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    sábado, dezembro 23, 2006

    Leitor (a) anônimo pergunta: "Ouvi falar que tem um rei do Marrocos com teorias novas que podem ser a base de um novo Islã. O que sabem disso?" - JAHMUSIC PESQUISA E EIS O QUE APURAMOS...


    Rei Mohammed VI, do Marrocos: buscando um sentido mais profundo nas páginas do Corão.

    O Que há com o Islã?
    Revista Época - 25/09/2006
    A violência do terrorismo suicida faz com que o mundo islâmico pareça sem saída. Aos Estados autoritários, como a monarquia saudita ou a república iraniana, parece opor-se apenas uma violenta militância islâmica. Há uma solução turca, que tenta impor o modelo ocidental e reservar a prática do islã à esfera privada. Mas ela obriga a uma mudança no coração do islã que as fontes da religião não autorizam. Não se pode ser islâmico sem uma dimensão política e social da religião. O Corão prevê que toda a ordem da vida seja determinada pelos ensinamentos de Maomé.

    Há, porém, outras leituras do Corão. Segundo o místico ortodoxo sudanês Mahmoud Muhammad Taha, o Corão foi revelado a Maomé em duas fases. A primeira foi em Meca, onde o profeta e seus seguidores viveram 13 anos como minoria religiosa. Essa mensagem seria de paz e liberdade, coexistência e igualdade de direitos, independentemente de sexo, classe social, raça ou religião. Seria o islã original. A segunda fase foi em Medina, que Maomé governou. Ali, os versos de compulsão da fé pela espada teriam prevalecido. Seria um islã adaptado às necessidade do século VII. No século XX, dizia Taha, os muçulmanos deveriam voltar sua atenção à mensagem de Meca. Mas Taha foi perseguido e enforcado pelo governo sudanês em 1985. Sua visão de islã ficou restrita a poucos fiéis.

    É por isso que a figura do rei do Marrocos, Mohammed VI, tem tanta importância. Mais novo representante de uma dinastia que está no poder há 350 anos e que reivindica uma descendência direta de Maomé, Mohammed VI está provocando uma tranqüila revolução em seu país. "Como Comandante dos Fiéis, não há a menor possibilidade de que combata a religião", diz Mohammed, aludindo a um dos títulos a que sua condição de rei do Marrocos lhe garante. "Eu combato a ignorância e a violência." Ele afirma que está tudo no Corão. No poder desde 1999, o jovem rei busca o sentido mais profundo das ordens de Maomé. E se preocupa mais em obedecer ao que seria a intenção do profeta que com as interpretações que se cristalizaram ao longo dos séculos. Assim, interpreta os ditos do profeta que descrevem a submissão da mulher ao marido não como indicação de que a mulher deve valer menos que homem.

    A intenção do profeta, diz o rei, era defender a família organizada e estável. Dessa visão decorreu uma reforma na legislação de família que, entre outros avanços impensáveis para o resto do mundo árabe, tirou do marido o direito de se divorciar da mulher apenas com uma declaração unilateral. Além disso, a mulher também pode entrar na Justiça pedindo divórcio. As mudanças implantadas por Mohammed VI têm agradado tanto à porção mais laica da sociedade quanto aos partidos islâmicos. Mas são muito recentes. Ainda não dá para dizer se terão futuro no Marrocos. Muito menos se esse descendente de Maomé vai conseguir um dia reinventar o islã.

    ************************************************

    Os movimentos das mulheres do Islã
    Le Monde Diplomatique
    O Marrocos adotou no início do ano [2004] uma nova lei sobre a família (mudawana). Uma reforma que marca data, pois erige em direito a igualdade entre os homens e as mulheres. O Marrocos é o segundo país árabe-muçulmano a dar esse passo. O primeiro foi a Tunísia. No entanto, atrás de uma fachada de abertura, o rei Mohamed VI, no trono desde 1999, exerce um poder absoluto e além desta lei sobre a família os avanços democráticos continuam limitados.

