Em sua fala inicial, o senhor mencionou, deu como fato,
    que teria crescido a idéia de que haveria uma causalidade no sentido
    inverso àqueles do tradicional que se considera, e daí saltou para a
    afirmação de que isso abriria a porta para a entrada de Deus. A minha
    pergunta se divide em duas. Em primeiro lugar, essa idéia cresceu aonde?
    Quem, além do senhor, defende esse tipo de visão de mundo? E... dois, o
    porque Deus entrou aí nessa equação?
    Amit Goswami: Na Física Quântica há um movimento contínuo. A Física
    Quântica prevê isso. Não há dúvida que a Matemática Quântica é muito
    capaz, muito competente, e ela prevê o desenvolvimento de ondas de
    possibilidades, a matéria é retratada como ondas de possibilidades. O modo
    como elas se espalham é totalmente previsto pela Física Quântica. Mas agora temos probabilidades de possibilidades. Nenhum evento real é previsto pela Física Quântica. Para conectar a Física Quântica a observações reais, embora não vejamos possibilidades e probabilidades, na verdade vemos realidades. Esse é o problema das medições quânticas. E luta-se com esse problema há décadas, como eu já disse, mas nenhuma solução materialista, uma solução mantida dentro da primazia da matéria foi bem sucedida.
    Por outro lado, se considerarmos que é a consciência que escolhe entre
    as possibilidades, teremos uma resposta, mas a resposta não é
    matemática. Teremos de sair da matemática. Não existe Matemática Quântica para este evento de mudança de possibilidades em eventos reais, que os físicos chamam de 'colapso da onda de possibilidade em realidade'. É essa descontinuidade do colapso que nos obriga a buscar uma resposta fora da Física. O que é interessante é que se postularmos que a consciência, o
    observador, causa o colapso da onda de possibilidades, escolhendo a
    realidade que está ocorrendo, podemos fazer a pergunta: qual é a natureza da consciência? E encontraremos uma resposta surpreendente. Essa
    consciência que escolhe e causa o colapso da onda de possibilidades não é a
    consciência individual do observador. Em vez disso, é uma consciência
    cósmica. O observador não causa o colapso em um estado de consciência
    normal, mas em um estado de consciência anormal, no qual ele é parte da
    consciência cósmica. Isso é muito interessante. O que é a consciência
    cósmica diante do conceito de Deus, do qual os místicos e teólogos falam?
    Mário Cortella: Uma questão para o doutor Amit que é a seguinte: o
    senhor é originado de uma cultura, que é a cultura da Índia, onde o
    hinduísmo, como religião, tem uma profusão de deuses ou de divindades, ou de deidades. Alguns chegam a falar em 300 milhões de deidades dentro da
    religião hindu. De outro lado, seu pai foi um guru brâmane, o senhor tem
    um irmão que é filósofo. Esta mescla de situações induziu no senhor uma
    compreensão em relação a um ponto de chegada, na religião, partindo da
    Física, ou o senhor já partiu da religião e, por isso, chegou até a
    Física e supõe que a Física Quântica é uma das formas de praticar
    teologia?
    Amit Goswami: Obrigado pela pergunta, porque costumam me perguntar se minha formação como indiano hindu afeta o modo como pratico a Física. Na verdade, fui materialista por um bom tempo. Fui físico materialista dos
    14 anos de idade até cerca de 45 anos. O materialismo foi importante
    para mim. Eu trabalhei com ele, filosofei nele, cresci nele. Eu obtive
    sucesso em Física dentro da Física materialista. Mas quando comecei a
    trabalhar no problema da medição quântica, eu realmente tentei resolvê-lo
    dentro do materialismo. Enquanto todos nós trabalhávamos, falei com
    muitos físicos que trabalhavam no problema (este é o problema mais
    estudado da Física, um dos mais estudados). E todos tentávamos resolver este paradoxo: se a consciência é um fenômeno cerebral, obedece à Física
    Quântica, como a observação consciente de um evento pode causar o colapso da onda de possibilidades levando ao evento real que estamos vendo? A consciência em si é uma possibilidade. Possibilidade não pode causar um colapso na possibilidade. Assim, eu tive de abandonar esse pensamento materialista. Embora fosse interessante, em minha vida pessoal eu sentia necessidade de mudar. Alguns consideraram uma transição de meia-idade, e os dois problemas, crescimento na vida pessoal e o problema da medição quântica, se confundiram, e eu comecei a ver a consciência não apenas como um problema físico, mas também como um problema pessoal. O que é que deixa alguém feliz? Qual é a natureza da consciência, da qual as pessoas falam quando se pensa além do materialismo? Então, comecei a
    meditar e a me aproximar de alguns místicos, e isso ajudou. E um dia, quando falava com um místico, e ele me dava a tradicional visão mística do
    mundo, que eu já ouvira muitas vezes antes, mas, de algum modo, essa
    conversa causou uma nova impressão em mim. Eu pude ver, eu realmente vi além do pensamento, tive a percepção de que a consciência é a base do ser, e essa percepção soluciona o problema da medição quântica. Não só isso: pode ser usada como base para a ciência. Normalmente, os cientistas
    presumem que a ciência deve ser objetiva, etc, mas eu vi, naquele momento, que a ciência deve ser objetiva até um certo ponto. Eu chamo de
    objetividade fraca, mas isso pode ser alcançado nessa nova Metafísica.
    Consciência é a base de todos os seres. Então, para mim, foi o contrário, eu
    fui da Física para a espiritualidade, sob o aspecto da Física. Porque
    minha formação espiritual, embora em retrospecto, eu possa dizer que foi
    saudável, deve ter sido, como Freud diria, no subconsciente. Mas
    conscientemente foi o oposto. Eu vim de uma questão muito inquietante, de
    como resolver um problema físico, um problema do mundo, pois esse é o
    problema mais importante do século XX. E a partir disso, esse salto
    conceitual, esse salto quântico perceptivo me fez reconhecer que o modo como espiritualistas vêem a consciência é o modo certo de ver a consciência.
    E esse modo de ver a consciência resolve o problema da medição
    quântica. Ele nos dá a base para uma nova ciência.



    Carlos Ziller: Eu gostaria de fazer uma pergunta, dando um passo mais
    atrás no sentido da própria Física clássica. Porque nós sabemos, hoje em
    dia, que os fundadores da Física clássica, Newton, Déscartes e outros
    grandes cientistas do século XVII, para eles, para os projetos
    científicos que propunham, Deus era uma parte constitutiva inseparável do
    mundo que eles imaginavam, seja como sendo quem garantia a eficácia,
    eficiência, o funcionamento das leis do mundo, seja como alguém que operava os próprios fenômenos naturais. Bom, isso foi sendo afastado, expulso do mundo da ciência ao longo do século XVIII, século XIX, ou século XX, talvez, até os anos 50 tenha sido o ápice dessa questão, os cientistas, os físicos, sobretudo, não gostavam totalmente nada de falar sobre esse assunto. Deus era um problema. Talvez o seu estudo e a sua reflexão esteja tentando recolocar no seu próprio lugar, pelo menos foi assim que eu interpretei, algumas idéias do próprio século XVII, dos fundadores da ciência moderna. Eu gostaria de saber se essa aproximação do Deus doNewton, o que garantia que as leis naturais funcionavam, se esse Deus tem algum paralelo com a consciência, supra-consciência que o senhor propõe como sendo o princípio a partir do qual os fenômenos do mundo, a realidade estaria constituída?
    Amit Goswami: É uma pergunta muito boa. Os conceitos da Física
    clássica, no início, não separavam Deus, como disse, mas então, aos poucos, descobriu-se que Deus não era necessário. Depois que Deus estabeleceu o movimento do mundo, ele passou a ser guardião de seu jardim, e isso é o que a maioria dos físicos clássicos pode fazer. Mas na Física Quântica, há o problema da medição. Como as possibilidades tornam-se eventos reais, temos espaço para uma consciência, e ela deve ser uma consciência cósmica. Há uma semelhança com o modo como Deus é retratado, pelo menos na subespiritualidade tradicional, não na mente popular. A mente popular considera Deus um imperador, um super-humano sentado no céu. Essa imagem de Deus não é científica, e espero que esteja claro que não estamosfalando em Deus dessa forma, mas Deus nessa consciência mais cósmica, nessa forma mais estrutural. Esse tipo de Deus está retornando porque, se voce se recorda, o debate entre teólogos e cientistas sempre foi: Deus é o guardião ou Deus intervém? Teólogos afirmam que Deus intervém nos seres biológicos. E então surgiu Darwin. Foi um grande golpe nos teólogos, porque antes, apesar de Newton, os teólogos podiam citar o exemplo da Biologia, cujo propósito é muito óbvio, pelo menos, óbvio para a maioria. Mas a teoria de Darwin foi um golpe porque se dizia que a evolução ocorria... mas ela era natural? Darwin disse que ela era natural.
