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Hermes Trimegisto |
quarta-feira, dezembro 20, 2006 |
Hermeticismo Fusão da religião grega com a antiga religião do Egito, as crenças do hermeticismo estavam contidas em um corpo de textos conhecido como Corpus Hermeticum. Essa obra, de autor desconhecido, recebeu esse nome devido ao personagem principal, Hermes Trimegisto (Hermes, o Três Vezes Grande). Alguns ocultistas alegavam que o autor era o próprio Trimegisto, um sábio egípcio que viveu no tempo dos faraós e foi contemporâneo de Moisés. Outros o associaram ao deus grego Hermes, cujo equivalente egípcio, Toth, era o escriba dos deuses e senhor dos livros sagrados. O Corpus Hermeticum é apresentado na forma de diálogos entre Trimegisto, Toth e diversas outras deidades egípcias, inclusive Ísis. Os estudiosos salientam que pouca coisa do texto é de fato original; na verdade, grande parte da visão do mundo dos herméticos é baseada na filosofia de Platão. Os herméticos viam o mundo em termos de luz e trevas, bem e mal, espírito e matéria. Do mesmo modo que seus contemporâneos, os gnósticos, os praticantes pregavam um dualismo mente-corpo, e a salvação através da possessão do conhecimento verdadeiro e divino. Da quantidade colossal de obras escritas atribuídas a Hermes Trimegisto não foram muitas as que sobreviveram, para além de quatorze breves textos escritos em grego e uma série de fragmentos preservados por autores cristãos. Tais obras exprimem noções místicas e filosóficas próprias desta época primitiva. A mais conhecida dentre elas intitula-se Poimandres, o Bom Pastor, da qual alguns passos apresentam uma semelhança notável com o Evangelho de São João, enquanto que outros fazem lembrar o Timeu de Platão. Também poderemos vislumbrar nelas reflexos do pensamento judaico, tal como é expresso por Fílon. Além destes escritos, atribuem-se a Trimegisto alguns tratados de magia, cujo tema fulcral é a astrologia e onde a alquimia é tratada de um modo um tanto ou quanto vago. Os livros herméticos foram considerados pelos alquimistas como um legado que Hermes lhes fez dos segredos que estavam dissimulados em alegorias, a fim de que a preciosa sabedoria não fosse cair em mãos profanas. Somente os sábios eram capazes de se orientar neste labirinto místico. O passo de Hermes mais freqüentemente citado, o credo dos adeptos, era a inscrição descoberta numa placa de esmeralda ”nas mãos da múmia de Hermes, num fosso recôndito, onde jazia o seu corpo enterrado”,situado segundo a tradição, na grande pirâmide de Gizé. O documento tem o nome de “Placa de Esmeralda” e está por demais intimamente relacionado com a alquimia para não o reproduzirmos na íntegra: “ É verdade, sem falsidade e extremamente real: aquilo que está no alto é igual àquilo que está em baixo, para perpetrar os milagres de uma coisa. E, como todas as coisas derivaram de uma, pelo pensamento de uma, assim todas as coisas nascem desta coisa, por adoção. O sol é o seu pai, a lua é a sua mãe. O vento trouxe-a no seu ventre, a terra é a sua arma. Eis o pai de toda a perfeição do mundo. A sua força e poder são absolutos quando transformados em terra: tu separarás a terra do fogo, o sutil do grosseiro, suavemente e com cuidado. Ela ascende da terra até ao céu e desce de novo à terra para receber o poder das coisas superiores e inferiores. Por este meio, tu terás a glória do mundo. E, devido a isto, toda a obscuridade fugirá de ti. No interior disto está o poder, o mais poderoso de todos os poderes. Pois ela superará todas as coisas sutis e penetrará todas as coisas sólidas. Assim foi criado o mundo. A partir disto existirão e surgirão adaptações admiráveis cujos meios para atingi-las estão aqui. E, por esta razão, chamo-me Hermes Trimegisto, possuindo as três partes da filosofia do mundo. O que eu disse sobre as operações do sol já se realizou”. Os alquimistas reconheciam nestas alegorias as várias fases do processo de fabricação do ouro, ainda que a ambiguidade dos termos se prestasse a infinitas interpretações
A Chave Hermes. O ensinamento que eu apresentei ontem, Asclepius, eu o dediquei a você; e é correto que eu dedique a Tat o que eu vou apresentar hoje; pois este é um resumo dos Discursos Gerais que eu tenho dirigido a ele. Saiba então, Tat, que Deus, o Pai, é da mesma natureza que o Bem; ou melhor, o trabalho de Deus, o Pai, é um com o trabalho do Bem. 'Natureza' é um termo aplicado para nascimento e crescimento, e nascimento e crescimento têm a ver com coisas sujeitas à mudança e movimento; mas o trabalho de Deus tem a ver com coisas livres de mudança e movimento, isto é, com coisas divinas; e é vontade de Deus que o que é humano deva ser divino. Sobre as forças relativas ao trabalho, divino e humano, eu falei em outro lugar; e para lidar com nosso tópico presente, como também com outros assuntos, você deve manter em mente o que eu lhe ensinei relativo a eles. A força com que Deus trabalha é sua vontade; e seu ser consiste em desejar a existência de todas as coisas. O que mais é Deus, o Pai, a não ser o ser de todas as coisas quando ainda elas não são? É isto (a vontade de Deus) que constitui a existência de todas as coisas que são. Tal então é Deus, tal é o Pai. E a ele pertence o Bem; pois o Bem é uma coisa que pode pertencer a ninguém mais a não ser Deus. É verdade que o Kosmos é também pai das coisas que são boas da mesma forma que elas participam do Bem; mas o Kosmos não é, na mesma medida que Deus, o autor do que é bom nas criaturas vivas; pois o Kosmos não é o autor de suas vidas; ou se ele age como um autor da vida, ele o faz tão somente debaixo da compulsão imposta nele pela vontade de Deus, sem a qual nada pode ser ou vir a ser. O Kosmos está para as coisas dentro dele como um