    A reforma da lei marroquina sobre a família é o fruto de um longo processo, impulsionado principalmente pelo rei e por um movimento de mulheres muito vigoroso, mesmo enquadrado pela charia (lei islâmica). As mulheres dispõem de agora em diante de um estatuto legal idêntico ao dos homens; têm o direito de iniciar um procedimento de divórcio, partilham dos direitos no seio da família e não estão mais sob a tutela de um homem da família (pai, irmão ou marido); são livres e independentes. Mas foi preciso aceitar compromissos. Por exemplo, a poligamia, claramente autorizada pelo Corão, não pôde ser abolida, mesmo que se tenha tornado quase impossível de praticar. Todavia, a tradução dos princípios da reforma em textos de lei revelou-se tumultuada. Um projeto de reforma precedente, o “Plano para a integração das mulheres ao desenvolvimento" foi apresentado em 1999 pelo primeiro ministro socialista Abderrahman Yussufi e depois apresentado ao Banco Mundial. O que suscitou as críticas do Ministro dos Assuntos Islâmicos, Abdelkebir Alaui M’Dghari. Finalmente, o debate tornou-se público, o governo recuou e dois campos se formaram: as militantes dos direitos das mulheres que se reuniram para criar a Primavera da Igualdade e do lado contrário, os islâmicos e seus aliados conservadores...


    Âncora na tradição árabe-muçulmana

    Em Rabat, em 12 de março de 2000, próximo ao Dia Internacional da Mulher, manifestações de apoio a este plano reuniram entre 100 mil e 200 mil pessoas, com a participação dos grupos de mulheres, de movimentos de direitos humanos e partidos políticos (e pelo menos seis ministros em exercício). Alguns reclamavam até uma reforma mais audaciosa. Em Casablanca, uma contramanifestação islâmica, denunciando o plano como pró-ocidental e anti-muçulmano mobilizou uma multidão visivelmente maior. O rei nomeou então uma comissão de quinze membros para revisar o plano e colocá-lo em conformidade com a lei islâmica. Entre as três mulheres da comissão figura Nuja Guessus, 50 anos, professora na faculdade de medicina e farmacologia em Casablanca, fundadora da Organização Marroquina dos Direitos Humanos (OMDH), sem rótulo político. Ela se declara feminista, "mas no sentido amplo: insiro meu percurso no universal e não acredito que isto esteja em contradição com os princípios fundamentais do Islã", esclarece. Em sua opinião, a denúncia do caráter pretensamente anti-muçulmano do plano obrigou "...os intelectuais marroquinos e as organizações de mulheres a elaborar uma argumentação muito sólida, fundamentada nas referências muçulmanas para provar que suas propostas não são ditadas pelas organizações internacionais ou as culturas ocidentais, mas que estão bem ancoradas também entre nosso patrimônio árabe-muçulmano. E esta é, na minha visão, a alteração tática mais importante na luta das mulheres”.

    A leitura do discurso no qual o rei anuncia a reforma é edificante: cada reforma é legitimada por uma referência ao Corão e às tradições proféticas, enquanto que o próprio conteúdo das mudanças é exatamente o mesmo do projeto do ano 2000. De um certo modo, os cinco atentados suicidas que mataram 45 pessoas em Casablanca em 16 de maio de 2003 aceleraram as decisões. De fato, este acontecimento sem precedente traumatizou profundamente a população. Se os terroristas pertencem ao jihad salafista, ligado à Al-Qaeda, muitos marroquinos lançam a responsabilidade destes atentados ao movimento de raiz islâmica, cuja antena parlamentar é o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (PJD). Na mesma hora, este apressou-se em aprovar o projeto revisado. Como explica Nouzha Guessus, os acontecimentos de 16 de maio soaram como uma sirene de alarme para os riscos de desvios extremistas e obrigaram cada um a tomar posição, inclusive o Estado marroquino. O que foi feito afirmando solenemente que não se tratava de modificar a escolha marroquina de construir um estado democrático, aberto, tolerante. Estes acontecimentos mostraram que o poder deveria levar em conta a situação geral do país particularmente no plano sócio-econômico. Igualmente, reforçaram a necessidade de mostrar que estamos em plena conformidade com os princípios do Islã.