    Oportunidade e necessidade. Não há necessidade de Deus na evolução e não há
    necessidade de Deus na biologia. Então, no século XX, surgiu o
    behaviorismo e a idéia de que temos livre-arbítrio subjetivo. Essa idéia
    também
    foi superada, porque experimentos mostraram que somos muito
    condicionados, não há livre-arbítrio. Contra tudo isso, vejam só, a Física
    Quântica também cresceu ao mesmo tempo que o behaviorismo, e a Física
    Quântica
    tem uma coisa peculiar: o princípio da incerteza. O mundo não está
    determinado como imaginamos. Deus não é o guardião. O princípio da
    incerteza levou à onda de possibilidades, depois o colapso da onda de
    possibilidades para a introdução da idéia do colapso da consciência.
    Paradoxalmente, fomos criados contra essa idéia, mas nos anos 90, eu, Henry
    Stab,
    Fred Allan Wolf, Nick Herbert, todos mostramos que esse paradoxo pode
    ser resolvido. Não há paradoxo se presumirmos que a consciência que
    causa o colapso da onda de possibilidades em eventos reais é uma
    consciência cósmica. E o evento do colapso em si nos dá a separação
    matéria-objeto do mundo. Assim, não só resolvemos o problema da medição
    quântica
    como também demos uma nova resposta de como a consciência de um torna-se
    várias. Como ela se divide em matérias e objetos, para poder ver a si
    mesma. E essa idéia de que o mundo é um jogo da consciência, um jogo de
    Deus, que é uma idéia muito mística, voltou à tona. Então, podemos
    voltar à biologia. Deus intervém na biologia? Deus intervém na vida das
    pessoas? Essas perguntas continuam tendo respostas muito positivas. Vi, em
    um jornal sobre Biologia evolucionista, que há muitos furos conhecidos
    na teoria darwiniana. Esses furos são chamados sinais de pontuação. A
    teoria da evolução de Darwin explica alguns estágios homeostáticos da
    evolução, ou seja, como as espécies adaptam-se a mudanças ambientais. Mas
    não explica como uma espécie torna-se outra. Essa especiação, mudança
    de uma espécie em outra, é uma nova mudança na evolução, não está na
    teoria de Darwin. Experimentalmente, isso é demonstrado em lacunas de
    fósseis. Não temos uma continuidade de fósseis mostrando como um réptil
    tornou-se um pássaro. A idéia é que sejam sinais de pontuação, estágios
    muito rápidos de evolução. Eu sugiro que isto seja um salto quântico, um
    salto quântico na evolução. Nesse salto quântico, a consciência
    interveio, não de um modo subjetivo, de um modo caprichoso, mas de um modo muito objetivo.. muito objetivo, e essas idéias objetivas ficam claras
    com o trabalho de Rupert Sheldrake e outros, o modo como isso pode ser
    objetivo. Mas, sem dúvida alguma, há uma intervenção da causalidade
    descendente. Não se pode explicar a Biologia evolucionista só com a
    causalidade ascendente. Essa é a coisa mais interessante, a partir do
    pensamento original dos físicos de que Deus deve ser o guardião, pois tudo pode ser explicado e tudo é determinado, que não precisamos de Deus.
    Agora, estamos fechando o círculo, e vemos que não só precisamos de Deus: há movimentos descontínuos no mundo para os quais não existe explicação
    matemática ou lógica. Ainda assim, é totalmente objetivo, não é arbitrário.
    Deus age de forma objetiva, bem definida. A consciência cósmica não é
    subjetiva, não é a consciência individual que afeta o mundo. Isso ocorre
    de forma cósmica, podemos discutir objetivamente. A ciência detém seu
    poder, sua objetividade e, ainda assim, temos agora a descontinuidade,
    temos a interconectividade e podemos falar sobre vários assuntos dos
    quais os místicos tradicionalmente falam.



    Pierre Weil: Durante essa discussão eu me coloquei como educador do
    ponto de vista do telespectador, e estou um pouco com medo de que alguns
    já desligaram o aparelho diante do alto nível científico do debate, que
    é necessário e indispensável. Eu queria ressaltar a importância da sua
    presença aqui em termos mais simples. Para o telespectador... tem
    telespectadores que acreditam em Deus, acreditam em espiritualidade e tem
    outros que não acreditam em Deus, não acreditam... são os materialistas
    versus os espiritualistas. Entre os dois têm os que não sabem ou os que
    nem se interessem para isto. Nestas três categorias, a sua presença
    aqui tem uma importância muito grande. Ela tem uma importância porque
    nesse século que passou, nós estivemos assistindo a três grandes
    movimentos: o primeiro movimento, em que muitos espiritualistas, muitas
    pessoas que acreditavam em Deus, abalados pelas "provas", pelas evidências da ciência, largaram a religião e só acreditaram na matéria. E nisso foram
    até muitos sacerdotes de várias religiões. Largaram a batina, largaram a
    sua fé e se transformaram em protagonistas do materialismo. Estamos
    assistindo, atualmente, a um movimento contrário. Eu tenho, por exemplo,
    dois amigos meus. Um, Matew, grande biólogo francês, largou a biologia e
    hoje ele é monge budista tibetano. O outro era astrofísico, colega seu,
    largou a astrofísica e hoje ele é rabino. Então estamos assistindo a um
    movimento contrário. A sua presença aqui apresenta uma terceira saída,
    e que me parece a mais conveniente e a mais razoável, a mais holística,
    que é a minha também. A sua, como Física Quântica, fez com que, vindo
    do materialismo, não caísse no extremo do espiritualismo, mas integrou
    os dois. Eu fiz isso também como psicólogo, através da psicologia
    transpessoal... o senhor através da Física Quântica, eu, através da
    Psicologia Transpessoal... e nos encontramos muito bem e nos abraçamos o
    tempo todo. A minha pergunta é uma pergunta pessoal: poderia contar para os
    telespectadores, em termos mais simples, o que fez com que Amit Goswami
    ficasse no meio do caminho e fizesse um encontro dentro dele, da razão
    da Física, da razão materialista, e do outro lado, da Intuição? Falou
    nos seus amigos místicos, mas pela minha experiência eu sei que a
    segurança pela qual eu falo, não é apenas racional, ela é baseada numa
    experiência chamada interior, chamada subjetiva, chame como quiser, de luz,
    e de saber mais ou menos como que é esse mundo espiritual. Qual é a sua
    experiência que fez com que unisse, na sua pessoa, o lado masculino,
    racional, e o lado feminino, intuitivo, sentimental? O que aconteceu com a
    sua pessoa? Eu acho que isso nos vai reconciliar com os telespectadores.
    Amit Goswami: Sim, obrigado. Esta é a questão fundamental. Às vezes, eu
    digo que todos nós, todas as pessoas, espectadores, cientistas, o
    orador, todos aqui, todos nós temos dois lados. Um é semelhante a Newton,
    que quer entender tudo em termos de objetividades, ciências e matemática,
    e o outro é William Blake, que é místico e ouve diretamente,
    intuitivamente, e desenvolve seu retrato do mundo baseado nessa percepção
    intuitiva. O que ocorre nessa integração, o que ocorreu por um tempo, mesmo
    antes de essa integração começar, é que começamos a entender a natureza
    da criatividade. E a falsa idéia de que cientistas só trabalham com
    idéias racionais e matemáticas, está, aos poucos, caindo. Einstein disse
    isso muito claramente: "Não descobri a Teoria da Relatividade apenas com
    o pensamento racional". As pessoas não levam a sério tais declarações.