pai para suas crianças, e nisto ele é o autor de sua geração e nutrição; mas ele recebeu de Deus sua provisão do bem. É o Bem que é o princípio criativo; e é impossível que o princípio criativo possa ser algo exceto Deus, - Deus, que não recebe nada, mas deseja a existência de todas as coisas. Eu não direi, 'faz todas as coisas'; pois aquele que 'faz' coisas falha na realização desta função durante longos intervalos de tempo, onde ele às vezes faz, e em outros momentos ele não faz. E além disso, aquele que 'faz' coisas faz apenas qualidades e magnitudes; pois ele faz coisas que têm certas magnitudes e qualidades uma vez, e qualidades e magnitudes contrárias em outros momentos. Mas Deus faz através de sua vontade a existência de todas as coisas; e é neste sentido que ele é o Pai de todas as coisas. Pois Deus deseja que as coisas sejam, e deste modo, estas coisas têm também existência. Mas o Bem propriamente dito, meu filho, existe no grau mais alto; pois é por causa do Bem que todas as outras coisas existem. ... Pois é uma propriedade do Bem que ele se torne conhecido por aquele que seja capaz de vê-lo. -Tat. Pai, você me preencheu com esta visão boa e bela; e o olho da minha mente está quase cego pelo esplendor desta visão. -Hermes. Não, a visão do Bem não é uma coisa de fogo, como são os raios do sol; não nos queima nem nos força a fechar os olhos; ele brilha adiante muito ou pouco, de acordo com a capacidade daquele que o olha em receber o influxo do esplendor incorpóreo. É mais penetrante que a luz visível em sua descida para nós; mas ele não pode nos causar dano; ele está repleto de toda vida imortal. Até os que podem absorver um pouco mais que outros daquela visão, são novamente e novamente afundados no sono cego pelo corpo; mas quando eles são liberados do corpo, eles atingem o prazer completo daquela visão mais adorável, como Uranos e Kronos, nossos antepassados, atingiram. -Tat. Poderemos nós também, meu pai, atingir esta visão? -Hermes. Nós poderíamos, meu filho. Mas nesta vida estamos ainda muito fracos para ver aquela visão; nós não temos força para abrir nossos olhos mentais, e ver a beleza do Bem, aquela beleza incorruptível sobre a qual nenhuma língua pode falar. Assim, você só verá isto, quando você não puder falar disto; pois o conhecimento disto é um silêncio profundo, e a supressão de todos os sentidos. Aquele que apreendeu a beleza do Bem não pode apreender nada mais; aquele que a viu, não pode ver nada mais; ele não pode ouvir falar sobre nada mais; ele nem mesmo pode mover seu corpo; ele esquece todas as sensações corporais e todos os movimentos corporais, e está imóvel. Mas a beleza do Bem banha sua mente em luz, e toma toda sua alma para si, e desenha isto adiante do corpo, e muda o homem inteiro em uma substância eterna. Pois não pode ser, meu filho, que uma alma se torne um deus enquanto ela morar em um corpo humano; isto deve ser mudado, e então contemple a beleza do Bem, e com isto, se torne um deus. -Tat. O que você quer dizer, pai, dizendo que a alma 'deve ser mudada'? -Hermes. Toda alma separada, meu filho, passa por muitas mudanças. -Tat. E o que é uma alma separada? -Hermes. Você não me ouviu dizer em meus Discursos Gerais, que todas estas almas que trocam de lugar ao longo do Kosmos são, por assim dizer, cortadas e fracionadas a partir de uma alma, mesmo a alma do universo? Estas almas sofrem muitas mudanças, porque algumas delas passam para um lugar mais feliz, e outros para um lugar pior. Almas de natureza de coisas rastejantes mudam em coisas que moram nas águas; as almas que moram nas águas, em bestas que moram na terra; as almas que moram na terra em pássaros do ar; as almas que voam no ar, em homens. E as almas humanas, quando elas atingiram o início da vida imortal, mudam em daemons, e depois disso passam para a dança coral dos deuses; [Existem dois grupos corais de deuses; um é o dos planetas, e o outro é o das estrelas fixas] isto é o coroamento de glória da alma. Mas se uma alma, quando entrou em um corpo humano, persiste no mal, ela não saboreia o doce da vida imortal, mas é arrastada de volta novamente; ela reverte seu curso, e aceita tomar seu caminho de volta para as coisas que rastejam; e aquela alma desafortunada, tendo falhado em conhecer a si mesma, vive em servidão a corpos rudes e nocivos. Para esta perdição, as almas malignas são condenadas. E o vício da alma é a falta de conhecimento. Uma alma que não ganhou nenhum conhecimento das coisas que são, e nem chegou a conhecer suas naturezas, nem a conhecer o Bem, mas é cega, - tal alma é lançada no meio das paixões que o corpo cria; conduz o corpo como um fardo, e é governada por ele, ao invés de governa-lo. Isto é o vício da alma. Por outro lado, a virtude da alma é o conhecimento. Aquele que obteve conhecimento é bom e piedoso; ele já é divino. -Tat. E quem é tal pessoa, meu pai? -Hermes. Aquele que não fala muitas palavras, nem escuta muitas conversas. Aquele que gasta seu tempo em disputas e em escutar as palavras dos homens, está lutando contra o ar, meu filho; pois o conhecimento de Deus, o Pai, não pode ser ensinado pela fala, nem aprendido pela audição. ... O conhecimento difere muito da percepção dos sentidos. A percepção dos sentidos acontece quando aquilo que é material tem o domínio; e ele usa o corpo como seu órgão, pois ele não pode existir separadamente do corpo. Mas o conhecimento é incorpóreo; o órgão que ele usa é a mente em si; e a mente é contrária ao corpo. Uma alma então, quando ela entrou em um corpo, admite em si mesma ambas as coisas, materiais e da mente. Não pode ser de outra forma; pois todas as coisas devem precisar ser compostas de opostos e contrários. E vendo que isto é assim em todas as coisas que existem,... (fragmento