    Nadia Yassine, porta-voz da Jama ‘a al-Adl wal-Ishan (Movimento Justiça e Caridade)

    As feministas leigas e as neo-sufistas

    As organizações de mulheres fundamentaram-se nas referências muçulmanas para provar que suas propostas não eram ditadas pelas organizações internacionais ou as culturas ocidentais O politólogo marroquino Mohamed Tozy qualifica de revolucionária esta reforma do código da família. Mas que, segundo ele, deverá ser acompanhada de um esforço de educação e de mudanças sociais. O que é confirmado por Leila Rhiwi, professora de comunicação na Universidade de Rabat e coordenadora da Primavera da Igualdade, formulando uma preocupação muito difundida no país: "Esta lei é de uma importância capital; põe a igualdade no lugar da submissão. Mas tenho medo de que na prática, diante dos tribunais em todo o Marrocos, não seja aplicada. Estamos deixando muita margem aos magistrados. Falta fazer muita coisa". E ela acrescenta: "Sou muçulmana do ponto de vista da contribuição cultural do Islã, mas inscrevo-me no registro do laicismo. Não recuso ser qualificada de ‘feminista leiga’. Começou-se a falar do laicismo ao mesmo tempo que da democracia, sobretudo depois do 16 de maio..."

    Consultora em administração e secretária geral de uma organização de direitos humanos, o Fórum Verdade e Justiça, Rhadija Ruissi, 40 anos, se reivindica feminista e completamente leiga. Ela também se preocupa com que "os juízes e magistrados não ponham em prática a nova reforma; são todos homens, só conhecem a discriminação".

    O que pensam a respeito disso as mulheres islâmicas elas mesmas, como Nadia Yassine, porta-voz da Jama ‘a al-Adl wal-Ishan (Justiça e Caridade), cujo pai, o Xeque Ahmad Yassine, 76 anos, fundador do movimento, escreveu em um livro intitulado Revolução na Hora do Islã que era preciso "islamizar a modernidade e não modernizar o Islã"? Nadia Yassine se considera "militante social neo-sufista" e rejeita o termo feminista, "revanchista demais" para seu gosto. Ela admite que a decisão de manifestar-se, em 2000, contra a reforma constituiu "um erro tático. Foi um gesto político, destinado a mostrar a força dos islâmicos. Mas também opúnhamo-nos à reforma porque ela emergiu da Conferência de Pequim (1), porque nos foi imposta pelo mundo exterior. Nossa sociedade talvez esteja doente, mas precisamos encontrar nosso próprios remédios. As mulheres ocidentais não tinham direito algum antes de lutar para obtê-los. No nosso país, aconteceu o inverso: fomos pouco a pouco privadas dos nossos".

    Mas acima de tudo, ela acha que "o mundo é espiritual por natureza. Para nós, os direitos das mulheres comportam três pólos: os homens, as mulheres e Deus. Lemos e relemos os textos sagrados: deu errado para as mulheres na época do califa Mu‘awiya (2) quando as mulheres tornaram-se escravas. Nós reivindicamos novos direitos, mas para uma melhor harmonia entre todos os membros da família. Os direitos das mulheres podem tornar-se prejudiciais e conduzir à desestruturação da família, que é preciso evitar”. Ela critica as deficiências da reforma: "A nova lei deveria ir muito mais longe e conceder às mulheres o direito de decidir, elas mesmas, em que condições aceitam a poligamia e o repúdio (3). E não toca em absoluto na questão da herança das mulheres".


    Movimento holístico e contestador

    As mulheres marroquinas estão divididas em dois campos monolíticos que se detestam e quase nunca se encontram : as leigas e as islãmicas O movimento de Nadia, o Al-Adl wal-Ihsan, exerce uma verdadeira influência, principalmente nas cidades e nas universidades (4): tem qualquer coisa de holístico, espalhando a esperança de transformação em todos os níveis, espiritual, político, cultural. Contesta o statu quo do rei e retira sua legitimidade de um real apoio popular. Recusando transigir em seus princípios, fica fora do sistema político. A maior parte de seus adeptos votam no PJD, partido religioso conservador que atrai os marroquinos ciosos da tradição. Segundo Hakima Mukatry, dirigente da Al-Adl wal-Ihsan em Rabat, suas idéias são muito diferentes das do PJD. "Eles aceitam jogar o jogo político, nós, não."