    Mas Einstein falou sério. Ele sabia que a criatividade era importante.
    Agora, quase cem anos de pesquisas sobre criatividade estão mostrando
    que os cientistas também dependem da intuição. Eles também dependem de
    visões criativas para desenvolver sua ciência. Nem tudo é racional,
    matemático; nem tudo é pensamento racional. Voce perguntou sobre minha
    experiência pessoal. Eu já compartilhei a experiência fundamental pessoal
    que tive quando troquei... nem devo dizer que troquei, eu tive uma
    percepção. Não posso descrevê-la em termos de espaço-tempo. Eu estava fora
    do espaço-tempo, experimentando diretamente a consciência como a base do
    ser. É esse tipo de experiência que dá a base para ficarmos
    convencidos, para termos certeza de que a realidade é algo mais do que o
    espaço-tempo no mundo em movimento faz parecer. Este é o escopo fundamental para o ponto de encontro dos cientistas e espiritualistas. Porque os espiritualistas ouviram esse chamado, essa intuição, muito antes. Os
    cientistas também a ouviram. Mas por eles sempre expressarem suas percepções em termos de lógica, em termos de razão, isso ocorre mais tarde. Eles esquecem a origem de seu trabalho, a origem de sua percepção. Já para os
    espiritualistas, a percepção leva à transformação do modo de vida. Assim,
    eles nunca esquecem que foi a intuição que trouxe a felicidade, foi ela
    que os fez quem são. Essa é a diferença. Cientistas usam a intuição
    para desenvolver sistemas que estão fora deles, o que chamo de
    criatividade externa. E isso torna-se uma camuflagem dos verdadeiros
    mecanismos do mundo para eles. Enquanto espiritualistas mantêm-se com a percepção, mudam suas vidas, e incidentalmente, mudam o mundo externo. Mas eles sabem que aquela percepção que tiveram é a coisa fundamental que gere o mundo. Para eles, a consciência é cósmica, isto é algo determinado. Para os cientistas, a mesma descoberta é possível, mas eles ignoram o chamado e prestam mais atenção ao que ocorre no cenário externo. Acho que, se todos nós compartilharmos isso, o mundo poderá mudar. Agradeço pela
    pergunta. Estou disposto a compartilhar: escrevi um livro sobre
    criatividade, no qual conto minhas histórias pessoais. Em todos os meus
    livros conto minhas histórias pessoais. É importante compartilharmos nossas
    histórias pessoais, e acabar com o mito de que os cientistas são apenas
    pensadores racionais. Eles também têm percepções que vão muito além do
    pensamento racional.
    Heródoto Barbeiro: Doutor Goswami, o senhor falou muito em Deus durante
    a primeira parte deste programa, e aqui no ocidente, quando se fala em
    Deus, se imagina que exista o seu contraponto. E aqui no ocidente se dá
    uma série de nomes a ele. Eu gostaria de saber como é que o senhor
    explica essa... se o senhor concebe a existência desse contraponto, dessas
    outras forças que não são necessariamente Deus.
    Amit Goswami: Essa questão de Deus contra o Mal é interessante. Segundo
    a visão da Física Quântica, existem as forças da criatividade e as
    forças do condicionamento. Não falamos muito sobre isso, mas eu defendo a
    idéia que a Física Quântica nos dá, de que é a consciência cósmica que
    escolhe entre as possibilidades para trazer à realidade o evento real
    que ocorre. A questão é: então temos de entrar nesse estado incomum de
    consciência, no qual somos cósmicos, no qual escolhemos e, então... como
    entrar nessa consciência individual na qual somos uma pessoa? Na qual
    temos personalidade e caráter? Ao trabalharmos com a matemática disso,
    descobrimos que essa condição ocorre porque todas as nossas experiências
    aparecem após serem refletidas no espelho da nossa memória, muitas
    vezes. É essa memória que causa o condicionamento. Uma propensão a agir do
    modo como já agi antes. Uma propensão para responder a estímulos do
    modo como já respondi antes. Todas as pessoas sabem disso. Elas passam a
    manhã no cabeleireiro e o marido volta para casa e diz: "O que há para o
    almoço?", sem notar o novo penteado da esposa, o que é muito irritante,
    tenho certeza. Mas esse condicionamento é o que nos torna indivíduos.
    Então, a questão é que, na Física Quântica, vemos claramente o papel da
    consciência cósmica, que eu chamo de "ser quântico", no qual há
    criatividade, há forças criativas. E então perdemos essa criatividade,
    ficamos condicionados. E o condicionamento nos faz parecidos com máquinas.
    Assim, o mal maior que a nova ciência nos traz é o condicionamento. Pois é
    ele que nos faz esquecer a divindade que temos, o poder criativo que
    temos, a força criativa que realmente representa o que buscamos quando
    invocamos Deus. Mas isso também está incompleto. Essa questão pode ser
    estudada mais a fundo e há um escopo maior, trazendo idéias como emoções
    negativas e positivas. Assim, teremos uma exposição maior do Bem contra
    o Mal. Mas, de fato, a consciência cósmica inclui tudo. Esse é o
    conceito esotérico, não tanto exotérico, mas esotérico, por trás de todas as
    religiões, de que há apenas Deus, e que o Bem e o Mal são uma divisão,
    uma necessidade da criação, mas não é fundamental, ou seja, o diabo não
    é igual a Deus; o diabo é uma criação subsequente. É útil pensarmos em
    termos de Bem e Mal mas, às vezes, é preciso transcender isso, é
    preciso perceber que Deus é tudo. Esse é o cenário que a Física Quântica
    defende.



    Joel Giglio: Doutro Amit, eu sou psiquiatra, analista Junguiano,
    formado pela Associação Junguiana do Brasil, e tenho muitas perguntas a
    fazer ao senhor. Mas em vista do tempo e dos objetivos desse programa, vou me centrar numa delas. Eu pensei muito, quando li seu livro, em questões
    que ainda são incógnitas à nossa prática psicoterápica. A questão do
    'insight'... O 'insight' nós não sabemos, em psicoterapia, quando ele vai
    acontecer, como vai acontecer. Ele simplesmente aparece e quase que do
    nada, embora a gente intua que o 'insight' vá aparecer. A questão da
    criatividade... a questão da sincronicidade... mas eu gostaria de fazer
    uma questão sobre os arquétipos. O senhor menciona no seu livro, idéias
    de arquétipos de objetos mentais. Cita Platão e cita Jung, que é o
    criador da psicologia analítica, setor da psicologia onde eu me situo. A
    questão que tem me perturbado muito é: os arquétipos evoluem, embora eles
    estejam fora do eixo espaço-tempo? Alguns autores dizem que está
    havendo uma evolução dos arquétipos. Quem fala isso, por exemplo, é
    Sheldrake, que o senhor mencionou há pouco e que não é psicólogo, é biólogo, mas que tem uma visão diferente dentro do campo da biologia. Como é que a
    teoria da Física Quântica explicaria, supondo que os arquétipos evoluem,
    a evolução dos próprios pensamentos arquetípicos, por exemplo, a
    evolução do arquétipo de Deus, se é que ele está evoluindo ou não. Essa
    questão... e muitos outros arquétipos, nós supomos que estejam evoluindo sem
    anularem os arquétipos anteriores.
    Amit Goswami: Obrigado pela pergunta. Sou um grande seguidor de Jung.