perdido) - Tat. O que então devemos pensar sobre este Deus material, o Kosmos? -Hermes. O Kosmos não é realmente mau, mas não é bom, como Deus é; pois ele é material, e sujeito a perturbação. É o primeiro entre todas as coisas que são sujeitas a perturbação, mas o segundo no meio das coisas que são. O Kosmos é também sempre-existente; mas ele existe em processo de tornar-se; está sempre se tornando, nisto as qualidades e magnitudes das coisas estão sempre vindo a ser. Ele está então em movimento; pois todo o tornar-se é movimento materia1. Aquilo que é incorpóreo e imóvel trabalha o movimento material; e ele faz isto do seguinte modo. O Kosmos é uma esfera, quer dizer, uma cabeça; e então, todas as coisas que são unidas à membrana cerebral desta cabeça, - a membrana em que a alma está principalmente colocada, - são imortais, pois elas têm nelas mais alma que corpo; mas as coisas que estão distantes da membrana cerebral são mortais, pois elas têm nelas mais corpo que alma. Deste modo o universo é composto de uma parte que é material e uma parte que é incorpórea; e considerando como o corpo é feito com uma alma nele, o universo é uma criatura viva. O Kosmos é o primeiro entre todas as criaturas vivas; o homem, como uma criatura viva, figura logo depois do Kosmos, e é o primeiro entre aqueles que são mortais. O homem não é somente não-bem; ele é o mal, uma vez que ele é mortal. O Kosmos é não-bem, pois é sujeito a movimento; mas ele é não-mal, pois é imortal. O homem, por outro lado, é ambos: não-bem, por ser sujeito a movimento, e mal, por ser mortal. E a alma do homem é veiculada deste modo. A mente tem como seu veículo a alma; a alma tem por seu veículo o espírito vital; e o espírito vital, atravessando as artérias junto com o sangue, move o corpo, e o carrega como um fardo. Consequentemente, alguns pensaram que a alma é o sangue. Mas aqueles que pensam assim estão enganados sobre sua natureza; eles não sabem que na morte a alma deve deixar o corpo primeiro, e então, quando o espírito vital retirou-se para a atmosfera, o sangue deve coagular ao longo do curso das veias, e deixar as artérias esvaziadas. Isto causa a morte do corpo. Todas as coisas são dependentes de uma primeira causa; e esta primeira causa é dependente do Uno e Único. A primeira causa é movida, de forma que Ele possa vir a ser a primeira causa de todas as coisas; apenas o Uno permanece, e não é movido.
Existem estes três então, - Deus, Kosmos e o Homem. O Kosmos é contido por Deus, e o homem é contido pelo Kosmos. O Kosmos é filho de Deus; o homem é filho do Kosmos, e neto, por assim dizer, de Deus. Deus então não ignora o homem, mas o reconhece completamente, e deseja ser reconhecido por ele. E isto, o conhecimento de Deus, é a salvação do homem; isto é a subida para o Olimpo; e através disto apenas pode uma alma se tornar boa. ... e ele nunca permanece bem, mas se torna mal por necessidade. -Tat. O que você quer dizer, pai? -Hermes. Olhe para a alma de uma criança, meu filho, uma alma que ainda não aceitou sua separação de sua fonte; pois seu corpo é ainda pequeno, e ainda não cresceu o bastante para atingir seu tamanho pleno. Como é bela tal alma! Não é ainda enganada pelas paixões corporais; está ainda pouco separada da alma do Kosmos. Mas quando o corpo aumenta seu tamanho, e puxa para baixo a alma, para dentro de sua massa material, isto acarreta o esquecimento; e então a alma separa a si mesma do Belo e do Bem, e não mais participa disto; e através deste esquecimento a alma se torna o mal. Mas quando os homens deixam o corpo, o processo é invertido. A alma ascende para seu lugar próprio, e é separada do espírito vital; e a mente é separada da alma. Assim a mente, que é divina por natureza, é liberada de seus revestimentos; e assume para si mesma um corpo de fogo, e move-se livremente através de todo espaço, conduzindo a alma a ser julgada e castigada de acordo com seu merecimento. -Tat. O que você quer dizer, pai, dizendo que a mente é separada da alma? -Hermes. Meu filho, o estudante devia compartilhar o pensamento de seu professor; ele deve ser mais rápido em sua escuta que o professor em sua fala. É apenas em um corpo terrestre que a mente e a alma são unidas. A mente não pode, desnuda e só, tomar sua morada em um corpo terrestre; um corpo de terra não pode suportar a presença daquele ser poderoso e imortal, nem pode um poder tão grande suportar entrar em contato com um corpo manchado pela paixão. E então a mente toma para si a alma como um manto; a alma, - pois a alma é também em alguma medida divina, - usa como seu manto o espírito vital; e o espírito vital controla o corpo. Pois o espírito vital está envolto no sangue, e a alma no espírito vital. A mente então, quando ela partir do corpo terrestre, veste a si mesma em seguida em sua investidura própria, isto é, uma roupagem de fogo, que ela não pode reter quando toma sua morada no corpo terrestre. Pois a Terra não pode sustentar o fogo; até uma pequena faísca é o bastante para deixar isso tudo em chamas; e é por esta razão que a Terra é cercada pela água, que serve como uma barreira e defesa para protege-la do calor flamejante do fogo. Mas a mente, que é a mais intensa de todas as coisas incorpóreas, tem em seu corpo de fogo, o mais intenso de todos os elementos materiais. A mente é a criadora de coisas, e em fazer as coisas ela usa o fogo como seu instrumento. A mente do universo é a criadora de todas as coisas; mas a mente humana cria apenas coisas terrestres; pois a mente que está no homem está desnudada de sua veste de fogo, e então não pode fazer coisas divinas, sendo somente humana, por causa de seu lugar de morada. Agora a alma humana, - não realmente toda alma humana, mas a alma piedosa, - é