    Muitas mulheres que sofreram sob a velha mudawana são atraídas pelo Al-Adl wal-Ihsan, como Najia Rahman, 44 anos, que vem de Ujda, no leste do país. Era uma revoltada: recusava-se a cobrir a cabeça ou a rezar. Mas casou-se assim mesmo. Por desgraça. Depois de anos de maus tratos, unicamente dedicada aos filhos e ao trabalho, deparou-se com os escritos do Xeque Ahmad Yassine: "Eu disse a mim mesma, isto é novo; não é como Hassan al-Banna ou Sayyid Qotb (5). Eu tive de repente um estalo e aderi. Faz 18 anos. As militantes me encorajaram a divorciar-me, a retomar minha carreira, mas principalmente a pensar. Agora estou fazendo meu doutorado em psicologia." A lei sobre a família ? "Não vai ajudar-me a receber minha pensão de alimentos. O problema não é a lei. São as mentalidades, a corrupção, a ausência de educação das pessoas que estão nos tribunais de primeira instância". Reunidos em casa de uma pessoa em Casablanca, os membros do movimento trocam livremente seus pontos de vista sobre todos os assuntos, na presença de uma ou duas mulheres (o Al-Adl wal-Ihsan é misto) e sob a presidência de Nadia Yassine. Segundo eles, é preciso "dessacralizar a história muçulmana, reinterpretá-la, mudar as pessoas reeducando-as de A a Z". Eles dizem estar « prontos a jogar o jogo político, mas só se não estiver viciado, o que o palácio é incapaz de garantir. E não queremos simplesmente uma reforma eleitoral, mas uma real reforma constitucional. O palácio sabe que nós contestamos sua legitimidade. Mas nós contestamos também os privilégios do movimento das mulheres leigas. São elites francófonas."


    As infinitas variantes iranianas

    As militantes do Irã se definem em um número desconcertante de categorias : de tradicionais a modernas, de islâmicas a leigas, de conservadoras a esquerdistas, com infinitas variantes Assim, as mulheres marroquinas estão divididas em dois campos monolíticos que se detestam e quase nunca se encontram. No Irã, a situação se apresenta de modo totalmente diferente e as alianças são surpreendentes (6). As militantes se definem em um número desconcertante de categorias: de tradicionais a modernas, de islâmicas a leigas, de conservadoras a esquerdistas passando pelo centro liberal, com infinitas variantes. Entretanto, muitas militantes se identificavam, ao menos de início, com o movimento reformador liderado por Mohamed Khatami, com seu discurso sobre a sociedade civil, a liberdade de expressão e a importância do direito diante da oposição forte, às vezes violenta, dos « duros na queda » da teocracia conservadora. De fato, as mulheres e suas reivindicações de igualdade são uma das peças de equilíbrio do movimento pelas reformas democráticas.

    Seus sucessos, entretanto, são muito modestos. Principalmente por que as leis votadas pelo parlamento podem ser anuladas pelo Conselho dos Guardiães, que possui direito de veto. Assim, por exemplo, desde 29 de dezembro de 2003, as mães iranianas divorciadas conseguiram a possibilidade de conservar a guarda de seus filhos até a idade de sete anos (contra dois anos, antes). Elas já possuíam a guarda das filhas até sete anos, graças aos esforços encarniçados de Shirin Ebadi, qua atraiu a atenção para esta questão em 1997, defendendo a mãe divorciada de uma garotinha de seis anos, Aryan, morta pelos maus tratos infligidos por sua madrasta e seu irmão sob o teto do pai. Depois de duas décadas de má-vontade, esta pequena vitória apareceu como um avanço considerável.