    Acho que Jung foi dos precursores da integração que está ocorrendo
    agora. Nos meus primeiros textos, eu citava muito a afirmação de Jung de
    que, um dia, a Física Nuclear e a Psicologia se unirão. E acho que Jung
    ficaria satisfeito com esta conversa e, em geral, com a integração da
    Física e da Psicologia transpessoal que vemos hoje. Isto posto, acredito
    no conceito de arquétipo de Jung, e acho que o modo como Jung o
    apresentou, e Platão o apresentou, de que são aspectos eternos da
    consciência, contextos eternos da consciência... a consciência tem um corpo
    contextual no qual os arquétipos são definidos e, então, eles governam o
    movimento do nosso pensamento. Acho que é um conceito muito poderoso. Mas, ao mesmo tempo, na Física Quântica, existe a idéia de que todos os corpos de consciência, tudo o que pertence à consciência, inconsciência, são
    possibilidades. E por causa disso, por tudo ser possibilidade, surge a
    questão: alguém pode ir além de arquétipos fixos e considerar arquétipos
    evolucionistas? Não se pode descartar o que Rupert tenta dizer. Houve
    uma idéia semelhante, de Brian Josephson, um físico que publicou um
    trabalho na Physical Review Letters, revista de grande prestígio, dizendo
    que as leis da Física podem estar evoluindo. Da mesma forma, outras
    pessoas, cientistas muito sérios, sugeriram que, talvez, forças
    gravitacionais mudem com o tempo. Essa idéia de arquétipos fixos é uma idéia
    muito importante. Eu a apóio totalmente. Mas também vejo que na Física
    Quântica há espaço para a evolução dos arquétipos. Não devemos descartar
    totalmente idéias que dizem que arquétipos evoluíram. Ainda seremos capazes
    de determinar isso experimentalmente. Obrigado pela pergunta.
    Lia Diskin: O senhor manifesta certo interesse pelas questões éticas,
    grande parte do final de sua obra se dedica a essa questão. O senhor nos
    disse que há necessidade da participação da ambiguidade para dar
    garantias de criatividade no campo ético. Entretanto, no mesmo contexto, nos
    fala imediatamente das linhas e instruções éticas numa obra monumental
    da tradição indiana que se chama "Bhagavad Gitâ". E a "Bhagavad Gitâ"
    se inicia pelo pressuposto da instrução do mestre para um discípulo, de
    que ele deve agir, de que ele deve entrar no combate, que ele deve
    assumir sua parte de ação, porque pertence a uma casta, a uma tradição de
    guerreiros, em que há ação da própria. Como fica o livre-arbítrio, como
    fica a ambiguidade como necessidade da criatividade dentro de um
    contexto de que existe um pressuposto, obviamente não-ambíguo e
    não-escolhível, que não pôde escolher? O que fazer... mas se está cominado a
    fazer, está cominado a agir? Como será isso, Professor?

    Amit Goswami: Acho que essa também é uma pergunta muito difícil, muito
    sutil. Realmente, se considerarmos a ética compulsória, não parece
    haver escolha. Mas a ética não é tão definida: é muito ambígua. Lembro de
    uma história que o grande filósofo Jean-Paul Sartre contava. Suponha que
    voce vá em uma expedição de natação, ou melhor, de barco, e o barco
    afunde. Voce está com um amigo, voce sabe nadar, mas ele não. Mas voce não
    é muito forte. Se tentar salvá-lo, os dois podem morrer. Voce tem uma
    boa chance de se salvar, mas ama seu amigo e seu dever ético com ele
    está muito claro. O que fazer? Casos assim mostram claramente que há
    ambiguidade mesmo em decisões éticas, em decisões morais. Na Física
    Quântica, é muito claro que devemos esperar, e esperar pela intuição, ver se
    há um salto quântico, uma resposta criativa como voce a chama, se uma
    resposta criativa irá surgir. E é essa resposta criativa que é a resposta
    correta para solucionar essa ambigüidade em questões éticas. Quando a
    moralidade ou a ética são apresentadas como um conjunto de regras, e as
    pessoas seguem essas regras, elas perdem essa parte ambígua e, por causa
    disso, as regras perdem o sentido. Passa a ser um conjunto de regras
    inútil, sem vida. Mas, se considerarmos a ética com vida, e reconhecermos
    que temos um papel a desempenhar em todas as situações éticas, temos um
    papel a desempenhar em termos de irmos para dentro de nós, como as
    pessoas criativas fazem, combatendo isso, combatendo a ambiguidade. Então,
    o salto quântico da percepção virá e vai-nos permitir tomar a ação
    correta. É nisso que a Física Quântica está nos ajudando, é nessa conclusão
    que ela está nos ajudando. E acho que Sartre também buscava essa
    resposta porque a ética fixa é uma coisa impossível de se seguir.



    Cláudio Abramo: Eu vou, infelizmente, ter que me estender ligeiramente
    na minha pergunta. Ela é precedida de uma declaração... Vou fazer uma
    interpretação do que foi declarado até agora, que eu acho que deve ser
    útil para os telespectadores. Não estou fazendo isso para me expor, mas
    para esclarecer o que me parece ser algumas questões importantes nesse
    debate para o telespectador. O entrevistado faz menção a fenômenos
    inexplicados, a fenômenos desviantes, entre diversas disciplinas. Começa
    com a Física, passa pela Biologia, faz referência a problemas seculares
    com respeito à consciência humana, ao livre-arbítrio, ao modo como
    raciocinamos, ao modo como chegamos a conclusões, menciona casos como, por exemplo, Einstein declarando, como tantos outros cientistas, que não
    sabe muito bem como chegou a uma conclusão. Poincaré, antes dele, havia
    escrito muito sobre isso... Poincaré era uma matemático, o último grande
    matemático universalista francês... ele morreu no começo desse século
    (XX). Bom, esse tipo de anedota é completamente comum na ciência. Não há
    nenhuma originalidade nisso. Esse gênero de anedota, repito, fenômenos
    inexplicados que são característicos da ciência... a ciência quanto
    mais sabe, menos sabe... quanto mais a ciência sabe, quanto mais fenômenos
    são explicados, mais avenidas de desconhecimento se abrem. Um cientista
    diz "não sei" o tempo todo. Um não-cientista explica tudo, porque
    sempre tem uma resposta do tipo "todo abrangente" como é esta resposta. O
    fato de se ter isso, para os telespectadores entenderem, o fato de se
    formular uma pseudo-explicação a respeito de como o universo funciona não
    dá a essa explicação, foros de verdade. Simplesmente declarar coisas
    não confere verdade ao que se declara. Agora, no que o senhor declara
    existe uma característica que eu acho bastante preocupante, ou pelo menos
    intrigante, vinda de alguém conhecido aqui como Físico, como o senhor
    declarou... o senhor foi.. o senhor foi Físico. O senhor diz, em
    primeiro lugar, que aquilo que seria essa intervenção de uma consciência
    cósmica, não é matematizável, quer dizer, isto não é introdutível dentro da
    teoria física na forma como a teoria física aceita as suas idéias. Não
    existe outra maneira de introduzir na Física idéias senão a matemática.
    Não existe.. não é possível, não é Física... se é não-matematizável,
    não é Física. Muito bem, então esta idéia de consciência cósmica não é
    Física, quer dizer, certamente nenhum Físico aceitará isso. Em segundo
    lugar, ela também, já que se está falando de alguma coisa que existe no
    mundo, que é uma consciência cósmica que se reflete na consciência das
    pessoas e faz as pessoas fazerem saltos quânticos... o senhor não vai
    usar esse termo, mas saltos quânticos em direção à solução de
    problemas... onde é que estão as evidências empíricas disso? Onde estão as
    experiências que levam a esse tipo de conclusão? Porque ou a gente pode ter
    conhecimento do mundo que seja muito estruturado, como no caso da Física,
    ou conhecimento do mundo pouco estruturado. Não existe uma teoria, não
    existe um conjunto de idéias muito organizado por trás, mas sabemos
    empiricamente que são verdadeiras, ou parecem verdadeiras. Onde é que
    estão as evidências empíricas e onde está o raciocínio, eu diria, desculpe
    a palavra, científico, que o leva a declarar que existiria uma
    consciência cósmica que estaria governando tudo e resolvendo todos os
    problemas aqui, da Biologia, da Psicologia?...
    O senhor afirma que estas suas idéias explicariam o problema da biologia evolucionista dos 'gaps' na criação de espécies, por exemplo. O senhor não acha ambicioso demais e, repito, onde é que estão as evidências empíricas disso?
    Amit Goswami: Boa pergunta. Pergunta muito boa. Precisamos sempre fazer esta pergunta: onde está a evidência? Falarei da evidência mais tarde.