demoníaca (no sentido de daemon - um ser sobrenatural, não necessariamente mau - nota do tradutor) e divina. E tal alma, quando ela alcançou a devoção, - e isto significa, quando ela conhece Deus, e não foi injusta com homem nenhum, - torna-se mente em todas as partes; e é ordenado que depois que ela deixar o corpo, quando ela se tornar um daemon, ela deve receber um corpo de fogo, de forma que ela possa trabalhar a serviço de Deus. Mas a alma incrédula retém sua próprio substância inalterada; sofre um castigo auto-infligido, e busca um corpo terrestre onde possa entrar. Mas ela pode entrar em um corpo humano somente; pois nenhum outro tipo de corpo pode conter uma alma humana. (Nota do original em inglês: este trecho coloca-se em oposição com o que foi escrito acima e deve ter sido escrito por outro autor e atribuído também a Hermes) Não é permitido que uma alma humana deva cair tão baixo para entrar no corpo de um animal irracional; é uma lei de Deus que almas humanas devam ser mantidas protegidas de uma afronta como esta. -Tat. Diga-me então, Pai, como são as almas humanas castigadas! -Hermes. Por que, que castigo maior pode existir, meu filho, que a impiedade? Que fogo queima com uma chama tão feroz quanto a impiedade? Que besta voraz tem tal poder para mutilar o corpo, como a impiedade tem para mutilar a alma! Você não vê que torturas a alma incrédula suporta? Ela grita 'eu estou em chamas, eu estou queimando; eu não sei o que dizer ou o que fazer; miserável eu sou, eu sou devorado pelas misérias que se mantêm em mim.' Não são tais gritos os clamores de uma alma que está sofrendo castigo! Ou você também, meu filho, supõe, como a maioria dos homens faz, que uma alma, quando ela deixa o corpo, entra em uma besta! Isto é um erro muito grande. As almas são castigadas deste modo: a mente, quando ela entra em uma alma incrédula, atormenta-a com os açoites de seus pecados, e por estes açoites é castigada: é impelida para a blasfêmia contra Deus, assassinatos, atrocidades e ações múltiplas de violência pelas quais os homens são injustiçados. Mas quando a mente entra em uma alma piedosa, conduz aquela alma para a luz do conhecimento: e tal alma nunca se cansa de rezar e abençoar a Deus, e fazer todo tipo de bem para todos os homens, através de palavras e ações, em imitação a seu Pai. Então, meu filho, quando você estiver dando graças a Deus, você deve rezar para que a mente atribuída a você seja uma boa mente. Uma alma então pode subir para um grau mais alto de ser, mas não pode submergir para um grau mais baixo. Existe comunhão entre alma e alma. As almas dos deuses estão em comunhão com as dos homens, e as almas dos homens com aquelas das criaturas irracionais. A mais alta tem a mais baixa em seu fardo; deuses cuidam dos homens, e homens cuidam das criaturas irracionais. E Deus cuida de tudo; pois Ele é o mais elevado. O Kosmos então está sujeito a Deus; o homem está sujeito ao Kosmos; as criaturas sem razão estão sujeitas ao homem; e Deus está acima de tudo e vigia tudo. As forças divinas são por assim dizer radiações emitidas por Deus; as forças que trabalham o nascimento e crescimento são radiações emitidas pelo Kosmos; a arte e ofícios são radiações emitidas pelo homem. As forças divinas operam por meio do Kosmos e sua operação alcança o homem por meio das radiações cósmicas às quais o nascimento e crescimento são devidos; e as forças que trabalham o nascimento e crescimento operam por meio dos elementos materiais. Deste modo o universo é administrado. Todas as coisas são dependentes apenas do ser de Deus e são administradas por meio de mente, apenas. Não existe nada mais divino que a mente, nada mais potente em sua operação, nada mais hábil para unir homens aos deuses, e deuses aos homens. A mente é o 'bom daemon'; santificada seja a alma que está preenchida com a mente, e desafortunada é a alma que está destituída dela. -Tat. Novamente eu pergunto a você, pai, o que você quer dizer com isto? -Hermes. Você pensa então, meu filho, que toda alma tem uma mente? [Isto é, a boa mente; pois é da boa mente que eu estou falando agora, e não da mente que eu falei antes, isto é, a mente que é empregada em serviço, e é enviada abaixo por justiça penal.] Geralmente a mente deixa a alma; e nestas ocasiões, a alma não pode nem ver nem ouvir, mas é como um besta destituída de razão. Pois um alma sem mente 'não pode nem dizer nada nem fazer nada'; tão grande é o poder da mente. Nem pode a mente suportar uma alma entorpecida; abandona a alma que está fixada ao corpo, e segura no abraço do corpo. Tal alma, meu filho, não tem nenhuma mente nela; e então tal ser não deve ser julgado um homem. Pois o homem é um ser de natureza divina; ele é comparável, não com as outras criaturas vivas na Terra, mas com os deuses no céu. Não, se nós formos falar a verdade sem medo, aquele que é realmente um homem está acima dos deuses do céu, ou de qualquer modo ele os iguala em poder. Nenhum dos deuses do céu irá jamais deixar o céu, e ultrapassar seu limite, e vir até a Terra; mas o homem ascende até o céu, e o mede; e o que é mais importante, ele vai para o céu sem deixar a Terra; pois para uma distância tão vasta ele pode estender seu poder. Nós não devemos temer, então, dizer que um homem na Terra é um deus mortal, e que um deus no céu é um homem imortal. Todas as coisas então, são administradas através destes dois, o Kosmos e o Homem; mas todas as coisas são governadas apenas por Deus. Livro: Hermética (atribuído à Hermes Trimegistus), Shambala 1993 Tradutores: Walter Scott (inglês) / NoKhooja (português
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------------------------------------------------------------ De: Andre Vieira dos Reis Para: Seitas_Secretas@yahoogrupos.com.br Data: Fri, 17 Nov 2006 23:04:39 -0300 (ART) Assunto: ENC: [mitos_e_deuses] Hermeticismo