    Vida de menor valor


    Como um todo, as mulheres e suas reivindicações de igualdade são uma das peças de equilíbrio do movimento pelas reformas democráticas Em junho de 2002, ao fim de um caminho igualmente longo, a idade mínima para casar passou a 13 anos para as meninas e a quinze para os meninos. Um compromisso. Na verdade, a lei votada pelo parlamento em agosto de 2000 preconizava respectivamente 15 e 18 anos. Todavia, desde 2001, toda mulher de mais de 18 anos tem o direito de viajar para o exterior sem autorização, exceto se for casada, quando deve então obter a permissão do marido (7). Mas outras leis votadas desde 2001 pelo parlamento - durante a sexta reunião da majlis (8) foram invalidadas: reforma das leis sobre a imprensa e o divórcio, proibição da tortura nas prisões, adesão à Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW). O essencial se mantém: a vida de uma mulher continua a valer menos que a de um homem. Assim, o "preço do sangue" (a compensação paga em caso de acidente ou morte) é inferior em metade ao que é pago por um homem (do mesmo modo que o adepto de uma religião minoritária só vale a metade de um muçulmano).

    Há também há a questão do hidjab, o código vestimentário obrigatório para um muçulmano (seu desrespeito pode ter como conseqüência até 74 chicotadas). Depois de anos de silêncio, a questão é enfim levantada, no governo de Khatami, por religiosos reformadores que se expressam em diferentes publicações e dos quais o mais conhecido é o ex-ministro do interior, Abdollah Nuri. Por ter explicado que a charia obriga a mulher crente a cobrir a cabeça e o corpo mas não diz nada a respeito das que não crêem, foi jogado na prisão por cinco anos (9).

    Os novos debates tornaram-se públicos graças à revista mensal Zanan (Mulheres) fundada em 1992 por Shahla Sherkat e celebrizada graças a um feminismo engajado que não se afasta demais do Islã. Zanan representa de longe a maior tiragem da imprensa feminina, até 40 mil exemplares. Sua concorrente mais séria só vende 5 000 exemplares. “Quando lancei Zanan, conta Shahla Sherkat, eu queria simplesmente fazer algo de útil com meus dez anos de experiência com os problemas das mulheres. Foi preciso uma certa coragem. A palavra « feminista » era uma injúria. Eu não queria passar por uma partidária do feminismo, eu só queria debatê-lo. O feminismo é um fenômeno inteiramente novo aqui: pode encorajar as mulheres a protestar juntas contra a desigualdade entre os sexos. É por isso que eu recuso juntar-lhe qualquer adjetivo, como «islâmico» ou «leigo». Não me preocupo muito com os rótulos. Eu sou simplesmente feminista".


    Repressão aos questionamentos


    O ex-ministro Abdollah Nuri foi jogado na prisão por ter explicado que a charia obriga a mulher crente a cobrir a cabeça e o corpo mas não diz nada a respeito das que não crêem. Durante um colóquio em Berlim em 2000, Shahla Sherkat questionou publicamente as regras da hidjab. Outros reformadores conhecidos tomaram parte nisso e todos foram punidos, Shahla Sherkat com seis meses de prisão com sursis. Shahla Lahiji, militante dos direitos humanos e diretora há vinte anos das edições Roshangran (premiadas pelo PEN internacional nos Estados unidos e pelo Prêmio Pandora no Reino Unido) pegou quatro anos e meio de reclusão (a pena foi reduzida a seis meses) por ter falado da censura. "A questão das mulheres é ainda muito delicada”, explica ela. “A expressão ’feminista islâmica’ cria problemas: as pessoas pensam que você se acha superior aos homens e que você anda pelada. O problema é que a religião se imiscuiu na vida privada: temos necessidade de separar a religião e o Estado. Eles (os mulás) gostariam de acentuar a segregação, com jardins públicos e ônibus reservados para as mulheres, etc. Agora, o que nós realmente precisamos é educar os homens." É proibido a Shahla Lahiji fazer uso da palavra em público. Como todo mundo no Irã, ela aceita a regra. Ela usa o hidjab “porque é a lei. Mesmo se eu não gosto do que está por trás, isto é, "Vocês, mulheres, vocês são o coração do pecado". Mas ela não se amargurou. Pelo contrário, extravasa esperança. E lembra os efeitos da guerra contra o Iraque nos anos 1980: "Mulheres tornaram-se chefes de família e isso deu-lhes confiança. Foi o começo. Hoje, a nova geração faz coisas espantosas. Há tantos talentos no nosso país. Veja o cinema! Não há muitos papéis femininos e não pode haver contato físico entre os sexos, mas veja quantos realizadores de primeira linha são mulheres! E quantas se formam: moças nos bancos das universidades estudando matemática ou as tecnologias da informação. No ano passado, mais de 60% dos estudantes do primeiro ano eram mulheres. Com todas as limitações que nos são impostas, é pura magia”.