    Antes, responderei à pergunta: a Física é matemática? Ela deve ser
    totalmente matemática? Essa é uma crença que cresceu gradualmente na
    Física, por causa do sucesso da matemática para expressar a Física. Há duas
    coisas que devemos lembrar. Primeiro: não há motivo para a Física ser
    matemática. Às vezes os filósofos levantam essa questão. Nancy Cartwright
    escreveu um livro: Why do laws of Physics lie. Ela estava argumentando
    que não há provas dentro da filosofia materialista de que a Matemática
    deve governar as leis da Física. De onde vem a Matemática? Pessoas como
    Richard Feynman, grande físico, Eugene Bigner, todos estudaram a
    questão. E não há resposta dentro da filosofia materialista. Platão tem uma
    resposta: a matemática molda a Física porque surgiu antes da Física, faz
    parte do mundo arquetípico que discutimos. Assim, o idealismo de Platão
    é fundamental para entender o papel da Matemática na Física, em
    primeiro lugar. A Física em si precisa de algo além da matéria, ou seja, da
    matemática e de arquétipos para ser uma ciência consistente. É preciso se
    lembrar disso. O segundo aspecto da questão é o mais importante. Na
    Física Quântica, procuramos insistentemente uma forma matemática de
    encerrar a Mecânica Quântica. Uma forma matemática para entender a medição quântica. Não fomos capazes. Niels Bohr demonstrou para Erwin
    Schrödinger, há muito tempo, quando a Mecânica Quântica estava sendo
    desenvolvida.
    Schrödinger achou que tinha obtido a continuidade e Bohr provou o
    contrário e o convenceu disso. E Schrödinger disse: "Se eu soubesse que essa
    descontinuidade, saltos quânticos, iriam permanecer, eu nunca teria
    descoberto a Mecânica Quântica". Bohr disse: "Estamos felizes que tenha
    descoberto". Essas descontinuidades vão continuar existindo, não há
    explicação matemática, e por não haver explicação matemática, portanto, há
    espaço para o livre-arbítrio. O livre-arbítrio, Deus, consciência,
    colapso, tudo isso entrou para a Física porque atingimos o conhecimento, a
    sabedoria, de que existe o princípio da incerteza, existem a
    probabilidade e possibilidades. E por existirem probabilidade e
    possibilidades, deve haver um agente que causa o colapso das possibilidades em eventos reais. E esse agente não pode ser matemático porque, se for, não poderá haver livre-arbítrio: seria determinista. Mas não é determinista. O
    princípio da incerteza é fundamental. Assim, nós chegamos à conclusão, após décadas de lutas nós conseguimos...
    Cláudio Abramo: Quem é "nós"?
    Amit Goswami: "Nós" quer dizer que há um consenso entre cientistas...
    Cláudio Abramo: Há um consenso a respeito de suas idéias?
    Amit Goswami: Não a respeito de minhas idéias. Esqueça as minhas
    idéias. Mas há um consenso de que não há solução matemática para o problema da medição quântica. Nisso, chegamos a um consenso. E por não haver uma solução matemática para isso, e por haver uma solução consistente em termos de consciência causando colapso de possibilidades quânticas em realidade, podemos falar sobre essas idéias publicamente. Quanto à segunda pergunta: Há evidência empírica? Acontece que os dois aspectos fundamentais da nova física, a consciência causa o colapso da possibilidade em realidade, e o segundo, que essa consciência é uma consciência cósmica, os dois aspectos foram confirmados por dados empíricos. Antes, darei os dados para o segundo, porque é o mais simples para o espectador. O primeiro é um pouco difícil. Talvez possamos incluir os dois. O primeiro experimento é muito importante porque já foi aplicado. Em 1993 e 1994, o neurofisiologista mexicano Jacobo Greenberg Silberman, ele e seus colaboradores fizeram um experimento, no qual havia dois observadores meditando por 20 minutos, com o propósito de terem comunicação direta.
    Comunicação direta no estilo de não-localidade. Sinais não-locais ocorrendo
    entre eles, e ainda assim eles teriam comunicação. Certo, eles meditaram
    juntos. Pediu-se que mantivessem o estado meditativo durante o resto do
    experimento. Mas então, um deles é levado para outro recinto. Eles
    ficam em câmaras de Faraday, onde não é possível a comunicação
    eletromagnética. Os cérebros deles são monitorados. Uma das pessoas vê uma série de 'flashes' brilhantes, o cérebro dele responde com atividade elétrica, obtém-se o potencial de resposta muito claro, picos muito claros, fases muito claras. O cérebro da outra pessoa mostra atividade, a partir da
    qual obtém-se um potencial de transferência que é muito semelhante em
    força e 70% idêntico em fases ao potencial de resposta da primeira
    pessoa. O mais interessante é que, se voce pegar duas outras pessoas, duas
    pessoas que não meditaram juntas, ou pessoas que não tinham a intenção de
    se comunicar, para elas, não há potencial de transferência. Mas para
    pessoas que meditam juntas, invariavelmente, muitas vezes, um em cada
    quatro casos, obtemos o fenômeno de potencial de transferência. E Peter
    Fenwick, na Inglaterra, há dois anos, confirmou isso, repetindo o
    experimento. Assim, temos evidência empírica. Se tivéssemos tempo, e voce
    tivesse paciência, eu poderia lhe dar inúmeros dados. Outro dado que é
    muito interessante: considere o caso de geradores de números aleatórios.
    Eles são realmente aparelhos quânticos, pois eles pegam eventos
    radiativos, que são aleatórios, e os convertem em seqüências de números,
    seqüências de zeros e uns. Em uma longa cadeia, deve haver número igual de zeros e uns. É o que se espera da sequência aleatória. Helmut Schmidt, um físico que pesquisa parapsicologia, tenta há quase 20 anos, fazer com
    que médiuns influenciem os geradores de números aleatórios para gerarem
    sequências não-aleatórias, mais zeros que uns. E ao longo dos anos ele
    conseguiu boas evidências de que, até certo ponto, os médiuns conseguem
    fazer isso. Um resultado com um grande desvio. Isso ainda não tem nada
    a ver com Física Quântica, mas recentemente, em um trabalho publicado
    em 1993, Schmidt retratou uma modificação revolucionária desses dados. O
    que ele fez, recentemente, é que o gerador de números aleatórios, os
    dados do gerador de números, a sequência, é armazenada num computador,
    ela é impressa, mas ninguém olha. Os dados impressos são fechados num
    envelope e enviados para um observador independente. Três meses depois, o
    observador, sem abrir o envelope, escolhe o que quer ver, mais zeros ou
    mais uns. Tudo segue um critério. Então ele liga para o pesquisador, o
    pesquisador diz ao médium para olhar os dados, e pede a ele para mudar
    os resultados, influenciá-los, se puder. E o médium tenta produzir mais
    zeros, se esse for o desejo do observador. E então, o observador abre o
    envelope e verifica se o médium conseguiu. E a incrível conclusão é (é
    um resultado sério, não é fácil contestá-lo) que o médium, em 4 de cada
    5 tentativas, consegue mudar os números aleatórios gerados pelo
    aparelho, mesmo após três meses. Este mito de que o pensamento causa o
    colapso de si mesmo, que o colapso é objetivo, sem que o observador consciente as veja, é apenas um mito. Nada acontece, tudo é uma possibilidade até que o observador consciente veja. Numa experiência controlada, as pessoas intervieram. As pessoas viram, sem contar a ninguém, viram os dados, a impressão. Nesses casos, o médium não influenciou os dados. Está claro que a consciência exerce um efeito, exatamente como Bohr suspeitava, como Newman suspeitava. Agora estamos fazendo teorias mais completas e experimentos mais completos baseados nessas teorias. Henry Stab colaborou com todas essas idéias que apresentei, consciência causando o colapso de funções quânticas em eventos reais. Ele participou do experimento com Schmidt. Então, estamos vendo uma mudança revolucionária na Física, não menos revolucionária do que a acontecida com Copérnico. Claro que haverá reações, como a que apresentou, e temos de ser muito pacientes, calmos, e trabalharmos juntos para superar essas tendências contrárias.
    Mas temos a certeza de que existe algo que todos devemos olhar. Isso é
    revolucionário, é novo e pode mudar, como já discutimos, as
    dificuldades com valores que a sociedade vem enfrentando. Não vamos nos
    preocupar em como pode ser, mas vamos olhar os dados, olhar a teoria e perguntar: pode ser? Se pode, que oportunidade fantástica temos para integrar todos esses movimentos díspares de consciência que nos separaram por tanto tempo.