Fusão da religião grega com a antiga religião do Egito, as crenças do hermeticismo estavam contidas em um corpo de textos conhecido como Corpus Hermeticum . Essa obra, de autor desconhecido, recebeu esse nome devido ao personagem principal, Hermes Trimegisto (Hermes, o Três Vezes Grande). Alguns ocultistas alegavam que o autor era o próprio Trimegisto, um sábio egípcio que viveu no tempo dos faraós e foi contemporâneo de Moisés. Outros o associaram ao deus grego Hermes, cujo equivalente egípcio, Toth, era o escriba dos deuses e senhor dos livros sagrados. O Corpus Hermeticum é apresentado na forma de diálogos entre Trimegisto, Toth e diversas outras deidades egípcias, inclusive Ísis. Os estudiosos salientam que pouca coisa do texto é de fato original; na verdade, grande parte da visão do mundo dos herméticos é baseada na filosofia de Platão. Os herméticos viam o mundo em termos de luz e trevas, bem e mal, espírito e matéria. Do mesmo modo que seus contemporâneos, os gnósticos, os praticantes pregavam um dualismo mente-corpo, e a salvação através da possessão do conhecimento verdadeiro e divino. Da quantidade colossal de obras escritas atribuídas a Hermes Trimegisto não foram muitas as que sobreviveram, para além de quatorze breves textos escritos em grego e uma série de fragmentos preservados por autores cristãos. Tais obras exprimem noções místicas e filosóficas próprias desta época primitiva. A mais conhecida dentre elas intitula-se Poimandres , o Bom Pastor, da qual alguns passos apresentam uma semelhança notável com o Evangelho de São João, enquanto que outros fazem lembrar o Timeu de Platão. Também poderemos vislumbrar nelas reflexos do pensamento judaico, tal como é expresso por Fílon. Além destes escritos, atribuem-se a Trimegisto alguns tratados de magia, cujo tema fulcral é a astrologia e onde a alquimia é tratada de um modo um tanto ou quanto vago. Os livros herméticos foram considerados pelos alquimistas como um legado que Hermes lhes fez dos segredos que estavam dissimulados em alegorias, a fim de que a preciosa sabedoria não fosse cair em mãos profanas. Somente os sábios eram capazes de se orientar neste labirinto místico. O passo de Hermes mais freqüentemente citado, o credo dos adeptos, era a inscrição descoberta numa placa de esmeralda ”nas mãos da múmia de Hermes, num fosso recôndito, onde jazia o seu corpo enterrado”,situado segundo a tradição, na grande pirâmide de Gizé. O documento tem o nome de “Placa de Esmeralda” e está por demais intimamente relacionado com a alquimia para não o reproduzirmos na íntegra: “ É verdade, sem falsidade e extremamente real: aquilo que está no alto é igual àquilo que está em baixo, para perpetrar os milagres de uma coisa. E, como todas as coisas derivaram de uma, pelo pensamento de uma, assim todas as coisas nascem desta coisa, por adoção. O sol é o seu pai, a lua é a sua mãe. O vento trouxe-a no seu ventre, a terra é a sua arma. Eis o pai de toda a perfeição do mundo. A sua força e poder são absolutos quando transformados em terra: tu separarás a terra do fogo, o sutil do grosseiro, suavemente e com cuidado. Ela ascende da terra até ao céu e desce de novo à terra para receber o poder das coisas superiores e inferiores. Por este meio, tu terás a glória do mundo. E, devido a isto, toda a obscuridade fugirá de ti. No interior disto está o poder, o mais poderoso de todos os poderes. Pois ela superará todas as coisas sutis e penetrará todas as coisas sólidas. Assim foi criado o mundo. A partir disto existirão e surgirão adaptações admiráveis cujos meios para atingi-las estão aqui. E, por esta razão, chamo-me Hermes Trimegisto, possuindo as três partes da filosofia do mundo. O que eu disse sobre as operações do sol já se realizou”. Os alquimistas reconheciam nestas alegorias as várias fases do processo de fabricação do ouro, ainda que a ambiguidade dos termos se prestasse a infinitas interpretações A Chave Hermes . O ensinamento que eu apresentei ontem, Asclepius, eu o dediquei a você; e é correto que eu dedique a Tat o que eu vou apresentar hoje; pois este é um resumo dos Discursos Gerais que eu tenho dirigido a ele. Saiba então, Tat, que Deus, o Pai, é da mesma natureza que o Bem; ou melhor, o trabalho de Deus, o Pai, é um com o trabalho do Bem. 'Natureza' é um termo aplicado para nascimento e crescimento, e nascimento e crescimento têm a ver com coisas sujeitas à mudança e movimento; mas o trabalho de Deus tem a ver com coisas livres de mudança e movimento, isto é, com coisas divinas; e é vontade de Deus que o que é humano deva ser divino. Sobre as forças relativas ao trabalho, divino e humano, eu falei em outro lugar; e para lidar com nosso tópico presente, como também com outros assuntos, você deve manter em mente o que eu lhe ensinei relativo a eles. A força com que Deus trabalha é sua vontade; e seu ser consiste em desejar a existência de todas as coisas. O que mais é Deus, o Pai, a não ser o ser de todas as coisas quando ainda elas não são? É isto (a vontade de Deus) que constitui a existência de todas as coisas que são. Tal então é Deus, tal é o Pai. E a ele pertence o Bem; pois o Bem é uma coisa que pode pertencer a ninguém mais a não ser Deus. É verdade que o Kosmos é também pai das coisas que são boas da mesma forma que elas participam do Bem; mas o Kosmos não é, na mesma medida que Deus, o autor do que é bom nas criaturas vivas; pois o Kosmos não é o autor de suas vidas; ou se ele age como um autor da vida, ele o faz tão somente debaixo da compulsão imposta nele pela vontade de Deus, sem a qual nada pode ser ou vir a ser. O Kosmos está para as coisas dentro dele como um pai para suas crianças, e