    Os “direitos humanos” no Irã

    "A expressão ’feminista islâmica’ cria problemas. O problema é que a religião se imiscuiu na vida privada. Temos que separar a religião e o Estado", diz Shahla Lahiji Nuchim Ahmadi Rhorasani, 35 anos, é uma outra personalidade aberta e leiga. Ela publica um periódico trimestral, Fasl Zanan (A Estação das Mulheres) e milita pelos direitos humanos. Ela dirige, com Parvin Ardalan, o Centro Cultural da Mulheres, que monta espetáculos em público desde 1999, apesar do assédio oficial considerável do qual são objeto. Conseguiram criar uma associação não-governamental, mas nisso levaram dois anos: não têm nenhuma das vantagens ou financiamentos aos quais as associações não-leigas têm direito. Ahmadi Rhorasani e Parvin Ardalan se designam abertamente como feministas: "E somos leigas. Não temos necessidade de dizê-lo. No Irã, isto está implícito na expressão ’direitos humanos’, que subentende a separação entre a religião e o Estado. Até os dois últimos anos, a palavra feminista também era sinônimo de leiga. Nem a própria Shirin Ebadi se dizia feminista nessa época". De seu lado, Azam Taleqani, diretora da revista reformadora Payam-e-Hajer (A Mensagem de Hajer) atualmente proibida, é uma militante da velha escola, inserida na corrente nacional-religiosa. Esta filha de um célebre aiatolá, envelhecida e doente, continua muito respeitada. "Os homens deveriam reavaliar a situação das mulheres, mas eu me preocupo com o conjunto da sociedade, não somente das mulheres". Apesar de sua saúde debilitada, foi candidata na última eleição presidencial, "para testar a constituição: não há razão alguma para que uma mulher não possa se candidatar". Durante o verão de 2003, protestou sozinha, o dia inteiro sob um calor escaldante, contra a morte na prisão, no dia 12 de julho, da jornalista iraniano-canadense Zahra Kazami, presa por ter fotografado a prisão de Evin. Como essa mulher indomável se define ? Ela sorri: "Se eu soubesse, seria sem dúvida mais eficiente. Espero sabê-lo antes de morrer."


    O “feminismo muçulmano”

    Mahbubeh Ommi Abbasqolizadeh, 44 anos, dirige desde 1993 o jornal trimestral Farzaneh (Sábia), primeira revista iraniana dedicada aos estudos feministas (women’s studies). Ela dirige também várias organizações, umas governamentais, outras não. Seu sucesso, diz-se, vem do fato de que ela soube continuar próxima do establishment islâmico. Ela conta seu itinerário: "Eu era islâmica na época da revolução. Depois, nos anos 1980, eu estudei no Egito, inclusive as questões de gênero. Tornei-me feminista islâmica, o que significa militar a favor de avanços muito mais importantes por meio do que chamamos de ’jihad dinâmico’. Mas hoje, eu mudei de novo, eu me defino como feminista muçulmana e apóio-me nos movimentos dos intelectuais religiosos”. Entre estes últimos, uma das personalidades mais respeitadas, Hamidreza Jalaeipur, professor de sociologia na Universidade de Teerã se explica: "Sou muçulmano, mas não islâmico. Não creio no Islã como ideologia. Nós, intelectuais religiosos cremos em uma ’laicidade objetiva’, na separação da religião e do Estado como instituições mas não em termos de cultura." Segundo ele, "o Irã passou por uma fase fundamentalista: muitos entre nós tornaram-se ’pós-fundamentalistas’ e nós preconizamos um Islã mínimo. Um exemplo de ’laicidade objetiva’? "Talvez seja a Turquia, sob o atual governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, que se aproxima mais."