    Heródoto Barbeiro: Ele é autor também do livro "O Universo
    Autoconsciente - Como a consciência cria o mundo material". Dr. Goswami,
    dentro dessas explicações que o senhor nos deu até agora, como fica a questão da reencarnação e da preservação dessa consciência dos seres humanos?
    Amit Goswami: A questão da reencarnação, provavelmente, é a pergunta
    mais radical que pode ser feita. E é impressionante que a Física Quântica
    nos permita dar uma resposta afirmativa. Eu mesmo fiquei tão surpreso
    quanto qualquer um, com isto.. No início, quando me perguntavam isso, eu
    me recusava a discutir. Mas então, eu acordei de um sonho, e,
    basicamente, o sonho me dizia... eu ouvi isso no sonho: "O Livro Tibetano
    dos Mortos está certo e seu trabalho é provar". Após acordar desse sonho, eu
    passei a encarar reencarnação com seriedade. Basicamente, o problema
    com a reencarnação é este: o corpo físico morre, e o que resta? Se a
    consciência é a base do ser, vem a idéia de que o que resta é a
    consciência. É a primeira pista. A segunda pista é que tudo é possibilidade,
    no modo quântico de ver as coisas. Então, não é irrelevante dizer que as
    possibilidades podem viver. Algumas possibilidades morrem com o corpo
    material e o cérebro, mas pode haver outras possibilidades, outras
    possibilidades que se modificam ao longo da nossa vida, e essas modificações das probabilidades das possibilidades podem formar uma confluência que possa viver mais tarde na vida de outra pessoa. É essa idéia que pude desenvolver de forma mais completa, num livro que será lançado no ano que vem, e fico feliz em dizer que podemos lidar com essa questão. A
    vantagem de se fazerem essas perguntas é que podemos ver imediatamente a
    utilidade das novas ciências que virão. Porque são essas coisas que
    preocupam as pessoas. As pessoas são fundamentalmente incomodadas por
    perguntas como "o que acontecerá quando eu morrer?". E se a nova Física
    puder responder essas perguntas, a despeito da importância da Psicologia
    transpessoal, e da Psicologia junguiana, em que a nova ciência ajuda, e
    também da medicina alternativa, que nem discutimos ainda, acho que
    tocaremos o coração das pessoas quando pudermos dizer: "Finalmente, a
    Ciência pode ajudar a entender essa pergunta". Até agora, apenas o padre, o
    teólogo pode dar qualquer resposta para a pessoa. E se pudermos dizer a
    ela: "Faz sentido fazer essa pergunta, e voce pode fazer algo para ajudar
    voce com o que acontecerá após a morte". Não seria um progresso
    maravilhoso na ciência?
    Joel Giglio: Professor Amit, eu vou fazer uma pergunta baseado no
    trabalho de um ex-orientando de tese de doutoramento que eu orientei na
    Universidade de Campinas, e que fez a primeira tese, pelo menos na Unicamp, e talvez em qualquer universidade estadual ou federal do Brasil, sobre parapsicologia. Ele fez uma tese sobre clarividência e eu não vou,
    naturalmente, falar da metodologia do trabalho que seria bastante extensa,
    mas resumir pelo menos os resultados principais. Várias pessoas, vários
    sujeitos tentavam adivinhar as cartas de um baralho de símbolos
    geométricos, baralho de Zener muito usado em pesquisa e parapsicologia, e
    tentava adivinhar as cartas de um baralho Tarô, que é baseado em imagens
    arquetípicas, o Rei, a Rainha, etc. Nos resultados que foram feitos
    seguindo uma metodologia tradicional, estatística, as pessoas acertaram, no
    baralho de Zener, um pouquinho acima do que era esperado ao acaso e 10%
    acima no baralho de Tarô, comparando com o de Zener. A explicação dada
    pelo meu orientando foi dentro da teoria da Psicologia Analítica, em
    relação aos arquétipos emergentes que, de uma certa forma, estariam
    mobilizados mais no baralho de Tarô do que simplesmente no baralho de
    símbolos geométricos. Mas essa explicação, embora nos satisfaça um pouco,
    ainda deixa muito a desejar. Eu perguntaria se o senhor teria alguma
    explicação a mais baseada na Teoria Quântica sobre essa maior adivinhação
    das cartas do baralho do Tarô, que são símbolos arquetípicos em relação
    ao baralho comum de Zener , que são cinco símbolos geométricos,
    quadrado, cículo, etc.?



    Amit Goswami: Sim. Obrigado pela pergunta. Na verdade, somente no
    Brasil alguém pensaria em fazer um experimento tão brilhante. Tenho visitado o Brasil nos últimos 5 anos e o futuro parece promissor. Eu fico
    entusiasmado com a mente do brasileiro. Qual é a diferença entre o
    experimento original de adivinhação de cartas e as cartas de Tarô? A idéia
    que proponho, acho que voce pensa da mesma forma, é que quando o objeto que usamos na telepatia é significativo, ele é um objeto melhor. Os
    cientistas, os parapsicólogos anteriores preocupavam-se demais com a
    objetividade e ignoravam esse aspecto. Agora, nos novos experimentos
    parapsicológicos, espero usarmos cada vez mais objetos significativos na
    transferência telepática. E voce tem razão, a explicação completa tem de
    usar a palavra "telepatia", tem de usar a transferência não-local de
    informações, neste caso, transferência não-local de informações
    significativas, arquetípicas. E esse é o motivo para os melhores resultados. Mas a não-localidade, a não-localidade quântica, tem de ser evocada para se ter uma explicação completa do que ocorreu. Obrigado.
    Mario Cortella: Doutor Amit, eu juntei algumas questões nisso que eu
    não vou tratar delas como perguntas, porque eu acho que na sua obra, pelo
    menos no que eu pude ler, há um aprofundamento disso e uma leitura mais
    detalhada ofereceria mais questões. Por exemplo, no campo da
    psicanálise essa idéia de que o universo é quando é percebido e até
    interferido, será que não seria uma postura um pouco ego-narcísica da nossa parte, um pouco antropocêntrica em relação ao próprio universo que dificulta a idéia de um cosmo, invertendo Dostoievsky. Dostoievsky disse que se Deus não existe, tudo é permitido. Nessa compreensão, parece que se Deus existe, aí é que tudo é permitido, porque existe aí uma probabilidade
    que pode ser interferida. E uma outra questão, que eu acho que está na
    sua obra mas acho que vale aprofundamento, é o ateísmo metodológico,
    sendo que foi tão caro para a ciência para poder buscar explicações, mas
    ele não é mais necessário. Mais aí a questão de fundo: eu tenho lido, não
    sei se é verdade, que a Física Quântica mostra que hoje o tempo é uma
    ilusão. Alguns têm dito que não se fala mais em universo, mas em
    multiverso, porque haveria vários universos paralelos. Isso traria um
    problema: a possibilidade de viajar no tempo. A maior explicação que achei
    até hoje contra a viagem no tempo, foi do Físico inglês, Stephen Hawking,
    que usou um argumento lógico. Ele disse: "É impossível viajar no tempo
    porque se um dia for possível isso, os homens do futuro já teriam
    voltado". Mas a Física Quântica ao falar em universos paralelos levanta a
    possibilidade de se ter o tempo como uma mera ilusão humana. Isso me
    coloca a seguinte pergunta aí para o senhor: será que nós chegaremos, com a
    Física Quântica, a voltar à origem do cosmos e, aí sim, encontrar o
    princípio explicativo?
    Amit Goswami: Bem, suas duas colocações são muito boas, e a pergunta é
    extremamente fascinante. A primeira coisa que quero dizer é que 'não
    dizemos que tudo é possível' apenas por termos incluído aí a consciência
    em nossas teorias, porque ainda estamos concordando totalmente com a
    Física Quântica que a causalidade ascendente molda a forma das
    possibilidades, a partir da qual a consciência escolhe. Tanto a causalidade
    descendente, quanto a ascendente têm papel fundamental na nova Física, na
    nova Ciência. Essa é uma das virtudes que temos. A nova Ciência absorve a
    velha Ciência nos limites do princípio da correspondência, no limite de
    que poderíamos falar apenas em termos de probabilidades para um grande
    número de coisas e eventos. A velha Ciência não desaparece. Não
    poderia. É solidamente baseada em dados experimentais. A nova Ciência
    expande a velha Ciência em arenas com as quais a velha Ciência não pode lidar.