nisto ele é o autor de sua geração e nutrição; mas ele recebeu de Deus sua provisão do bem. É o Bem que é o princípio criativo; e é impossível que o princípio criativo possa ser algo exceto Deus, - Deus, que não recebe nada, mas deseja a existência de todas as coisas. Eu não direi, 'faz todas as coisas'; pois aquele que 'faz' coisas falha na realização desta função durante longos intervalos de tempo, onde ele às vezes faz, e em outros momentos ele não faz. E além disso, aquele que 'faz' coisas faz apenas qualidades e magnitudes; pois ele faz coisas que têm certas magnitudes e qualidades uma vez, e qualidades e magnitudes contrárias em outros momentos. Mas Deus faz através de sua vontade a existência de todas as coisas; e é neste sentido que ele é o Pai de todas as coisas. Pois Deus deseja que as coisas sejam, e deste modo, estas coisas têm também existência. Mas o Bem propriamente dito, meu filho, existe no grau mais alto; pois é por causa do Bem que todas as outras coisas existem. ... Pois é uma propriedade do Bem que ele se torne conhecido por aquele que seja capaz de vê-lo. - Tat . Pai, você me preencheu com esta visão boa e bela; e o olho da minha mente está quase cego pelo esplendor desta visão. - Hermes . Não, a visão do Bem não é uma coisa de fogo, como são os raios do sol; não nos queima nem nos força a fechar os olhos; ele brilha adiante muito ou pouco, de acordo com a capacidade daquele que o olha em receber o influxo do esplendor incorpóreo. É mais penetrante que a luz visível em sua descida para nós; mas ele não pode nos causar dano; ele está repleto de toda vida imortal. Até os que podem absorver um pouco mais que outros daquela visão, são novamente e novamente afundados no sono cego pelo corpo; mas quando eles são liberados do corpo, eles atingem o prazer completo daquela visão mais adorável, como Uranos e Kronos, nossos antepassados, atingiram. - Tat . Poderemos nós também, meu pai, atingir esta visão? - Hermes . Nós poderíamos, meu filho. Mas nesta vida estamos ainda muito fracos para ver aquela visão; nós não temos força para abrir nossos olhos mentais, e ver a beleza do Bem, aquela beleza incorruptível sobre a qual nenhuma língua pode falar. Assim, você só verá isto, quando você não puder falar disto; pois o conhecimento disto é um silêncio profundo, e a supressão de todos os sentidos. Aquele que apreendeu a beleza do Bem não pode apreender nada mais; aquele que a viu, não pode ver nada mais; ele não pode ouvir falar sobre nada mais; ele nem mesmo pode mover seu corpo; ele esquece todas as sensações corporais e todos os movimentos corporais, e está imóvel. Mas a beleza do Bem banha sua mente em luz, e toma toda sua alma para si, e desenha isto adiante do corpo, e muda o homem inteiro em uma substância eterna. Pois não pode ser, meu filho, que uma alma se torne um deus enquanto ela morar em um corpo humano; isto deve ser mudado, e então contemple a beleza do Bem, e com isto, se torne um deus. - Tat . O que você quer dizer, pai, dizendo que a alma 'deve ser mudada'? - Hermes . Toda alma separada, meu filho, passa por muitas mudanças. - Tat . E o que é uma alma separada? - Hermes . Você não me ouviu dizer em meus Discursos Gerais, que todas estas almas que trocam de lugar ao longo do Kosmos são, por assim dizer, cortadas e fracionadas a partir de uma alma, mesmo a alma do universo? Estas almas sofrem muitas mudanças, porque algumas delas passam para um lugar mais feliz, e outros para um lugar pior. Almas de natureza de coisas rastejantes mudam em coisas que moram nas águas; as almas que moram nas águas, em bestas que moram na terra; as almas que moram na terra em pássaros do ar; as almas que voam no ar, em homens. E as almas humanas, quando elas atingiram o início da vida imortal, mudam em daemons, e depois disso passam para a dança coral dos deuses; [Existem dois grupos corais de deuses; um é o dos planetas, e o outro é o das estrelas fixas] isto é o coroamento de glória da alma. Mas se uma alma, quando entrou em um corpo humano, persiste no mal, ela não saboreia o doce da vida imortal, mas é arrastada de volta novamente; ela reverte seu curso, e aceita tomar seu caminho de volta para as coisas que rastejam; e aquela alma desafortunada, tendo falhado em conhecer a si mesma, vive em servidão a corpos rudes e nocivos. Para esta perdição, as almas malignas são condenadas. E o vício da alma é a falta de conhecimento. Uma alma que não ganhou nenhum conhecimento das coisas que são, e nem chegou a conhecer suas naturezas, nem a conhecer o Bem, mas é cega, - tal alma é lançada no meio das paixões que o corpo cria; conduz o corpo como um fardo, e é governada por ele, ao invés de governa-lo. Isto é o vício da alma. Por outro lado, a virtude da alma é o conhecimento. Aquele que obteve conhecimento é bom e piedoso; ele já é divino. - Tat . E quem é tal pessoa, meu pai? - Hermes . Aquele que não fala muitas palavras, nem escuta muitas conversas. Aquele que gasta seu tempo em disputas e em escutar as palavras dos homens, está lutando contra o ar, meu filho; pois o conhecimento de Deus, o Pai, não pode ser ensinado pela fala, nem aprendido pela audição. ... O conhecimento difere muito da percepção dos sentidos. A percepção dos sentidos acontece quando aquilo que é material tem o domínio; e ele usa o corpo como seu órgão, pois ele não pode existir separadamente do corpo. Mas o conhecimento é incorpóreo; o órgão que ele usa é a mente em si; e a mente é contrária ao corpo. Uma alma então, quando ela entrou em um corpo, admite em si mesma ambas as coisas, materiais e da mente. Não pode ser de outra forma; pois todas as coisas devem precisar ser compostas de opostos e contrários. E vendo que isto é assim em todas as coisas que existem,... ( fragmento