    Mahbubeh Abbasqolizadeh observa: "Já que não temos a laicidade, esta representa para nós a democracia. Eu creio que é possível reconciliar o Islã e a democracia. A dificuldade surge quando se trata de aplicar este princípio às mulheres. E uma idéia muito nova."

    Mulheres como Shirin Ebadi têm um papel importante a desempenhar. Em sua modesta casa em Teerã, lenço de azul brilhante na cabeça, esta advogada de 56 anos, militante dos direitos da mulheres e das crianças, ainda acha que a reforma e o Islã são compatíveis. "Em todo caso, a constituição preconiza sua própria revisão se a necessidade se fizer sentir: ela prevê um procedimento de referendo com a possibilidade de modificar a lei. Então, as reformas não são impossíveis." Com relação às mulheres, ela assegura: "O movimento das mulheres está cada dia melhor organizado e mais solidário. As mulheres iranianas são instruídas o bastante, não precisam de chefes. Elas são unidas, corajosas, conscientes. E continuarão a lutar pela igualdade dos direitos.”

    Shirin Ebadi se diz muçulmana. Como Nuja Guessus no Marrocos, ela sabe que é preciso encontrar um terreno de entendimento onde o Islã possa coexistir com os direitos universais e a democracia. (por Wendy Kristianasen - Trad.: Betty Almeida)

    1 - Conferência internacional sobre os direitos das mulheres sob a égide da Organização das Nações Unidas que aconteceu em Pequim em 1995.

    2 - Primeiro califa da dinastia dos omêiadas (657-680). 3 - Os homens muçulmanos têm o direito de repudiar (divorciar-se) as esposas verbalmente (N.T.).

    4 - Nadia Yassine afirma que o movimento conta com centenas de milhares de simpatizantes, enquanto que o islamólogo marroquino Mohamed Tozy os situa entre dez e vinte mil.

    5 - Respectivamente fundador dos Irmãos Muçulmanos em 1928 e um de seus teóricios que será executado por Nasser em 1965.

    6 - Ler principalmente Azadeh Kian, “ des femmes iraniennes contre le clergé ”, Le Monde diplomatique , novembro de 1996.

    7 - Certas reformas foram introduzidas nos anos 1980-1990: as mulheres foram autorizadas a estudar certos assuntos que lhes eram proibidos antes, o acesso ao planejamento familiar e à contracepção tornaram-se livres, as leis sobre o divórcio tiveram emendas e a s mulheres foram nomeadas magistradas consultoras (Ebadi perdeu seu posto de magistrado em 1979).

    8 - Ler: Ziba Mir-Hosseini, “The Conservative-Reformist Conflict over Women’s Rights in Islam”, Intern ational Journal of Politics, Culture and Society, n° 16 (1), Boston, outono de 2002; “Debating Women: Gender and the Public Sphere in Post-Revolutionary Iran”, in Amyn Sajoo (ed), Civil Society in Comparative Muslim Contexts, I. B. Tauris & Institute of Ismaili Studies, London, 2002; Islam and Gender: the Religious Debate in Contemporary Iran, Princeton University Press, 1999 e I. B. Tauris, Londres, 2000.

    9 - Ler: Ziba Mir-Hosseini, “The Conservative-Reformist Conflict over Women’s Rights in Islam”, International Journal of Politics, Culture and Society, n° 16 (1), Boston, outono de 2002; “Debating Women: Gender and the Public Sphere in Post-Revolutionary Iran”, in Amyn Sajoo (ed), Civil Society in Comparative Muslim Contexts, I. B. Tauris & Institute of Ismaili Studies, London, 2002; Islam and Gender: the Religious Debate in Contemporary Iran, Princeton University Press, 1999 e I. B. Tauris, Londres, 2000.


    FONTES
    O que há com o Islã? - Revista ÉPOCA
    publicado em 25/09/2006
    Os Movimentos das Mulheres do Islã - Le Monde Diplomatique
    publicado em ABRIL/2004

    pesquisa: Ligia Cabús (Mahajah!ck)
    posted by iSygrun Woelundr @ 1:34 da tarde  
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