    Como eventos singulares de criação, criatividade. Esse é o primeiro
    ponto. Sobre voltar no tempo, há experimentos quânticos. O mais famoso é o
    experimento de Le Choice, mas é muito longo para explicar, e muito
    complicado para os espectadores realmente apreciarem. Embora, se alguém
    estiver interessado nele, há livros sobre ele. Leiam, por favor, é
    fascinante. Há algo acontecendo. Essa idéia de voltar no tempo é real na
    Física Quântica. Podemos ser afetados por coisas no futuro, assim como somos afetados por coisas no passado. Na Física Quântica, o tempo é
    não-linear. Isto posto, claro que experimentos recentes são tão
    impressionantes, tão surpreendentes, que muitos físicos convencionais, conservadores, procuram formas de viajar no tempo. Mas acho que o consenso é que a viagem no tempo envolve muito mais do que esta observação da Mecânica Quântica. Não podemos mais descartá-la, mas ela envolve muito mais pois ainda temos sérios problemas de como trazer os efeitos quânticos aos macrocorpos. Pois os efeitos quânticos são muito destacados apenas em objetos microscópicos, e não tão destacados em macro-objetos. A situação da medição é uma exceção. Mas normalmente descobrimos apenas raios 'laser', supercondutores, poucas coisas, poucos macro-objetos em que os efeitos quânticos persistem. Então temos de resolver esse problema de como macrocorpos podem ser transportados pelo tempo, e isso levará um tempo. Se a consciência voltar a essa equação, e ela precisa voltar, em algum ponto, então, outra dimensão de pensamento se abrirá e isso pode nos dar novas respostas, novas visões sobre isso. Mas é muito prematuro falar sobre isso, acho.



    Rose Marie: Eu sou muito interessada em história da tecnologia, porque
    eu acho que através da tecnologia é que os sistemas econômicos se
    desenvolvem, que cresce uma dominação de potências hegemônicas. Isso vai
    muito na linha da pergunta do Cláudio Abramo. Eu sei que o senhor está
    trabalhando na construção do primeiro computador quântico. Eu quero
    perguntar uma coisa: o computador quântico dá saltos quânticos, ele cria?
    Qual a diferença dele do computador determinístico?
    Amit Goswami: Essa é uma pergunta muito interessante. O que é um
    computador quântico? Um computador quântico em vez de usar um algoritmo específico, usa um algoritmo ambíguo. No computador quântico é usada a superposição de possibilidades e, dessa forma, espera-se que seja muito mais rápido que o computador convencional. Desde que o computador quântico opere apenas nesse nível, eu não espero que ele seja uma novidade tão grande, a não ser o fato de ele ser mais rápido. É isso que interessa aos
    cientistas da computação. Mas eu tenho um interesse diferente nesse
    computador. Se o computador for construído, por ter um processador
    quântico, por processar superpondo possibilidades...
    Rose Marie: É tão realista.
    Amit Goswami: Isso mesmo. Assim como o ser humano faz. O cérebro
    humano, de forma semelhante, processa de forma quântica as possibilidades, em vez de trabalhar diretamente, de maneira algoritmica, sem ambiguidade.
    Então, alguém pode fazer um computador que tenha todos os outros
    aspectos da medição quântica? A situação da medição quântica envolve um
    mecanismo que chamo de hierarquia embaraçada. É um pouco difícil de
    entender, mas um exemplo é a frase: "Eu sou mentiroso". Se pensar nela, verá que a relação hierárquica entre sujeito e predicado é recíproca. "Eu"
    qualifica mentiroso, e vice-versa. Um qualifica o outro. É o que chamo de
    hierarquia embaraçada. A medição quântica no cérebro é assim. A questão
    intrigante para mim é que: suponha que no futuro encontremos um
    computador com hierarquia embaraçada. O interessante é que a hierarquia
    embaraçada dá margem à auto-referência. Então, este computador quântico terá auto-referência? A consciência cooperará na criação de um aparelho
    feito por humanos, que não seguiu uma evolução, mas desenvolvido pela
    inteligência humana? A consciência cooperará? A consciência cósmica
    cooperará e o tornará um ser consciente? Eu não sei a resposta. Mas esta
    será uma verificação fundamental, uma das mais fantásticas, das idéias que
    discutimos hoje. Acho que essa pesquisa deve ser encorajada. Obrigado
    pela pergunta.
    Lia Diskin: Tentando fazer uma síntese dentro das idéias da biologia,
    dentro das idéias da psicologia e, logicamente, de toda a Física que o
    senhor coloca, o que hoje sabemos é que apenas 2% de nosso cérebro
    utiliza vias neuro-cerebrais para entrada e saída de informação. E é a
    partir disso, que nós construímos o que chamamos "os objetos ideais e
    universais" que constituem a ciência. 98% restante pertence a um universo
    interno, nebuloso, no qual existe a fantasia, a ilusão, logicamente a
    irracionalidade e também a probabilidade. Até que ponto podemos dizer que é possível um verdadeiro diálogo com essa disparidade de porcentagens?
    Até que ponto podemos dizer que é possível uma cientificação das idéias,
    de Deus, ou das idéias internas, humanas, divinizadas, como queira
    chamá-las?
    Amit Goswami: Em outras palavras, deixe-me ver se entendi a pergunta,
    há muitas coisas que são fantasias e há muitas coisas que envolvem Deus.
    É possível transformar esses aspectos fantasiosos em científicos? É uma
    pergunta interessante. Claro, na criatividade, transformamos fantasias,
    transformamos algumas fantasias em algo científico. Porque algumas
    delas são fantasias criativas. Em outras palavras, a imaginação, a parte
    mental de nossas vidas, a parte interna de nossa vida, é fundamental no
    que fazemos no mundo externo. Na nova Ciência, por estarmos igualmente
    envolvidos com o mundo externo e o interno, pelo fato de a subjetividade
    ter voltado à ciência, estamos validando o conceito de que, talvez,
    devamos levar algumas de nossas fantasias a sério. Porque a idéia
    contrária também pode ser positiva, ou seja, de que tudo é uma fantasia.
    Fantasia da mente, fantasia da consciência. Porque a consciência é a base do
    ser, e o que pensávamos ser material e real, e o que pensávamos ser
    fantasia e irreal, esta distinção não é muito clara, agora. São todas
    possibilidades da consciência. Portanto, é a consciência que as valida, que
    escolhe entre elas, que lhes dá substancialidade.

    Então, qual delas
    será substancial depende totalmente da escolha, do contexto no qual a
    consciência as vê. Isso vai revolucionar a sociedade, como voce antecipou
    com sua pergunta. Em outras palavras, vamos levar nosso mundo interno
    muito mais a sério. Eu costumo dizer às pessoas que, se elas estudarem
    seus sonhos, o preconceito que costumamos ter é de que o sonho não é
    contínuo, portanto, de que adianta estudá-los? Há evidências de que os
    sonhos são contínuos, mas é preciso olhá-los sob o ponto de vista
    significativo. Alguns ficariam felizes com essa descoberta científica, de
    que os sonhos dão um relatório sobre a parte significativa das nossas vidas.
    Então, há outros aspectos da vida com os quais a ciência materialista
    não pode lidar e com os quais podemos lidar agora por colocar a
    consciência de volta, por exemplo, o pensamento. E, quando fazemos isso,
    nossa vida interna adquire uma enorme importância. Sim, a vida interna lida
    com o pensamento, a beleza, os arquétipos, de uma forma diferente que a
    vida externa, materialista, pode. E, focalizando na vida interna, não só
    podemos nos transformar, essa é a parte mística, mas também podemos ter
    enormes visões sobre o que criar, como criar, sobre nossas artes, sobre
    nossa música, até sobre a ciência.