perdido ) - Tat . O que então devemos pensar sobre este Deus material, o Kosmos? - Hermes . O Kosmos não é realmente mau, mas não é bom, como Deus é; pois ele é material, e sujeito a perturbação. É o primeiro entre todas as coisas que são sujeitas a perturbação, mas o segundo no meio das coisas que são. O Kosmos é também sempre-existente; mas ele existe em processo de tornar-se; está sempre se tornando, nisto as qualidades e magnitudes das coisas estão sempre vindo a ser. Ele está então em movimento; pois todo o tornar-se é movimento materia1. Aquilo que é incorpóreo e imóvel trabalha o movimento material; e ele faz isto do seguinte modo. O Kosmos é uma esfera, quer dizer, uma cabeça; e então, todas as coisas que são unidas à membrana cerebral desta cabeça, - a membrana em que a alma está principalmente colocada, - são imortais, pois elas têm nelas mais alma que corpo; mas as coisas que estão distantes da membrana cerebral são mortais, pois elas têm nelas mais corpo que alma. Deste modo o universo é composto de uma parte que é material e uma parte que é incorpórea; e considerando como o corpo é feito com uma alma nele, o universo é uma criatura viva. O Kosmos é o primeiro entre todas as criaturas vivas; o homem, como uma criatura viva, figura logo depois do Kosmos, e é o primeiro entre aqueles que são mortais. O homem não é somente não-bem; ele é o mal, uma vez que ele é mortal. O Kosmos é não-bem, pois é sujeito a movimento; mas ele é não-mal, pois é imortal. O homem, por outro lado, é ambos: não-bem, por ser sujeito a movimento, e mal, por ser mortal. E a alma do homem é veiculada deste modo. A mente tem como seu veículo a alma; a alma tem por seu veículo o espírito vital; e o espírito vital, atravessando as artérias junto com o sangue, move o corpo, e o carrega como um fardo. Consequentemente, alguns pensaram que a alma é o sangue. Mas aqueles que pensam assim estão enganados sobre sua natureza; eles não sabem que na morte a alma deve deixar o corpo primeiro, e então, quando o espírito vital retirou-se para a atmosfera, o sangue deve coagular ao longo do curso das veias, e deixar as artérias esvaziadas. Isto causa a morte do corpo. Todas as coisas são dependentes de uma primeira causa; e esta primeira causa é dependente do Uno e Único. A primeira causa é movida, de forma que Ele possa vir a ser a primeira causa de todas as coisas; apenas o Uno permanece, e não é movido. Existem estes três então, - Deus, Kosmos e o Homem. O Kosmos é contido por Deus, e o homem é contido pelo Kosmos. O Kosmos é filho de Deus; o homem é filho do Kosmos, e neto, por assim dizer, de Deus. Deus então não ignora o homem, mas o reconhece completamente, e deseja ser reconhecido por ele. E isto, o conhecimento de Deus, é a salvação do homem; isto é a subida para o Olimpo; e através disto apenas pode uma alma se tornar boa. ... e ele nunca permanece bem, mas se torna mal por necessidade. - Tat . O que você quer dizer, pai? - Hermes . Olhe para a alma de uma criança, meu filho, uma alma que ainda não aceitou sua separação de sua fonte; pois seu corpo é ainda pequeno, e ainda não cresceu o bastante para atingir seu tamanho pleno. Como é bela tal alma! Não é ainda enganada pelas paixões corporais; está ainda pouco separada da alma do Kosmos. Mas quando o corpo aumenta seu tamanho, e puxa para baixo a alma, para dentro de sua massa material, isto acarreta o esquecimento; e então a alma separa a si mesma do Belo e do Bem, e não mais participa disto; e através deste esquecimento a alma se torna o mal. Mas quando os homens deixam o corpo, o processo é invertido. A alma ascende para seu lugar próprio, e é separada do espírito vital; e a mente é separada da alma. Assim a mente, que é divina por natureza, é liberada de seus revestimentos; e assume para si mesma um corpo de fogo, e move-se livremente através de todo espaço, conduzindo a alma a ser julgada e castigada de acordo com seu merecimento. - Tat . O que você quer dizer, pai, dizendo que a mente é separada da alma? - Hermes . Meu filho, o estudante devia compartilhar o pensamento de seu professor; ele deve ser mais rápido em sua escuta que o professor em sua fala. É apenas em um corpo terrestre que a mente e a alma são unidas. A mente não pode, desnuda e só, tomar sua morada em um corpo terrestre; um corpo de terra não pode suportar a presença daquele ser poderoso e imortal, nem pode um poder tão grande suportar entrar em contato com um corpo manchado pela paixão. E então a mente toma para si a alma como um manto; a alma, - pois a alma é também em alguma medida divina, - usa como seu manto o espírito vital; e o espírito vital controla o corpo. Pois o espírito vital está envolto no sangue, e a alma no espírito vital. A mente então, quando ela partir do corpo terrestre, veste a si mesma em seguida em sua investidura própria, isto é, uma roupagem de fogo, que ela não pode reter quando toma sua morada no corpo terrestre. Pois a Terra não pode sustentar o fogo; até uma pequena faísca é o bastante para deixar isso tudo em chamas; e é por esta razão que a Terra é cercada pela água, que serve como uma barreira e defesa para protege-la do calor flamejante do fogo. Mas a mente, que é a mais intensa de todas as coisas incorpóreas, tem em seu corpo de fogo, o mais intenso de todos os elementos materiais. A mente é a criadora de coisas, e em fazer as coisas ela usa o fogo como seu instrumento. A mente do universo é a criadora de todas as coisas; mas a mente humana cria apenas coisas terrestres; pois a mente que está no homem está desnudada de sua veste de fogo, e então não pode fazer coisas divinas, sendo somente humana, por causa de seu lugar de morada. Agora a alma humana, - não realmente toda alma humana, mas a alma piedosa, - é demoníaca ( no sentido de daemon - um ser sobrenatural, não necessariamente mau - nota do tradutor ) e divina. E tal alma, quando ela alcançou a devoção, - e isto significa, quando ela conhece Deus, e não foi injusta com homem nenhum, - torna-se mente em todas as partes; e é ordenado que depois que ela deixar o corpo, quando ela se tornar um daemon, ela deve receber um corpo de fogo, de forma que ela possa trabalhar a serviço de Deus. Mas a alma incrédula retém sua próprio substância inalterada; sofre um castigo auto-infligido, e busca um corpo terrestre onde possa entrar. Mas ela pode entrar em um corpo humano somente; pois nenhum outro tipo de corpo pode conter uma alma humana. ( Nota do original em inglês: este trecho coloca-se em oposição com o que foi escrito acima e deve ter sido escrito por outro autor e atribuído também a Hermes ) Não é permitido que uma alma humana deva cair tão baixo para entrar no corpo de um animal irracional; é uma lei de Deus que almas humanas devam ser mantidas protegidas de uma afronta como esta. - Tat . Diga-me então, Pai, como são as almas humanas castigadas! - Hermes . Por que, que castigo maior pode existir, meu filho, que a impiedade? Que fogo queima com uma chama tão feroz quanto a impiedade? Que besta voraz tem tal poder para mutilar o corpo, como a impiedade tem para mutilar a alma! Você não vê que torturas a alma incrédula suporta? Ela grita 'eu estou em chamas, eu estou queimando; eu não sei o que dizer ou o que fazer; miserável eu sou, eu sou devorado pelas misérias que se mantêm em mim.' Não são tais gritos os clamores de uma alma que está sofrendo castigo! Ou você também, meu filho, supõe, como a maioria dos homens faz, que uma alma, quando ela deixa o corpo, entra em uma besta! Isto é um erro muito grande. As almas são castigadas deste modo: a mente, quando ela entra em uma alma incrédula, atormenta-a com os açoites de seus pecados, e por estes açoites é castigada: é impelida para a blasfêmia contra Deus, assassinatos, atrocidades e ações múltiplas de violência pelas quais os homens são injustiçados. Mas quando a mente entra em uma alma piedosa, conduz aquela alma para a luz do conhecimento: e tal alma nunca se cansa de rezar e abençoar a Deus, e fazer todo tipo de bem para todos os homens, através de palavras e ações, em imitação a seu Pai. Então, meu filho, quando você estiver dando graças a Deus, você deve rezar para que a mente atribuída a você seja uma boa mente. Uma alma então pode subir para um grau mais alto de ser, mas não pode submergir para um grau mais baixo. Existe comunhão entre alma e alma. As almas dos deuses estão em comunhão com as dos homens, e as almas dos homens com aquelas das criaturas irracionais. A mais alta tem a mais baixa em seu fardo; deuses cuidam dos homens, e homens cuidam das criaturas irracionais. E Deus cuida de tudo; pois Ele é o mais elevado. O Kosmos então está sujeito a Deus; o homem está sujeito ao Kosmos; as criaturas sem razão estão sujeitas ao homem; e Deus está acima de tudo e vigia tudo. As forças divinas são por assim dizer radiações emitidas por Deus; as forças que trabalham o nascimento e crescimento são radiações emitidas pelo Kosmos; a arte e ofícios são radiações emitidas pelo homem. As forças divinas operam por meio do Kosmos e sua operação alcança o homem por meio das radiações cósmicas às quais o nascimento e crescimento são devidos; e as forças que trabalham o nascimento e crescimento operam por meio dos elementos materiais. Deste modo o universo é administrado. Todas as coisas são dependentes apenas do ser de Deus e são administradas por meio de mente, apenas. Não existe nada mais divino que a mente, nada mais potente em sua operação, nada mais hábil para unir homens aos deuses, e deuses aos homens. A mente é o 'bom daemon'; santificada seja a alma que está preenchida com a mente, e desafortunada é a alma que está destituída dela. - Tat . Novamente eu pergunto a você, pai, o que você quer dizer com isto? - Hermes . Você pensa então, meu filho, que toda alma tem uma mente? [Isto é, a boa mente; pois é da boa mente que eu estou falando agora, e não da mente que eu falei antes, isto é, a mente que é empregada em serviço, e é enviada abaixo por justiça penal.] Geralmente a mente deixa a alma; e nestas ocasiões, a alma não pode nem ver nem ouvir, mas é como um besta destituída de razão. Pois um alma sem mente 'não pode nem dizer nada nem fazer nada'; tão grande é o poder da mente. Nem pode a mente suportar uma alma entorpecida; abandona a alma que está fixada ao corpo, e segura no abraço do corpo. Tal alma, meu filho, não tem nenhuma mente nela; e então tal ser não deve ser julgado um homem. Pois o homem é um ser de natureza divina; ele é comparável, não com as outras criaturas vivas na Terra, mas com os deuses no céu. Não, se nós formos falar a verdade sem medo, aquele que é realmente um homem está acima dos deuses do céu, ou de qualquer modo ele os iguala em poder. Nenhum dos deuses do céu irá jamais deixar o céu, e ultrapassar seu limite, e vir até a Terra; mas o homem ascende até o céu, e o mede; e o que é mais importante, ele vai para o céu sem deixar a Terra; pois para uma distância tão vasta ele pode estender seu poder. Nós não devemos temer, então, dizer que um homem na Terra é um deus mortal, e que um deus no céu é um homem imortal. Todas as coisas então, são administradas através destes dois, o Kosmos e o Homem; mas todas as coisas são governadas apenas por Deus. Livro: Hermética (atribuído à Hermes Trimegistus) , Shambala 1993 Tradutores: Walter Scott (inglês) / NoKhooja (português
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posted by iSygrun Woelundr @ 7:51 da tarde |
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