    Pierre Weil: Eu queria primeiro felicitar esse programa, Roda Viva,
    pelas iniciativas que está tomando. Eu quero dizer que é a primeira vez
    que eu vejo na televisão, problemas tratados no nível que merecem, na
    altitude que merecem, problemas como a parapsicologia, a psicologia
    transpessoal. Isso é feito graças a uma mudança de paradigma. E eu queria
    realçar de novo para o público telespectador que o que estamos tratando
    aqui tem uma influência muito grande sobre a destruição da vida no
    planeta e a grande crise de violência que está assolando atualmente o mundo, não é só o Brasil. Eu queria, já que estamos no fim do programa, deixar a oportunidade a Amit Goswami, que nós convidamos na nossa Universidade da Paz em Brasília, justamente porque ele representa um novo paradigma, como que o antigo paradigma é responsável pela violência atual do mundo, antiga visão que está responsável pela destruição da vida no planeta, e como o novo paradigma pode nos ajudar a nos tirar dessa crise, além de medidas policiais e de mudança de lei que são necessárias, mas são
    absolutamente insuficientes?
    Amit Goswami: Obrigado. Acho muito importante dizer que, sem reconhecer
    a consciência e sem reconhecer o valor da nossa vida interna, sem
    reconhecer o valor da transformação, nunca mudaremos a violência na
    sociedade. Então, é muito importante ver que apenas pensando em
    não-violência, apenas falando dela, não deixaremos a violência. É preciso passar por todo o processo criativo. A nova Ciência, o novo paradigma, é
    extremamente importante porque sempre enfatiza a criatividade. Na velha
    Ciência, o determinismo e behaviorismo, essa idéia de que o condicionamento
    prevalece, nos cegou tanto quanto à transformação, nos cegou tanto que
    desistimos. Basicamente, os valores não eram necessários. Steve Weinberg
    disse que não há significado no universo, não há valores se o consenso é
    o julgamento dos cientistas materialistas, e isso ocorre dentro da
    sociedade, e o behaviorismo diz: "Não podemos fazer nada. Somos seres
    comportamentais, somos condicionados". E a nova Ciência diz: "Não. Também há forças criativas dentro de nós. Basta aprender a agir a partir desse
    estado de consciência não-ordinário no qual voce tem escolhas". E o meu
    novo lema, em vez do cartesiano "eu penso, logo existo", e pensamento é
    uma condição behaviorista, meu novo lema é: "escolho, logo existo". Se
    é "escolho, logo existo", posso escolher a não-violência. Mas tenho de
    aprender como escolher, e isso exige criatividade. Essa é, realmente...
    a nova confiança do novo paradigma: em vez de escolher a metade
    condicionada do mundo, vamos dividir o mundo em condicionamento e
    criatividade. Forças do Bem e do Mal, das quais falamos antes. Podemos ser
    muito otimistas. Se essa mudança para o novo paradigma vier logo, talvez
    possamos realmente lidar com a violência de uma forma realmente prática, em
    vez de apenas verbalmente, como fazemos.
    Carlos Ziller: Quando eu estava fazendo a minha leitura dos seus
    trabalhos, percebi um sentimento que eu compartilho, de um incômodo profundo com relação a algumas conclusões que emergem de determinados meios científicos. Vou dar só um exemplo, acho que o telespectador vai se
    lembrar, certamente. Há algum tempo atrás apareceu um resultado de um
    laboratório do EUA que falava da descoberta do gene da homossexualidade.
    Mais recentemente falou-se no gene da obesidade, e há toda uma série de
    conclusões desse tipo que não deixam de produzir, nos homens de bom senso,
    uma certa surpresa, e, contudo, mesmo em homens que são materialistas e
    bem convencidos, que não aceitam, rejeitam esse determinismo radical
    que emerge de alguns ambientes científicos, sobretudo norte-americanos.
    Há um materialismo que convive muito bem com o livre-arbítrio. Há um
    realismo filosófico que convive muito bem, sem muito inconveniente, com
    paradoxos, com contradições. Isso não é, digamos, o todo, do que se
    poderia chamar de "atividade científica". Por fim, eu gostaria de fazer uma
    pergunta, e é a questão mais importante que eu teria a colocar, que
    emerge também de uma sensação que eu tive ao ler "O universo
    auto-consciente". Eu tive a sensação de retornar ao passado, aí sim uma
    viagem ao passado. Eu vi ali, arrumados, organizados de uma forma muito particular por voce, idéias e proposições que eu já havia conhecido em leituras,
    por exemplo, da obra do cardeal Nicolau de Cusa , grande pensador do
    século XV, que propôs que o universo era resultado de uma contração de
    Deus, e essa contração, enfim, não é o caso aqui de eu explanar essa
    filosofia. Mas esse tipo de pensamento, produziu, interagiu com concepções
    científicas do século XVI, do século XVII, com concepções que propunham
    que a divindade organizasse, ou enfim, propunha uma visão bastante
    parecida com essa, um projeto científico bastante parecido com esse que
    voce está propondo nesse seu livro. A humanidade passou por um processo
    muito longo, muito duro, para conseguir, digamos, não eliminar Deus da
    Ciência, mas pelo menos reduzir um pouco seu papel, esse processo foi
    longo e lento. Para concluir, como o senhor acredita poder convencer os
    cientistas desse seu projeto, depois de tanto esforço para conseguir
    criar uma noção de objetividade, de realidade, de realismo, com todos os
    exageros em alguns momentos, mas convencer esses homens depois de tanto
    esforço? O senhor imagina conseguir isso usando que gênero de recursos?
    Amit Goswami: Eu acredito que as idéias se verificarão por si mesmas,
    serão confirmadas nos laboratórios e serão úteis. A ciência tem dois
    critérios fundamentais. Por isso Galileu é chamado de pai da ciência
    moderna, pois ele enunciou claramente esses dois critérios. Um é que a
    ciência deve ser verificável. Ela deve ser verificada experimentalmente. E a
    segunda idéia é que a ciência deve ser útil. No aspecto da verificação,
    já apresentei alguns experimentos a voces, pois o tempo é curto, não
    entrarei em outros experimentos, mas digo que há um número enorme de
    experimentos sendo realizados, graças à Parapsicologia e interessados em
    Parapsicologia. Mas também em Biologia, e a Medicina é uma grande área de
    verificação experimental de algumas de nossas idéias. Mas a questão da
    utilidade é a mais importante. Deepak Chopra ficou famoso por um livro
    que escreveu, chamado Cura Quântica, lançado há 10 anos. Ele começou a
    revolucionar a Medicina, de certa forma, pois há um fenômeno chamado
    "efeito placebo" para o qual os cientistas não têm explicação. E esse
    trabalho, que é muito semelhante à minha forma de pensar, e eu tenho lido
    trabalhos citando a conexão entre as nossas idéias... Mas veja as
    implicações disso. Se, de fato, houver cura quântica, se houver Medicina
    mental, o efeito da mente sobre a cura, então as pessoas serão de fato
    ajudadas, não apenas no campo da Psicologia, mas no campo da verdadeira
    saúde física. A saúde física real, que importa para muito mais pessoas do
    que a saúde mental, ainda não estamos esclarecidos o bastante para
    levar a saúde mental tão a sério. Mas todos se preocupam com a saúde
    física, levam muito a sério. É a aplicação da nova Ciência a essas áreas,
    especialmente na área da saúde, que vai trazer a revolução de que Deus é
    importante, a consciência é importante, a criatividade é importante,
    observar o livre-arbítrio e responsabilidade é importante, que temos um
    paradigma científico que pode unir todas essas coisas, trazê-las para
    junto da velha ciência e ter formas objetivas de proceder e prever. Será
    uma ciência previsível, poderá ser verificada e também será útil. Isso é
    o que mudará a percepção do público. A percepção dos cientistas,
    também. Obrigado.
    Heródoto Barbeiro: Doutor Goswami, muito obrigado por vir.
    Amit Goswami: Muito obrigado. Foi um prazer estar aqui.

    Amor tenet omnia.
    cavaleiro_da_estrela@terra.com.br

    http://br.groups.yahoo.com/group/portaldosesotericos/
    posted by iSygrun Woelundr @ 3:50 da tarde   0 comments
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